Há 522 anos, Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil. O objetivo desta viagem era ir à Índia uma 2ª vez, apenas um ano depois de Vasco da Gama ter regressado da famosa 1ª viagem portuguesa à Índia.

Sucede que, no caminho, Pedro Álvares Cabral “achou” o Brasil e após alguns dias de permanência nesta nova terra, o navegador fez-se ao mar em direção à Índia, onde acabou por chegar uns tempos depois, com vários percalços e muitas dificuldades pelo meio.


Vamos por partes!


Porquê uma 2ª viagem à Índia, se Vasco da Gama tinha acabado de regressar da 1ª?


Vasco da Gama chegou a Lisboa no verão de 1499, regressado da viagem em que descobrira o caminho marítimo para a Índia.

Apenas 1 ano depois, em 1500, D. Manuel I enviava nova armada até à Índia. Era necessário encetar definitivamente laços comerciais em Calecute e noutros portos daquela costa indiana. Não convinha deixar passar muito tempo entre o primeiro contacto, feito por Vasco da Gama, e um segundo.

Em 8 meses, a nova frota estava pronta!

Com as indicações detalhadas de Gama acerca da rota e das particularidades das relações comerciais entre indianos e mouros, o rei mandava nova expedição e, desta vez, nomeou Pedro Álvares Cabral para capitão-mor da grande frota.

Estavam reunidas, no entender de D. Manuel I, todas as condições para que esta fosse uma viagem de sucesso e de excelentes resultados. Assim, ordenou que partissem 13 barcos, na sua maioria naus e algumas caravelas.

Partia, pois, uma poderosa armada em direção à Índia… Só que um pequeno desvio na rota levou-os até novas paragens: o Brasil.



Esta viagem destinava-se à Índia com o objetivo de estabelecer contactos definitivos com os chefes indianos que detinham fortes laços comerciais com mercadores muçulmanos. Estes eram donos e senhores de todo o comércio vindo do oriente até à Índia. A coroa portuguesa queria-o para si!

Por esta razão, apenas 8 meses depois da chegada de Vasco da Gama a Lisboa, acabado de descobrir o caminho marítimo para a Índia, resolveu o rei expedir de imediato uma grande armada para que os negócios das especiarias, das pedras preciosas e do ouro viessem para as mãos dos portugueses.

A bordo seguia um forte carregamento de mercadorias para serem trocadas na Índia a fim de se dar começo ao comércio regular com os Samorins indianos, afastando de vez os concorrentes muçulmanos.


Um desvio na rota levou a armada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil.


Importa dizer que há quem suponha que a coroa sabia, desde o tempo de D. João II, da possível existência de terras naquela zona e que se terá mantido em silêncio e aguardado pela decisão do tratado de Tordesilhas para que, realmente, a pudesse tomar e dar o seu achamento como oficial.


Verdade ou não, acaso ou certeza, o Brasil é achado em 1500.



Quem fez esta viagem com Pedro Álvares Cabral?


Para além do capitão-mor, Pedro Álvares Cabral, que era membro da nobreza, partiram navegadores de renome como Bartolomeu Dias, que dobrara o Cabo da Boa Esperança em 1488, 12 anos antes, e também Nicolau Coelho, um dos capitães que acompanhara Vasco da Gama na descoberta do caminho marítimo para a Índia.

Ávares Cabral levava consigo cerca de 1 500 homens, ao todo, entre marinheiros, soldados, pilotos, grumetes, degredados, clero e até o cirurgião do rei. Nas várias embarcações seguiam igualmente, como era hábito, alguns escrivães, mas foi pela mão de Pêro Vaz de Caminha, cuja carta ("Carta de Achamento do Brasil") chegou até aos nossos dias, que podemos saber tudo o que se passou nos dias do espantoso achamento do Brasil.



A partida de Lisboa



No dia 9 de março de 1500, uma impressionante frota de 13 naus e caravelas, partiu do Tejo com destino à Índia!

Avistaram Cabo Verde a 22 de março. No dia seguinte, dia 23, a armada deu por falta de um dos barcos que se terá perdido inexplicavelmente. Sem tempestade, nevoeiro, incêndio ou pedido de ajuda, a nau capitaneada por Vasco de Ataíde, foi engolida pelo mar. As tentativas de a encontrar revelaram-se infrutíferas pois nem um sinal dela acharam.

Reabasteceram na ilha de S. Nicolau, em Cabo Verde, e seguiram caminho. Eram agora 12 embarcações.



A chegada ao Brasil



No dia 21 de abril, cerca de 1 mês e meio depois da partida de Lisboa, os navegadores avistaram nas águas um tipo de algas que não é próprio do mar alto, o que indiciava que se aproximavam de terra.

Um dia depois, a 22 de abril, vislumbraram uma colina a que chamaram Monte Pascoal por se encontrarem na Páscoa. Ancoraram primeiro ao largo e decidiram depois ir a terra num batel, dia 25 de abril, um sábado, com Nicolau Coelho a bordo. Foram muito bem recebidos pelos nativos, os índios tupiniquins, a quem ofereceram alguns presentes.

Supuseram ser uma ilha mas era bem mais do que isso, era um novo continente!

Os navegadores colocaram uma cruz na praia, cravaram na areia a bandeira da Ordem de Cristo e celebraram missa.

Os índios chamavam Pindorama à sua terra. Para nós veio a ser Terra ou lha de Vera Cruz, “vera” de verdadeira. Também se lhe chamou Terra de Santa Cruz. O nome Brasil surgiu mais tarde e derivou de pau-brasil, o nome dado a uma árvore (aributã ou pau-de-tinta) cuja resina de cor avermelhada (cor de brasa) era utilizada na tinturaria de têxteis.

Estava achado o Brasil, pelos portugueses.

Demos a este local, onde os portugueses pisaram pela primeira vez o Brasil, o nome de Porto Seguro. Situa-se no sul do atual estado da Baía e é assim, nos dias de hoje.



Do Brasil segue viagem para a Índia, o seu objetivo principal


Após 8 dias de permanência, era hora de voltar ao mar e rumar em direção à Índia, já que este era afinal o destino da viagem de Pedro Álvares Cabral.

O que fazer com o achamento desta terra exótica de gente tão afável, papagaios e araras? Decidiram, então, deixar dois condenados, como era costume, com a incumbência de aprender a língua dos índios, perceber os seus costumes e todas as informações relevantes sobre o novo local descoberto. Se sobrevivessem, teriam de facultar todas os dados recolhidos aos próximos portugueses que ali chegassem.

Resolveram ainda enviar uma nau de volta a Lisboa, comandada por Gaspar de Lemos onde também seguia Pêro Vaz de Caminha com a sua carta do Achamento do Brasil, para dar a notícia da descoberta ao rei D. Manuel I.

Eram agora 11 embarcações.

Zarparam de Porto Seguro dia 2 de maio de 1500 e tomaram a rota indicada por Vasco da Gama para atingirem o Cabo da Boa Esperança.

Aqui, na passagem, a armada foi acometida por uma violenta tempestade naufragando 4 naus. Uma delas, comandada por Bartolomeu Dias, o capitão que dobrara este mesmo cabo, 12 anos antes em 1488, e que nele perdia, agora, a vida.



Eram, daqui em diante, aparentemente 7 barcos.


Com a armada totalmente dispersa, após a tempestade, reuniram-se de novo todos, dia 15 de julho, em Sofala.

Cabral percebeu, aqui, que na realidade sobravam apenas 6 embarcações.

A que faltava, capitaneado por Diogo Dias, irmão de Bartolomeu, escapou da tempestade, sem que os restantes percebessem, e navegou solitária pelo “golfão” do mar índico sem nunca se encontrar com a armada a que pertencia, parando em vários locais e perdendo a tripulação em emboscadas e traições.

Somente na viagem de regresso a Lisboa se reencontrou com o que, então, sobrava da armada de Pedro Álvares Cabral.


Diogo Dias, porém, com a tempestade no Cabo da Boa Esperança, foi arrastado para sul e ao rumar de novo para norte, veio a descobrir uma ilha enorme, que julgou ser a costa oriental africana. Mas não era! Chamou-lhe ilha de S. Lourenço, hoje, Madagáscar.

Eram, portanto, 6 as embarcações que Pedro Álvares Cabral comandava agora.


De Sofala rumaram para norte e atingiram Quíloa. Daqui seguiram para Melinde e chegaram a Calecut.

Nas águas do índico foram vários os ataques, ardis e estratagemas contra os navegadores quer no mar, quer em terra. Depois de bombardear e arrasar Calecut, a armada de Cabral chegou a Cochim e depois a Cananor e Coulão, onde finalmente se puderam estabelecer alguns contactos pacíficos com vista a concretizar, daqui em diante, laços de comércio definitivos.


E foi, então, que o capitão-mor determinou por fim regressar a Lisboa.



O regresso a Lisboa


Na torna-viagem, naufragou mais uma embarcação mas a tripulação foi salva. Passaram a 5 embarcações e ao reencontrarem a nau perdida de Diogo Dias, voltaram a ser 6.

No dia 23 de julho de 1501, Pedro Álvares Cabral entrou no Tejo com apenas 3 barcos. No dia seguinte, chegaram outros 2 e só no início de setembro, arrimou a nau de Diogo Dias que mais uma vez se perdera!

Em Lisboa, o acolhimento da armada, reduzida a menos de metade em embarcações e homens, foi frio.

A expedição de Pedro Álvares Cabral foi tida como um fracasso. A perda de demasiados barcos, o fiasco em Calecut – cidade considerada importante para que o comércio vingasse – e a descoberta do Brasil não convenceram o exigente D. Manuel I. Só muito tempo depois, quando o Brasil começou a dar lucros, se veio a provar que o Brasil, afinal, fora uma grande descoberta.

A partir desta viagem, onde também se achou o Brasil, a carreira comercial da Índia estava instituída e muitas se seguiram a esta.

A próxima foi logo em 1502, de novo com Vasco da Gama aos comandos. Depois da expedição de Pedro Álvares Cabral, não era só na Índia que os portugueses tinham negócios, mas também, na costa oriental africana.



Até quando pertenceu o Brasil à coroa de Portugal?


Até 1825.

Ao fim de 322 anos como colónica portuguesa, a 7 de setembro de 1822, o famoso Grito do Ipiranga, clamado nas margens do riacho Ipiranga (atual cidade de São Paulo), iniciou o processo de independência do Brasil.


Conta-se que, neste dia, o príncipe D. Pedro passava junto ao ribeiro do Ipiranga, juntamente com os seus companheiros e guardas, quando recebeu notícias de Lisboa que não lhe agradaram nada e nessa altura terá gritado “independência ou morte”. Este grito e esta data marcaram a independência do Brasil.


Indo um pouco atrás: em 1820, a corte, instalada no Brasil desde 1807, regressou definitivamente a Lisboa. O rei D. João VI, de partida para Portugal, deixou o Brasil sob a regência de D. Pedro, seu filho mais velho.


A 12 de outubro de 1822, o príncipe D. Pedro foi proclamado Imperador e o Brasil elevado a Império.

Nesta altura estalou a guerra. Após 3 anos de lutas intensas, Portugal reconheceu, por fim, a independência do Brasil, num tratado assinado a 29 de agosto de 1825.

O Brasil tornou-se independente de Portugal mas D. Pedro permaneceu o seu imperador.


A 7 de abril de 1831, D. Pedro partiu para Lisboa a fim de lutar pela coroa da sua filha, futura rainha D. Maria II e abdicou, por isto, do Império do Brasil a favor do seu filho de 5 anos, D. Pedro II. Este vem a tornar-se imperador do Brasil, em 1840, com 14 anos.

De 1831 a 1840, durante a menoridade de D. Pedo II, sucederam-se 4 regências no Brasil.


A 15 de novembro de 1889, a monarquia foi derrubada por um golpe militar e a família imperial banida, tornando-se, desta forma, uma república, até aos dias de hoje.




Algumas curiosidades


1. Antes da chegada dos portugueses, as tribos, todas juntas, somavam entre 2 a 3 milhões de pessoas. Portugal tinha, na altura 1 milhão de habitantes.


2. Os condenados, degredados e presos trocavam as suas penas pela partida nas naus. Mas o seu destino não era, na maioria dos casos, melhor do que as punições a que foram condenados. Eram os primeiros a ir a terra e eram também estes que ficavam sós em locais perfeitamente desconhecidos e estranhos. Por um lado, para que, nas várias zonas, ficasse uma presença portuguesa marcando terreno e, por outro, para que aprendessem a língua dos nativos, os seus hábitos e costumes. A maioria sucumbiu inevitavelmente. Há, porém, algumas histórias bem-sucedidas.


3. Em 1514, os portugueses notaram, pela primeira vez, que os índios usavam adornos em ouro.


4. Os primeiros colonos encontraram papagaios e araras dos mais variados feitios e cores e chegaram mesmo a chamar ao Brasil a “terra dos papagaios”. Depararam-se também com muitos animais estranhos como o tapir, a capivara, o tatu e o papa-formigas e vários animais ferozes: anacondas, onças, jacarés e rios cheios de piranhas.


5. Após esta viagem de Pedro Álvares Cabral, instituiu-se a carreira da Índia e passaram a efetuar-se negócios também na costa oriental africana. Aqui, havia zonas onde se fazia a “troca muda”. Os nativos pousavam os produtos que queriam comerciar e afastavam-se. Os portugueses avançavam e punham ao lado, os seus artigos. Depois, se os primeiros voltassem, significava que estavam satisfeitos e que o negócio se dava. Também desta forma se efetuava a troca a crédito, ou seja, os portugueses colocavam os seus produtos e só depois de os verem é que os nativos partiam em busca dos artigos para negociar.


6. Os bandeirantes levavam meses, por vezes mais de um ano em explorações. Quando queriam permanecer algum tempo no mesmo local, antes de prosseguiram a expedição, erguiam cabanas, desbravavam a floresta nas imediações, cultivavam e por ali viviam, algum tempo. A estes locais davam o nome de “arraial”.