Para recriar o transporte de gelo da Serra da Estrela para Lisboa, o Clube Escape Livre e a Marinha do Tejo contam com 2 Toyota Hylux e alguns aventureiros que fizeram o caminho que os neveiros faziam com a ajuda de burros e de barcos da Marinha do Tejo.


Pudeste acompanhar toda a aventura nas redes sociais da RFM e nas da Ana Colaço, a neveira-mor da RFM que acompanhou a viagem da neve.


Esta quinta feira fez Manteigas - Constância - Casa de Cadaval - Alcochete... sexta feira entrou no varino "O boa viagem" no cais da Moita e chegou ao Terreiro do Paço para entregar a neve ao Martinho da Arcada, (antigo Martinho das Neves) e na Praça do Município.


Vê aqui a entrega do gelo ao contratador já no Terreiro do Paço em Lisboa



Ainda durante a viagem entre Moita e o Terreiro do Paço no varino "O Boa Viagem", o mestre João Gregório explicou a diferença de ventos e como se classificam os ventos do Tejo, que nos serviu de estrada para chegarmos a bom porto.



A viagem começou na quinta feira de manhã no Covão da Ametade, a cerca de 5 kms de Manteigas, num sítio escuro no meio da serra. Foi lá que fomos buscar vários blocos de gelo para levar para Lisboa, tal como faziam há mais de 400 anos, os neveiros da corte filipina.



De Manteigas até à Moita, passámos por Constância e pelo Castelo de Amourol.


Se tiessemos feito a viagem de burro, e entrássemos onde os neveiros entravam, por esta altura já estariamos no Tejo, porque os neveiros reais tanto entravam no Rio Zêzere, como mais a sul no rio Tejo.


No final do dia chegámos a Alcochete, onde pernoitámos e descansámos para a viagem do dia seguinte. Moita - Terreiro do Paço



Já pensaste como é que os nossos antepassados comiam um simples gelado? Ou refrescavam bebidas sem a existência de congeladores ou arcas frigoríficas? Ou boas estradas nem carros para transportar o gelo?


Apesar de parecer complexo, aos dias de hoje, a história é simples de se contar. Há mais de 400 anos, a neve era cortada na Serra da Estrela e depositada em “geleiras”, que eram buracos ou poços onde não chegava o sol, para depois ser transportada para a capital. A neve seguia em burros e carroso de bois até Vila Velha de Rodão, ou outras portas do Tejo, e, a partir dali, era transportada de barco para Lisboa. Por fim, o Rei recebia-a, para que pudesse refrescar bebidas e comer gelados nos meses mais quentes do ano. A neve era também distribuída aos almocreves - os indivíduos que a transportavam até aos portos do Tejo - para que os comerciantes a vendessem como gelado também aos lisboetas.


Todos os anos, eram transportados para Lisboa entre 450 a 600 quilos, por dia, entre os meses de maio e setembro, para sua majestade “tomar neve”, ou seja, derreter a neve e beber a água fresca ou juntar-lhe frutas para fazer sorvetes numa máquina onde se tinha de dar à manivela durante 4 horas.



Agora, 400 anos depois, estamos a recuperar a tradição. O Clube Escape Livre e a Marinha do Tejo estão a trazer neve da Serra da Estrela até Lisboa, a bordo de Toyotas Hilux e dos barcos da Marinha do Tejo, até ao Cais das Colunas, para os antigos armazéns de neve do Martinho da Arcada (antigo Martilho das Neves)