É um murro no estômago. Assistir à entrevista de Matay ao Daniel Oliveira, no programa "Alta Definição", despertou e alertou para a realidade racista que muitas pessoas ainda enfrentam e vivem.


O testemunho foi contado na primeira pessoa na entrevista que aconteceu este sábado, na SIC, onde o cantor recordou memórias de infância e de adolescência, a família e os momentos que o marcaram para sempre. Entre eles, estão situações em que o racismo esteve presente e que Matay se perguntou, muitas vezes, o que fez para merecer a discriminação de que já foi alvo.


Durante uma saída à noite, Matay contou que a polícia o abordou a ele e aos amigos com quem estava, que eram "quatro pretos e um branco". A polícia mandou-os encostar à parede, uma vez que, alegadamente, se enquadravam "na descrição do grupo para o qual eles estavam ali. E ao branco que estava connosco, disseram-lhe que ele podia ir para casa. Questionei porque ele estava connosco, era nosso amigo, vai para casa porquê? (...) Pediram-nos para ficarmos voltados para a parede. Eu não me virei para a parede, isso não. (...) Recusei-me. (...) O que é que fiz para merecer isto? Fomos identificados e fomos embora sem nenhuma explicação. E aí eu já era adulto. (…) Não se faz. E isto foi aqui, cá em Portugal".


Outro dos momentos que marcaram Matay foi um dia em que um dos seus irmãos "estava a brincar na rua e houve uma mãe de um miúdo que da janela disse: ‘Então estás a brincar com esse preto’". O cantor de 34 anos continuou e contou que, várias vezes, estava sentado no autocarro e foi abordado por "alguém que dizia que eu tinha de me levantar. Nunca fui pessoa de aceitar abusos".


Apesar de esta ser uma luta "não só exterior, mas também interior", Matay disse que precisou de "viver um processo de aceitação", onde percebeu "que não és menos" (...) e "o facto de seres preto não te diminiu em nada". No entanto, o cantor voltou a sentir um murro no estômago quando, há algum tempo, o seu filho chegou da escola e lhe disse "eu não quero ser mais preto". Questionou-se, muitas vezes, sobre "Porque é que um miúdo aos cinco anos percebe que há um problema?" e lembrou ao seu filho que "não há mal nenhum em ser preto".



Perante a conversa emotiva, muitos portugueses acorreram às redes sociais de Daniel Oliveira e de Matay para elogiar o testemunho. Muitos utilizadores das redes sociais destacaram a "excelente entrevista", "Só conhecia o cantor, adorei o homem", "Das melhores entrevistas... Passou mensagens muito importantes" e a forma como Daniel Oliveira soube "explorar os silêncios e fazer brotar as palavras que o entrevistado nem pensou dizer".