Houve um tempo em que andar de cabeça baixa era sinónimo de tristeza. Hoje também, mas é mais provável que seja por causa do smartphone. Não é novidade para ninguém. Em transportes públicos, cafés, museus, e até em casa, há sempre alguém de cabeça baixa a olhar para um ecrã.

O que é novo é um conjunto de conclusões a que se começa a chegar pelo uso intensivo de smartphones e tablets.

Um estudo científico, publicado no Preventive Medicine Reports, conclui sobre o impacto negativo que a utilização de smartphones e tablets tem em crianças desde os dois anos.

As crianças e os adolescentes que utilizam intensivamente smartphones e tablets apresentam menor curiosidade, menor autocontrole e menor estabilidade emocional, o que pode levar a um aumento do risco de ansiedade e depressão, afirma o estudo publicado na revista Preventive Medicine Reports.

Os investigadores descobriram que os adolescentes com idade entre 14 e 17 anos correm mais risco de ter tais efeitos adversos, pela utilização intensiva que fazem de smartphones e tablets, mas notaram também dados preocupantes entre crianças e bebês mais novos, cujos cérebros ainda estão em desenvolvimento.

A influência negativa dos smartphones também se verifica junto dos estudantes universitários. Daniel le Roux e Douglas Perry, da Universidade Stellenbosch, concluem que apesar “dos dispositivos digitais cada vez mais inteligentes tornarem muitos aspetos de nossas vidas mais fáceis e eficientes, um corpo crescente de evidência sugere que, ao nos distrair continuamente, prejudicam a nossa capacidade de concentração”.

A maior parte de nós, mesmo aqueles que não são nativos digitais, considera-se capaz de consultar o seu telemóvel, no meio de uma reunião ou de uma aula, e garante que segue o tema com atenção. Somos todos multitasking, não é?



Não é isso que concluem os investigadores da Universidade de Stellenbosch. Na verdade, é o contrário. Quando os alunos usam seus smartphones durante as palestras, fazem isso para se comunicar com amigos, participar de redes sociais, assistir a vídeos do YouTube ou simplesmente navegar pela Web para seguir seus interesses.

Este tipo de comportamento é problemático ao nível cognitivo e de comportamento de aprendizagem. Os investigadores da Universidade de Stellenbosch apontam duas razões para ser assim.

A primeira é que, quando nos envolvemos em multitarefas, o nosso desempenho na tarefa principal é prejudicado. A compreensão do conteúdo de uma aula torna-se mais difícil quando se dá atenção ao smartphone a cada cinco minutos. Um forte conjunto de evidência cientifica corrobora isto mesmo, mostrando que o uso da smartphones durante aulas ou palestras está associado ao baixo desempenho académico.

O mesmo é válido para reuniões de trabalho.

A segunda razão é que a utilização de telemóveis durante as aulas prejudica a capacidade dos estudantes se concentrarem em qualquer coisa em particular por um longo período de tempo. Ler um livro, por exemplo, torna-se uma tarefa quase impossível.

Os estudantes acostumam-se a mudar para fluxos alternativos de estímulos em intervalos cada vez mais curtos. No momento em que a aula se torna mais densa ou exige atenção focada por um período de tempo maior, os smartphones são o ponto de fuga.

A conscientização dessa tendência tem levado alguns professores, mesmo em universidades de ponta como o MIT, a declararem suas aulas “livres de dispositivos”, na tentativa de cultivar envolvimento, atenção e, em última análise, permitir aos seus alunos desenvolver o raciocínio crítico.

Seja na forma de pensar, na maneira como nos relacionamos ou como compramos coisas, os smartphones vieram para mudar o mundo.