O título sensacionalista é de uma notícia da versão em português (Brasil) do jornal espanhol El Pais. Baseia-se numa análise da taxa de crescimento da população portuguesa que, desde 2010, apresenta anualmente uma variação negativa. Isto é, morrem mais portugueses do que aqueles que nascem.

Até aqui nada de substancialmente novo. Embora pouco, de vez em quando, fala-se na taxa de natalidade portuguesa, uma das mais baixas do mundo inteiro. Por exemplo, segundo dados do INE, em 2017, houve 86 mil nascimentos e 110 mil mortes. É a partir daqui que a notícia do El Pais avança para a conclusão de que os portugueses estão em linha de extinção.

Vamos lá ultrapassar o facto de que a notícia foi dada por um jornal espanhol, que existe uma histórica rivalidade entre vizinhos e que, naturalmente, hoje anda tudo à procura de cliques na Internet, e olhemos para os números.

De uma forma demasiado simplista e apenas para exercício académico (Calma!!! Se fosse um exercício académico a sério tínhamos que brincar com uma ARMA… ou uma ARIMA), tomemos a diferença entre os nascimentos e mortes em 2017. A diferença é de 26 mil pessoas. Ora se esta taxa se mantivesse imutável no tempo, seriam necessários quatro séculos para que os portugueses se extinguissem: - 24.000 pessoas por ano x 428 anos = - 10.275.000. Pronto, lá para o ano 2419, acabavam-se os portugueses.

Mas toda a gente sabe que as coisas não são assim. Logo à partida porque a progressão da população não é linear. Os números de nascimentos e mortes variam anualmente e uma projeção do crescimento da população tem que ser feita com recurso a métodos mais sofisticados – por exemplo, as famosas ARMA e ARIMA. Depois, porque a taxa de crescimento da população leva em linha de conta o número de imigrantes, o que vem baralhar as contas – mas pode ajudar um país nestas circunstâncias. Mas também porque existem inúmeros fatores, sociais, políticos e económicos, que contribuem para este crescimento. Toda a gente sabe isso.

Em todo o caso, desde 2011 que a taxa de crescimento natural da população portuguesa é negativa e 2017, com -0,23%, está muito longe dos valores de crescimento natural (nascimentos – mortes) que se verificavam até aos anos 1970 – entre os 7% (1979) e os 9,9% (1970).

Embora seja difícil de acreditar que os portugueses se extingam, neste século ou nos seguintes, os números são sérios. Toda a gente sabe, também, que conduzem a um envelhecimento da população e, nem que seja numa perspetiva puramente egoísta, levantam a questão de quem paga as reformas de tantos idosos. Mas os números são sérios porque, em larga medida, representam que a natalidade, que é simplesmente espetacular, está atrás de muitas outras prioridades nos nossos dias.





Embora seja difícil de acreditar que os portugueses se extingam, neste século ou nos seguintes, os números são sérios. Toda a gente sabe, também, que conduzem a um envelhecimento da população e, nem que seja numa perspetiva puramente egoísta, levantam a questão de quem paga as reformas de tantos idosos. Mas os números são sérios porque, em larga medida, representam que a natalidade, que é simplesmente espetacular, está atrás de muitas outras prioridades nos nossos dias. Vamos encher Portugal de bebés?