Pode até parecer estranho, mas já existe um sindicato de YouTubers. Foi criado em março, na Alemanha, por Jorg Sprave, um youtuber seguido por mais de 2 milhões de utilizadores que veem semanalmente os seus vídeos.

Ele há gente para ver tudo e quem acompanha o canal de Sprave no Youtube, The Slingshot Channel, vê-o a testar as mais estranhas fisgas que constrói. Por exemplo, no vídeo abaixo, que conta com quase 4 milhões de vidualizações, Sprave demonstra como transformou lápis do IKEA em temíveis armas.

Apesar das boas intenções de Sprave, entre as quais está exigir ao Youtube transparência nas relações com os seus produtores de conteúdos, vulgo Youtubers, o sindicato parecia estar fadado ao insucesso. Afinal de contas, os youtubers vêm-se mais como artistas criadores independentes do que como trabalhadores assalariados, ou seja, como o sindicalizado típico.

Mas agora Sprave, que ficará para a História como o primeiro líder sindicalista youtuber, veio anunciar ao mundo que juntou forças com o IG Metall (Industriegewerkschaft Metall), o maior sindicato metalúrgico do mundo, filiado na DGB, (Deutscher Gewerkschaftsbund), a maior central sindical do mundo.

Ficaste perplexo com esta ligação entre youtubers e metalúrgicos? Calma, nós também, mas tudo se explica. O IG Metall modernizou-se, alargou o seu âmbito e hoje representa também os interesses de crowd workers – em poucas palavras, todas as pessoas que encontram trabalho através de uma plataforma digital, por exemplo, motoristas da UBER.

Por isso, como explica Sprave no vídeo que publicou recentemente no Youtube (sim, no Youtube…), faz todo o sentido que o seu sindicato se junte à IG Metall.

Juntos lançaram uma campanha pela justiça e transparência para todos os criadores do de conteúdos do YouTube – a FairTube - e exigem à plataforma de vídeos que entre em negociações com eles até ao dia 23 de agosto.

Este movimento de Sprave tem um contexto. Nos últimos anos, muitos criadores de conteúdos do YouTube têm criticado as mudanças que a plataforma tem operado sem serem consultados e que afetam a sua capacidade de ganhar dinheiro.

Sprave, que já teve vídeos apagados, denuncia que a plataforma tem vindo a apagar ou censurar conteúdos de muitos pequenos youtubers que, diz, são a razão do sucesso do YouTube. Nas suas palavras, para além de alterar arbitrariamente a forma como os vídeos são monetizados, estas ações têm impacto direto na vida dos produtores. “There is no job security”, afirma o sindicalista youtuber.

Embora os youtubers se gostem de ver como criadores de conteúdos independentes, num certo sentido, Sprave está a ver o YouTube como um grande empregador e os youtubers como empregados que se podem associar para defender a sua classe…

Isto é tudo muito bonito, mas a grande questão agora é saber se o movimento iniciado por Sprave tem ou não sucesso.

Como diz Max Reed na New Yorker, antes de questões filosóficas, que permitem a qualquer bom estudante de Marx ver os youtubers como o novo operariado do século XXI, há obstáculos claros e difíceis de se ultrapassar. Logo à partida porque os youtubers são uma força de trabalho (só para continuar com a mesma linguagem) espalhada pelo mundo inteiro, em países com regimes laborais muito diferentes e que raramente se envolvem no tipo de interações, face a face, que permitem o desenvolvimento de coesão interna e consciência de classe. Por falar nisto, basta pensar no que pode unir Wuant a Mafalda Sampaio e a Jorg Sprave.

Seja como for, os dados estão lançados, que é como quem diz, está aí o sindicato dos youtubers.