Impossíveis de ignorar, polémicas, práticas, as trotinetes elétricas estão a invadir as nossas cidades a um ritmo muito mais acelerado do que aquele a que circulam. Só em Lisboa, já operam nove empresas diferentes – Lime, Bungo, Hive, Iomo, Voi, Tier, Flash, Wind e, a última a chegar ao mercado, Bird.

Independentemente da opinião que cada um de nós tem sobre as trotinetes elétricas, é inegável que estão a agitar a mobilidade urbana e são a prova de que “the next big thing” muitas vezes vem de onde menos se espera. Enquanto meio de mobilidade, já existem há mais de 100 anos, como prova esta imagem da sufragista inglesa Florence Norman, a deslocar-se para o trabalho, em 1916, na trotinete elétrica oferecida pelo seu marido, Sir Henry Norman.



Ainda assim, só nós últimos meses é que as nossas cidades foram invadidas por este meio de transporte. O seu rápido crescimento está essencialmente assente em três promessas. É um meio de transporte barato, conveniente e ecológico. Dependendo da operadora, uma viagem de 10 minutos custa aproximadamente 1,5 euros. São fáceis de encontrar porque há trotinetes espalhadas por toda a cidade e, como são elétricas, são amigas do ambiente.

Se os dois primeiros argumentos não oferecem grandes dúvidas – o preço é fácil de comprovar e o número de trotinetes a circular pela cidade é uma das causas da polémica –, já a questão de serem amigas do ambiente é mais complexa.

Se a Bird, por exemplo, apregoa no seu site que podemos “cruise past traffic and cut back on CO2 emissions — one ride at a time” e a Lime garante que quer “leave future generations with a cleaner, healthier planet”, um estudo publicado neste mês de Agosto por investigadores da North Caroline State University, conclui que não é bem assim.

Hollingsworth, Copeland e Johnson planearam o seu estudo de modo a fazer uma avaliação completa do ciclo de vida de uma trotinete elétrica, registando todas as emissões produzidas pela fabricação, transporte, cobrança, recolha e desmontagem, depois de um deles ter lido num recibo da Lime que “a sua viagem foi isenta de emissores de carbono”.


O estudo conclui que as trotinetes elétricas produzem mais emissões de gases que provocam o efeito estufa por quilometro do que um autocarro a diesel, cheio de passageiros, uma bicicleta elétrica, uma bicicleta ou, evidentemente, uma caminhada.

O estudo concluiu que a trotinete elétrica emite cerca de metade das emissões produzidas por um automóvel. O que é curioso é que apenas 34% dos utilizadores teria feito o percurso de carro. Cerca de metade teria feito o mesmo percurso a pé ou de bicicleta e 7% não chegaria mesmo sair do mesmo sítio.

Visto de outra forma, concluem os investigadores, em cerca de 2/3 do tempo, as trotinetes elétricas emitem mais gases que provocam o efeito estufa do que as suas alternativas. E estas emissões são superiores às que deixam de ser emitidas pelas viagens de automóvel que se deixam de fazer, conclui-se no paper.

O estudo científico leva também em linha de conta o número de anos de vida útil destas trotinetes. Embora estes veículos tenham uma vida operacional teórica útil de cerca de dois anos, muitas delas acabam por terminar o serviço antes desse período, fruto de má utilização ou mesmo de vandalismo.

O problema do vandalismo é tão grande que as plataformas de partilha de trotinetes e a Câmara Municipal de Lisboa (CML) têm realizado diversas reuniões para tentar diminuir os casos de vandalização dos equipamentos, tendo inclusivamente sido criadas patrulhas de apoio.

Joana Pereira Correia, responsável pela Hive em Portugal, disse à Renascença que, desde o lançamento da sua plataforma em Novembro de 2018, tem havido um aumento do número de casos de vandalismo contra trotinetes. Pelo menos uma todos os dias, afirmou.

O estudo aponta alguns caminhos para tornar as trotinetes elétricas mais verdes. Aumentar o seu número de anos de vida útil, usar veículos elétricos para recolha das trotinetes, apenas recolher as trotinetes com níveis de bateria baixos, estão entre as sugestões apontadas no paper.