Pode um vírus fazer mais vítimas do que aquelas que infeta? Pode. E o impacto do coronavírus, Codvir-19, é bem o exemplo disso mesmo. O medo, o preconceito e a desinformação andam sempre de braço dado e, neste caso, têm feito estragos por todo o mundo. Muito para além do número de infetados.

Em Portugal, a comunidade chinesa tem sentido os efeitos colaterais desta crise alavancada por uma larga cobertura mediática. A quebra no número de clientes de estabelecimentos geridos por chineses, em Portugal, já é suficientemente grande para assustar a comunidade.

Na rua, vira-se a cabeça para o lado ou tapa-se a boca de cada vez que lá vem um “chinês” - não importa se é japonês ou coreano. Tem olhos rasgados, basta. Há até quem tenha ido a correr para o hospital porque espirrou depois de ir a uma loja do chinês.

Para travar o preconceito, um grupo de jovens chineses e portugueses de origem chinesa foi, há dias, para a rua. Empunhando cartazes com frases simples e claras, tipo “chinês ≠ vírus” ou “estamos contra o vírus, não contra a China” juntaram-se no Chiado, em Lisboa, para distribuir sorrisos e abraços. Na esperança de eliminar o preconceito. Ainda bem que o fizeram. É difícil não ter medo no meio do turbilhão de notícias que mostram pessoas vestidas com fatos herméticos a tratar de doentes e de imagens que nos chegam nas redes sociais de famílias a serem arrastadas de suas casas, supostamente porque estão contaminadas.



Precisamos de saber do que se está a falar. Toda esta avalanche de notícias sobre a evolução do coronavírus Codvir-19 tem origem na ideia de alguns especialistas de que, uma das maiores ameaças à Humanidade está numa possível pandemia. Um vírus que que se espalhe à escala mundial e dizime uma parte significativa da população mundial. Como o fez a mortífera “gripe espanhola” que, em 1918, dizimou entre 50 a 100 milhões de pessoas no mundo (5% da população mundal).


Felizmente, o potencial pandémico desta versão do coronavirus não se está a verificar. Apesar da sua taxa de mortalidade ser superior à da gripe comum, está muito longe matar como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e as notícias nos faziam temer.


O número de vítimas conhecidas do Codvir-19 está neste momento abaixo das 2000. A taxa de mortalidade é de aproximadamente 2%. Ou seja, 98 em cada 100 pessoas infetadas sobrevive. Dada a evolução dos números de novos casos, é pouco provável que faça o número de vítimas do H1N1 que há 10 anos foi responsável por um número de mortes estimado entre 150.000 e 575.000 pelo Center for Desease Control and Prevention do US Department of Health and Human Services.

Sem a cobertura mediática de outros vírus, a gripe comum é em termos absolutos muito mais mortífera. De acordo com estimativas da OMS, morrem até 650.000 pessoas por complicações decorrentes da gripe comum. Aposto que não fazias ideia disto.


Agora que já conheces estes números, não deixes de entrar na loja ou no restaurante chineses.