É para já uma situação hipotética, mas poderá vir a acontecer, tendo em conta os números de infetados pelo novo coronavírus. Os hospitais desdobram-se em cuidados e a probabilidade de entrarem em rutura é cada vez maior.


Se as unidades de cuidados intensivos atingirem o seu limite, os doentes terão de ser selecionados. A Ordem dos Médicos emitiu um parecer com as regras sobre quem deve ser considerado prioritário.

A idade não deve ser o único critério e estas regras aplicam-se a todos os pacientes, não só os que têm Covid-19.

Todas as decisões de limitação de acesso a cuidados “deverão ser devidamente fundamentadas e resultar de um consenso da equipa de saúde que avalia o paciente”. No caso de uma “particular dificuldade e incerteza, clínica ou moral” deve ser pedida “uma segunda opinião de pares experientes”.



Os critérios de seleção são os de proporcionalidade baseada na “maior probabilidade de sobrevivência após o tratamento.”


Para a Ordem dos Médicos, os critérios para escolher quem tem ou não direito a um ventilador em cuidados intensivos "não podem ser critérios de prioridade: a ordem de chegada do pedido de admissão ou da chegada aos serviços de urgência hospitalar. Apesar de muitos dos doentes serem idosos, esta por si só, nunca pode ser usada como critério. A presença de co-morbilidades e o estado funcional dos múltiplos órgãos devem ser cuidadosamente avaliados, juntamente com a idade", defende o Conselho de Ética.


"Os doentes onde o benefício é mínimo e improvável por doença avançada ou terminal não devem, tal como em situações de não emergência, fazer terapia intensiva. Esta decisão deverá ser comunicada (ao próprio (sempre que possível) e aos familiares) e registada no processo."


No caso de suspensão de atitudes curativas, “o médico não pode abandonar nenhum doente que necessite dos seus cuidados, devendo sempre garantir acompanhamento paliativo adequado".

Se o doente não puder ter visitas dos familiares, deverá ser garantida a possibilidade de se despedir, mesmo que seja por telefone, dos seus familiares. "Os familiares de todos os doentes que morram durante este período deverão receber apoio psicológico e/ou espiritual adequados à sua necessidade e vontade", sublinha o documento.

Este parecer foi aprovado pelo Conselho Nacional da Ordem no início de Abril, mas, na altura, não foi divulgado porque a situação melhorou com o confinamento geral.
Agora que se registam os maiores números de infetados, a Ordem dos Médicos decidiu divulgá-lo.