Tem mão portuguesa quem o fez chegar à Europa e quem o elevou a "chá das 5".


O hábito de beber chá na corte foi, como toda a gente sabe, iniciado, em Inglaterra, por D. Catarina de Bragança.


D. Catarina de Bragança aportou em Inglaterra a 25 de maio de 1662 para se casar com Carlos II de Inglaterra e, desde logo, teve de enfrentar uma corte algo hostil, entre outras razões, pela diferença de religiões. Desde o rei Henrique VIII que Inglaterra se tinha separado da igreja católica.


Por esta razão, a princesa portuguesa casou-se, neste mesmo ano, primeiro numa cerimónia católica privada, seguida de uma pública segundo os rituais anglicanos.


Só que Catarina de Bragança teve a arte e o engenho de combater esta hostilidade da corte. Então, introduziu alguns hábitos que levou de Portugal e que lhe valeram a admiração de quem inicialmente não gostava dela por ser, além de católica, tímida, de baixa estatura, e não conseguir dar herdeiros à coroa inglesa.



O chá foi uma dessas estratégias!


Já conhecido na Europa, mas apenas com fins medicinais para curar algumas doenças como a apoplexia, letargia, tonturas, enxaquecas e vertigens, o chá era também já consumido em Inglaterra, porém essencialmente pelo povo trabalhador que o bebia quente, normalmente pela manhã, como “mata-bicho”.


Foi a princesa portuguesa, agora rainha de Inglaterra, que o levou para dentro da corte e foi responsável pelo hábito de se começar a beber chá a meio da tarde, à hora da tradicional “merenda” portuguesa, acompanhada de doces e de bolos.


Pela sua mão chegou às tardes aristocráticas, o chá das cinco, tornando-se rapidamente num costume nobre que vem, por oposição, dar origem à expressão “falta de chá”.


Natural da China, foram os portugueses que deram a conhecer o chá ao ocidente, no século XVI. Chamámos a estas ervas “chá” do dialeto de Cantão “tcha”, tal como se dizia na língua original.


Pelo resto do mundo ficou, no entanto, conhecido como T, com diversos registos gráficos, mas em todas as línguas com a fonética correspondente à letra T.


Existem, no entanto, várias opiniões acerca da origem do chá ser T.



Uma delas diz que «Tê» é a forma de dizer «Tchá», num outro dialeto da China.


Outras dizem que, dado que o chá vinha acondicionado em caixas de madeira, desde a China até Portugal, de onde era depois exportado para a Europa, os portugueses identificavam, nas caixas, os produtos que elas continham. Nas de chá escreviam T de Tchá, usando o nome original.


Uma outra explicação diz que os comerciantes portugueses registavam, nas caixas, T.E.A., Transporte de Ervas Aromáticas.


Outra ainda refere que as caixas de chá que não se destinavam ao consumo nacional estavam identificadas apenas com um T, de «transporte», pois passavam, desde a origem, pelos portos portugueses, mas seguiam diretamente para a exportação.


Enfim, são díspares as razões do chá, que entrou pela mão dos portugueses para a Europa, se designar "T" na maior parte das línguas. Uma há de ser a certa e que o famoso "T" chegou à aristocracia inglesa na bagagem da princesa portuguesa também é uma verdade.


É ainda da responsabilidade de D. Catarina de Bragança a famosa compota de laranja amarga. A mãe enviava-lhe remessas de laranjas de Portugal que por vezes azedavam na viagem. Conhecedora da produção de conservas de frutos, fazia-as com as laranjas, reservando as azedas para as damas que lhe eram mais hostis e desta forma introduziu, em Inglaterra, também o hábito de consumir compota de laranja amarga.


E foi também Catarina de Bragança que levou consigo a porcelana da China, comum entre a nobreza portuguesa, mas não em Inglaterra, onde a aristocracia comia ainda em recipientes de estanho ou de prata. Implementou também o costume de se tocar música e cantar ópera na corte, pois fazia parte do seu séquito uma pequena orquestra.


Que não haja, hoje, no Dia Internacional do Chá, assinalado a 15 de dezembro, falta de chá!