És Lopes? Esta é a história do teu apelido!

O 14º apelido mais comum, em Portugal, é Lopes. Se és um destes cerca de 270 mil, esta é a história do teu nome de família que pode mesmo descender de nobres medievais.

Conheces alguém com o nome próprio Lopo? Provavelmente não. Lopo é, nos dias de hoje, um apelido de família e é muito raro vê-lo como nome próprio. Já na Idade Média, Lopo era muitíssimo comum. Por esta razão era igualmente frequente haver o apelido Lopes que significa “o filho de Lopo”, à semelhança de Henriques (filho de Henrique), de Fernandes (filho de Fernando ou de Fernão) e de Gonçalves (filho de Gonçalo), entre outros exemplos de patronímicos que a RFM já aqui contou.

Lopes é, portanto, o filho de Lopo, um nome, como dissemos, muito frequente em séculos passados. Isto prova também que Lopes é um apelido muito antigo, como vamos ver, mais à frente, pela quantidade de Lopes que ficaram na nossa História.

Lopo vem, por sua vez, de lobo que tem origem no latim “lupu” e que quer dizer lobo, o animal. Posto isto, é fácil de se perceber que Lopes, o filho de Lopo, significa valente e triunfador. Assim sendo, as famílias de Lopes são, com certeza, gente corajosa e vencedora!

Como Lopes significa “filho de Lopo” existem naturalmente várias famílias com este apelido. Não provêm todas da mesma. Há famílias nobres portuguesas de apelido Lopes, desde a Idade Média, e algumas provenientes de famílias de Espanha.


Foi o caso de uma rainha vinda do reino de Leão que se casou com o nosso D. Sancho II (1209-1248), tornando-se soberana de Portugal. D. Mécia Lopes de Haro. E lá está, filha de Lope Dias Haro, senhor da Biscaia e um dos homens mais poderosos da Península Ibérica, no distante século XIII. D. Mécia Lopes de Haro foi, no entanto, uma rainha controversa. Diz-se ter lançado um feitiço sobre o rei e a ela também se atribui o estado caótico em que Portugal se encontrava, no reinado do marido D. Sancho II. Apesar de ser relativamente comum atribuírem às rainhas estrangeiras os males de Portugal, parece ser certo que a rainha Mécia Lopes de Haro controlava o rei, o que indicava alguma fraqueza pela parte do soberano. Acabou a rainha por simular o seu próprio rapto e o irmão do rei D. Sancho II por se apoderar do trono, passando a ser o rei de Portugal, D. Afonso III.


Outros Lopes fizeram História em Portugal. Essa é a verdade! Um dos carrascos de D. Inês de Castro também se chamou Lopes e foi o único que conseguiu fugir à fúria e à vingança do devastado D. Pedro, após o assassinato da sua Inês, em 1355. Foi ele Diogo Lopes Pacheco. Este algoz era filho de Lopo Fernandes Pacheco (aqui convém dizer que o nosso Pedro Fernandes é Pacheco Fernandes e não Fernandes Pacheco, por isso qualquer ligação com o cruel carrasco de D. Inês de Castro é inexistente 😊). Quando D. Pedro subiu ao trono matou de imediato os assassinos de Inês, Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves, mas Diogo Lopes Pacheco fugiu e refugiou-se em Castela, depois em Aragão e mais tarde, em França. Escapuliu-se à vingança do rei D. Pedro, mas os seus bens foram todos confiscados, em Portugal. Muito mais tarde, chegou mesmo a ser perdoado e terá voltado a Portugal apenas em 1384.


Por estes tempos, nasceu um outro Lopes. Famoso. Destacado. Não há quem não o conheça. Fernão Lopes. O cronista!

Escrivão e cronista oficial do reino de Portugal e guarda-mor da Torre do Tombo, Fernão Lopes terá nascido algures entre 1380 e 1390. É um nome grande da literatura portuguesa e o pai da historiografia em Portugal.



Como o texto já vai longo e de muitos Lopes rezou a História, vamos abreviar e falar só de mais alguns, como Fernão Lopes de Castanheda de quem se diz ter sido um dos inspiradores da obra de Camões.
Uma Lopes surge ainda na nossa lista. Catarina Lopes. Foi uma das Donas ou Matronas que se destacaram no cerco a Diu, na Índia, em 1546. Era mulher do militar António Gil e, quando os homens portugueses começaram, naquela batalha, a perder as forças e a diminuir em ativos, Catarina Lopes fez parte de um batalhão de mulheres que, de forma improvisada, reforçou a retaguarda dos guerreiros, com armas, lutando como sabiam, mas também dando apoio aos feridos e reerguendo, como podiam, o que o inimigo destruía.


Já no século XIX, um outro Lopes se destacou. Henrique Lopes de Mendonça, o autor da letra do Hino Nacional. Nascido em 1856, escreveu em 1890 a letra que, com a música de Alfredo Keil, se tornou no Hino de Portugal. Henrique Lopes de Mendonça foi ainda um dos fundadores da SPA (Sociedade Portuguesa de Autores).



Depois, temos o 13º presidente português que também foi um Lopes. Francisco Higino Craveiro Lopes foi presidente de Portugal de 1951 a 1958.



Ainda Carlos Lopes. O campeão. Nascido em 1947, em Vildemoinhos, Viseu, foi o primeiro atleta português a ganhar e a trazer para Portugal uma medalha de ouro! Carlos Lopes ficou em primeiro lugar na Maratona dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, com o tempo de 2h9m21s. Para além da medalha de ouro, Carlos Lopes atingiu o recorde olímpico desta prova, só ultrapassada nos jogos de Pequim de 2008.



E a encerrar a pequena lista de alguns de muitos Lopes conhecidos portugueses, todos eles merecedores de destaque certamente, temos o musicólogo, compositor, professor e cronista musical Fernando Lopes Graça (1906-1994).



Portanto, se o teu apelido de família é Lopes, és um vencedor ou uma vencedora, uma corajosa ou um corajoso e, com certeza, muito valente! Podes também descender de uma família nobre medieval ou, quem sabe, de um dos muitos Lopes famosos portugueses, em Portugal, ou espalhados pelo mundo.