Há uns meses, o mundo respondeu em massa ao desafio #faceappchallenge. Quase de um dia para o outro, milhões de pessoas, em todo o mundo, incluindo nós da RFM, começaram a partilhar, nas redes sociais, fotos com as suas caras envelhecidas pela FaceApp. Se estás a ler este texto, talvez também o tenhas feito.

Mas o que parecia ser um desafio inocente e divertido, rapidamente se ameaçou transformar num pesadelo. Segunda-feira, dia 15, Joshua Nozzi, um app maker da Virginia, EUA, twittou “BE CAREFUL WITH FACEAPP….it immediately uploads your photos without asking, whether you chose one or not”. A seguir foi dormir.

No dia seguinte de manhã, quando acordou, reparou que o efeito do seu tweet, tipo bola de neve, começou a crescer e a tornar-se imparável. Primeiro foi o site 9t05mac que pegou no seu tweet e fez uma notícia. Até ter chegado à insuspeita Forbes, e o mundo ter acordado para a app russa que supostamente rouba todos os nossos dados, demorou apenas um dia.



Nas redes sociais, milhares de utilizadores começaram a partilhar notícias publicadas pelos mais insuspeitos jornais online que alertavam para que a FaceApp era, na verdade, uma aplicação russa que sacava dados dos nossos telemóveis, nomeadamente, todas as fotos que temos lá guardadas.

Faz sentido. Afinal, os donos da app são russos e isso chega. Toda a gente sabe que os russos são o que são. Mas será bem assim?

Parece que tudo não passou de uma tempestade num copo de água. A mesma insuspeita Forbes, que alertou para o perigo associado à utilização da app, veio depois afirmar que não há grande perigo na utilização da FaceApp. Pelo menos maior do que a maioria das apps que usamos todos os dias.

Ainda segundo o artigo da Forbes, Elliott Anderson, um especialista de segurança francês na net cujo verdadeiro nome é Baptiste Robert, fez o download do app e analisou para onde e que fotos são enviadas pela FaceApp. O ciber-especialista francês concluiu que a FaceApp apenas envia para os servidores da empresa russa as fotos que são tiradas na dita aplicação.

E onde estão esses servidores? Grande parte nos data centres da Amazon, nos Estados Unidos, ou da Google, espalhados por países como Irlanda e Singapura. As imagens podem ainda ir para a servidores de outras companhias, não russas, alojados nos Estados Unidos ou na Austrália.

É claro que, estando a empresa que detém a FaceApp sediada em São Petersburgo, as nossas imagens, envelhecidas por um qualquer algoritmo, vão sempre parar à Rússia. É que, ao contrário de outras apps que trabalham fotos, as imagens na FaceApp são processadas nos servidores da empresa e não no nosso telemóvel.

Yaroslav Goncahrov, fundador da empresa, já veio publicamente afirmar que a empresa apenas recolhe as imagens que os utilizadores pretendem ver alteradas. Segundo afirmou, as imagens são depois tratadas algures numa cloud e, por isso, a maioria nem chega à Rússia.

Entretanto, Josua Nozzi, o app maker da Virginia que provocou o início desta tempestade, já veio pedir desculpas no seu blog. “I was Wrong on The Internet when I raised alarm over FaceApp. It blew up. People got mad. (…) I was wrong. I was wrong about what I thought the app was doing (uploading all pics once granted access), and I was wrong to have posted the accusation without testing it first. Full stop”

Esta não foi a primeira vez que a FaceApp causou polémica. A primeira, há dois anos, passou ao lado de Portugal. Um dos filtros disponíveis na app permitia aclarar o tom da pele e modificar alguns traços faciais, o suficiente para surgirem acusações de racismo.

Esta tempestade num copo de água já acalmou. Em todo o caso, é bom lembrarmo-nos sempre que, na Internet, a FaceApp não é a única. Ainda em maio passado, investigadores do Google revelaram que usaram mais de 2.000 vídeos do YouTube de pessoas que fizeram o #mannequinchallange (o desafio viral em as pessoas ficavam imóveis) para ajudar a treinar um modelo de IA (inteligência artificial).