Dar mute na vida
Gosto de ver televisão sem som.
Parece já meio coisa de velhinha, de pessoa que já não quer saber o que os outros têm para dizer, então usa o botão do mute – que às vezes na vida real dava um jeitão.
Mas não é essa a ideia. A ideia é mesmo captar nas micro expressões das pessoas, coisas que com o ruído natural de toda uma envolvência na comunicação se perdem na percepção.
E se for a pensar bem tenho andado a tentar reduzir o ruído à minha volta, nem sempre para perceber melhor os outros, mas para me ouvir melhor a mim.
Porque muitas vezes o que não nos permitimos é ouvir o que nos vem de dentro. Ouvir o que realmente somos ou queremos ser.
Se há poder maior do que o da consciência, eu não sei qual é. Porque sermos conscientes começa a parecer-me ser o maior do valor do ser humano.
E quando assim entendemos a nossa existência, não há força maior que não consigamos criar para nós.
E agora vou só ali pôr som à televisão que ler nos lábios, mesmo assim, nunca foi o meu forte.
Crónica publicada no jornal Destak de 13 de Maio 2021