As mulheres são seres inspiradores. Inspiram-se a si próprias e inspiram outros e outras.
Durante séculos, nos idos tempos em que às mulheres não tinham espaço, infelizmente, havia destaque para a sua força, energia, inspiração e até poder ao lado dos homens.
Muitos devem o seu sucesso e a sua ribalta às mulheres. Escritores, poetas, pintores, políticos foram, tantas vezes, ao longo da História, inspirados por mulheres, umas musas, outras influenciadoras.
A figura da mulher não só inspirou artistas, políticos e cientistas como inspirou a representação de conceitos e de princípios como a Liberdade e a Justiça, convertidos na figura de mulheres.
Também a figura da República Portuguesa, representada por um busto, foi inspirada numa mulher de carne e osso.
Essa mulher foi a alentejana Ilda Puga.
Nascida em Arraiolos em 1892, foi em Lisboa que, entre os 16 e os 18 anos, serviu de modelo ao escultor Simões de Almeida (sobrinho), a quem tinha sido encomendado um busto que representasse a República.
Diz-se que foi bonita. Era costureira e trabalhava numa camisaria na baixa lisboeta, frequentada por Simões de Almeida. Ilda posava sempre na companhia da mãe e era apenas o seu rosto que servia de modelo ao escultor, apesar de, à semelhança de outros na Europa, a República ser uma mulher de ombros nus.
O busto da República é inspirado na imagem da Liberdade na Antiguidade Clássica. A Liberdade apresentava-se como uma mulher, segurando um pileus, barrete usado pelos escravos que recebiam a libertação na Roma antiga.
Ilda Puga acabou por continuar o seu ofício de costureira e permaneceu em Lisboa, onde morreu com 101 anos, em 1993, sem deixar descendência direta.
O busto de Ilda Puga, ou o da República Portuguesa, foi colocado, em 1911, na Assembleia Constituinte, onde é hoje o Parlamento.
Nos arquivos da RTP, há uma entrevista com Ilda Puga que podes ver aqui.