A pergunta impõe-se!

Porque é que há ovos e coelhos e amêndoas, na Páscoa? Uma combinação “estranha”, por si só, entre coelhos e ovos e amêndoas, ainda por cima, naquele que é o período mais importante do calendário cristão: a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.

Todos dizem o mesmo: se há ovos, há galinhas e não coelhos. E se há coelhos, onde entram aqui as amêndoas?


O ovo

Muito tempo antes do próprio nascimento de Jesus, os povos festejavam a chegada da primavera e o fim do inverno e trocavam, entre si, ovos porque estes simbolizavam o renascer e o reinício.

Nestes tempos e em alguns sítios, os agricultores tinham também, ao que se diz, o hábito de enterrar ovos nas terras de cultivo para que as colheitas fossem boas!

Certo é que a antiga e enraizada presença e também troca de ovos, na Páscoa, se mantiveram com a Páscoa cristã.

Com os anos, passou a pintar-se os ovos das galinhas com cores vivas e alegres porque a Páscoa é uma data de festa, o momento da ressurreição de Jesus Cristo.

Além de ovos de galinha, também era comum oferecer-se ovos de gansa, sobretudo no norte da Europa, onde a criação e o consumo de gansos é bem maior do que na Europa do sul.



Nos países mais a leste da Europa, os ortodoxos tornaram-se conhecidos por transformar os ovos em verdadeiras obras de arte. Este hábito acabou por influenciar a Europa ocidental.

O rei Eduardo I de Inglaterra mandava banhar ovos em ouro que oferecia, na Páscoa, a alguns elementos da nobreza.

O famoso rei-sol Luís XIV, em França, mandava também decorar ovos, o que veio a tornar-se moda e tendência. Rapidamente, se começou a fazer ovos em madeira, porcelana, metal e outros materiais.

Luís XV, o sucessor de Luis XIV, encomendou um ovo grande com a imagem do cupido dentro e ofereceu a Madame du Barry, a sua amante.

E foi exatamente esta obra de arte, mandada fazer por Luís XV, que inspirou o joalheiro Peter Karl Fabergé, na corte russa, a criar os famosos ovos Fabergé, no século XIX.

A primeira encomenda de um ovo destes, ao joalheiro e artista Fabergé, foi feita pelo Czar Alexandre III, em 1885, para oferecer à Czarina Fedorovna.

Dentro deste ovo, havia uma surpresa. Assim nasceu também o hábito de colocar surpresas dentro dos ovos de Páscoa.



Estes ovos imperiais Fabergé ficaram famosos pela arte, pelos materiais e joias e pelos próprios mecanismos. O joalheiro criou-os de 1885 a 1916.
A revolução de 1917 acabou com o luxo e esta e outras produções viram o fim dos seus dias.


Os ovos e os folares



Feitos de diversas formas e feitios, os folares levam ovos cozidos com casca.

Conta-se que o folar nasceu de uma lenda que envolve os amores de uma portuguesa chamada Mariana.

Após desavenças amorosas, a reconciliação terá sido celebrada com a oferta de um folar. Daí que este tipo de bolo celebre a amizade e que seja oferecido entre afilhados e padrinhos de batismo, por altura da Páscoa.

Depois, quando o cacau começou a chegar das Américas, no século XVII, para produzir chocolate na Europa, também os ovos da Páscoa passaram a ser feitos de chocolate, de vários tamanhos e com diversos tipos de cacau ou de chocolate, mas sempre ocos e alguns com surpresas lá dentro.

E ainda temos o jogo da caça ao ovo, tão do agrado do norte da Europa.

Os alemães terão levado esta tradição para os Estados Unidos e daqui espalhou-se ao resto do mundo.

Esta tradição é, nos dias de hoje, ainda muito forte nos países do norte europeu, no domingo de Páscoa, e terá provavelmente origem na dita antiga tradição que os povos tinham, há muitos séculos, de enterrar ovos nas terras de cultivo para que as colheitas fossem boas!


Depois, vem o coelho...



E é também com os alemães que aparece o coelho da Páscoa.

Conta a lenda que, na Alemanha pré-cristã e politeísta, se orava a vários deuses. Uma destas deusas era a da primavera, a estação própria do renascer e da renovação da natureza.

O símbolo da deusa seria o coelho devido, justamente, à sua enorme capacidade de reprodução. Conta-se também que há uma lenda alemã que diz que um coelho punha ovos e os escondia num jardim.

De uma forma ou de outra, o coelho está presente na Páscoa pela mão dos alemães.


Finalmente, as amêndoas...



As amêndoas estão muito presentes na Páscoa portuguesa.

Na verdade, as amêndoas e a Páscoa estão tão ligadas que se perde no tempo a sua verdadeira origem.

Por um lado, as amêndoas são um fruto da época e representam, diz-se, a beleza e a renovação da natureza desde as amendoeiras em flor até à simbologia da amêndoa que tem uma casca rija a proteger a própria amêndoa, lá dentro, mais delicada.

Durante séculos, as amêndoas eram comidas cobertas com mel.

Só depois de os portugueses desenvolverem a cultura da cana do açúcar, no Brasil, é que as amêndoas passaram a ser cobertas com açúcar, de várias cores e, mais tarde, com chocolate.

Na verdade, há amêndoas para todos os gostos! Feliz Páscoa!