Morreu, dia 24 de agosto de 2021, aos 80 anos, Charlie Watts, o mítico “baterista de jazz” que ajudou a fazer dos Rolling Stones, a maior banda de rock n roll do mundo.

A notícia surgiu semanas depois de ter sido anunciado que o músico não poderia acompanhar os Stones na próxima digressão americana por estar a recuperar de uma intervenção cirúrgica. Charlie já tinha sido tratado em 2004 a um cancro na garganta.

Segundo o comunicado da banda, na tarde de 24 de agosto, Charlie era “um marido, pai e avô querido, membro dos Rolling Stones e um dos maiores bateristas da sua geração, partiu em paz ao início do dia, num hospital de Londres, rodeado pela família”.



Com os Rolling Stones, Charlie Watts atuou 6 vezes em Portugal: em 1990, 1995 e 2007 no Estádio de Alvalade, em 2003 (com os Xutos e Pontapés na primeira parte e com a RFM nos bastidores) no Estádio Cidade de Coimbra, em 2006 no estádio do Dragão e em 2014 no Rock in Rio Lisboa (com Bruce Springsteen a partilhar o palco com os Stones).



Charlie Watts era baterista dos Rolling Stones desde 1963, mas a sua grande paixão sempre foi o jazz. Watts era, com o baixista Bill Wyman, um dos mais discretos membros da banda, raramente aparecendo ou dando entrevistas e descrevia a sua vida nos Stones como “5 anos a tocar e 20 anos a andar por aí”.

No entanto, foi com a sua preciosa contribuição que os Rolling Stones, nos anos 60, começaram, com os Beatles, a contagiar o mundo com o seu rock 'n' roll , nos deram clássicos como "(I Can't Get No) Satisfaction", "Jumpin' Jack Flash", "Sympathy for the Devil" "Get Off Of My Cloud" e nunca mais pararam.



Charles Robert Watts nasceu a 2 de junho de 1941, em Londres.

O seu pai era camionista e Charlie cresceu numa casa atribuída à família depois de, na segunda guerra mundial, a área onde vivia ter sido destruída pelos bombardeamentos alemães.

O jazz era, desde pequeno, uma das suas grandes paixões. Passava horas no quarto a ouvir discos de Jelly Roll Morton e Charlie Parker. Na escola apaixonou-se pelas belas artes e continuou os estudos na Harrow Art School até arranjar um emprego como desenhador gráfico numa agência de publicidade.

Apesar de tudo, a sua maior paixão continuou a ser a música. Aos 13 anos os pais ofereceram-lhe uma bateria que tocava a acompanhar os seus discos de jazz. Depois, começou a tocar em pubs e clubes locais e, em 1961, Alexis Korner convidou-o a integrar a sua Blue Incorporated, uma banda marcante no panorama do rock britânico. Da Blues Incorporated fazia também parte um guitarrista chamado Brian Jones que pouco depois apresentaria Charlie aos Rolling Stones cujo baterista original, Tony Chapman, tinha abandonado o grupo.

O resultado deste encontro foram, segundo Charlie Watts, 4 décadas a olhar para o rabo de Mick Jagger a gingar à minha frente”.




A experiência e a qualidade musical de Chalie Watts foram de uma enorme importância para a carreira dos Stones. Com Bill Wyman, o músico marcava a batida que suportava as guitarras de Keith Richards e Brian Jones e a performance de Mick Jagger.

Nos Stones, Charlie pôs ainda a render os seus dotes e experiência de desenhador gráfico. Foi o responsável pelos desenhos na contra capa do album de 1967 dos Rolling Stones “Between the Buttons” e ajudou a criar os inovadores cenários dos concertos das digressões do grupo, cada vez mais importantes e parte da imagem da banda.



Nas digressões, o seu estilo de vida contrastava radicalmente com o dos outros elementos do grupo.

Rejeitando a adoração das fãs que perseguiam os Stones, Charlie continuou sempre discreto e fiel à sua mulher Shirley, com quem casou em 1964.

Apesar de manter sempre a sua paixão pelo jazz com a The Charlie Watts Orchestra, o baterista dos Stones também foi, nos anos 80, vítima dos excessos do rock n roll.

O músico descreveu como “uma crise de meia idade” o período em que sucumbiu de tal maneira à bebida e às drogas que chegou a ser “repreendido” por Keith Richards.

Essa foi também a altura em que as suas relações com Mick Jagger quase os levaram à ruptura. Conta-se que, numa noite, em Amesterdão, em 1984, depois de ter bebido bastante, Mick ligou para o quarto de Charlie a gritar “Onde é que está o meu baterista?

Como resposta, Watts levantou-se, foi ao quarto de Jagger e depois de lhe dar um murro, disse “Nunca mais me chames o teu baterista. Tu é que é o meu vocalista”.

O mau ambiente entre o baterista e o vocalista dos Stones durou dois anos e só passou com a ajuda da mulher de Charlie.



Apesar de milionário, devido à longa popularidade dos Stones, Charlie Watts viveu sempre com a mulher Shirley, uma vida discreta numa quinta em Devon onde criava cavalos, colacionava antiguidades… e automóveis clássicos, apesar de não conduzir!

No intervalo das digressões dos Rolling Stones, Charlie Watts dedicava o seu tempo ao jazz que dizia “lhe dava mais liberdade para andar de um lado para o outro”. Tocou e gravou com várias Big Bands. Num concerto no clube Ronnie Scott’s de Londres, Watts chegou a reunir em palco uma banda de 25 músicos, entre os quais 3 bateristas.


Impecável, quase sempre de fato completo, Charlie Watts foi muitas vezes votado como um dos homens mais bem vestidos do showbusiness e conseguiu, ao longo de cinco décadas com os Rolling Stones, manter a sua personalidade e continuar a ser “um senhor”, mesmo fazendo parte da maior banda de rock n rol do mundo.

Vê aqui algumas das reações de músicos como Elton John, Ringo Starr, Paul McCartney, Rui Veloso, Pedro Abrunhosa e Miguel Araújo à morte do músico, nas redes sociais.