A Ponte 25 de abril foi o palco de mais uma Meia Maratona de Lisboa, o maior evento de atletismo de Portugal, na qual se esperaram, de acordo com o Diário de Notícias, mais de 35 mil participantes, incluindo vários estrangeiros.


Entre os participantes, estavam também pessoas com deficiência que se viram impedidas de participar na corrida. A denúncia veio, pouco tempo depois, da Meia Maratona de Lisboa, através da dupla de irmãos Pedro e Miguel Ferreira Pinto - os Iron Brothers -, que são assíduos neste tipo de provas.


Nesta dupla, Pedro tem paralisia cerebral, sendo que é auxiliado, em todas as competições, por Miguel e ambos querem mostrar que o atletismo deve ser inclusivo.


No que toca à Meia Maratona de Lisboa, a dupla recorreu à sua página de Instagram Iron Brothers, na qual relataram o que aconteceu.


De acordo com os próprios, "quando as cadeiras da Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa estavam a descer das carrinhas, para os utentes e voluntários participarem na Mini Maratona, como já é tradição da associação há mais de 20 anos, o Diretor de prova, no local, deu indicação à PSP [Polícia de Segurança Pública] para o impedir, dizendo que estavam proibidas as cadeiras de rodas na prova".


Logo de seguida, os irmãos que falaram em nome dos restantes atletas da Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa caracterizaram a situação como "absolutamente inadmissível (...), uma violação gritante do princípio da igualdade, (...) uma discriminação vergonhosa de pessoas com deficiência".


Foram muitos aqueles que se solidarizaram com os Iron Brothers e os restantes atletas impedidos, entre os quais, Catarina Furtado e o também atleta Fernando Pimenta.



A par dos Iron Brothers, Elsa Farinha, voluntária da Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa, confirmou o que havia sido dito e adiantou que, no regulamento da prova, estava pouco explícito o impedimento da utilização de cadeiras rodas.


A própria citou o artigo do regulamento, onde se lê que "é expressamente proibido a participação de pessoas com animais de estimação, carrinho de bebé, patins, bem como com qualquer outro acessório que não seja utilizado para este tipo de provas". Por fim, escreveu que "seria demasiado ignóbil pensar que uma cadeira de rodas é um acessório".


Apesar de não terem conseguido participar no arranque da prova, os atletas da Associação de Paralisia Cerebral conseguiram entrar a meio do percurso com a ajuda da Polícia de Segurança Pública. Os agentes da PSP presentes no local referiram, de acordo com Elsa Farinha, que "se estão inscritos e tem dorsais podem participar".



Perante a discussão que se gerou à volta do assunto, a organização da Meia Maratona de Lisboa, o Maratona Clube de Portugal, reagiu em comunicado.


No comunicado, de acordo com a CNN Portugal, lê-se que "enquanto responsável pela segurança de cada um dos milhares de participantes nas provas por si organizadas, o Maratona Clube de Portugal vem por este meio reforçar que a não participação de concorrentes em cadeiras de rodas, cadeiras de bebés e outros equipamentos nas provas deste domingo, se deve exclusivamente a questões de segurança e em consequência de incidentes graves ocorridos em edições anteriores. Estas regras foram comunicadas no regulamento das provas e na Sport Expo, que lamentamos se não estiveram claras o suficiente".


O Maratona Clube de Portugal referiu ainda que, "enquanto organizadores de provas, fomos pioneiros na inclusão e, que entre 1998 e 2018, organizámos em Lisboa, em conjunto com a Meia Maratona, 20 edições da prova de deficientes motores em cadeiras de rodas com atletas semi-profissionais de todo o mundo".


E, por fim, a organização afirmou que "somos os primeiros a lamentar o transtorno causado aos participantes que hoje se viram privados de participar. Já entrámos em contacto com a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa e mostrámos a nossa disponibilidade para procurar em conjunto uma forma em que possamos contar com a participação dos seus associados, salvaguardando a segurança de todos o participantes".