Esta notícia apanhou tudo e todos desprevenidos. Foi avançada pelo jornal Telegraph e dizia que os livros de Agatha Christie, publicados entre 1920 e 1976, vão ser reeditados para responder às "sensibilidades modernas".


Quer isto dizer que algumas passagens destes clássicos vão ser alteradas ou mesmo retiradas para remover referências racistas e outras linguagens consideradas ofensivas para o público moderno.


Por exemplo, segundo o Telegraph, que teve acesso às edições revistas, passagens onde existam comentários relativos ao aspeto físico de personagens serão eliminadas; a palavra "nativos" será substituída por "locais"; descrições, insultos e referências a etnias, especialmente com personagens que se encontram fora do Reino Unido, também foram retiradas.


O Telegraph refere até um exemplo muito concreto. No livro "Morte no Nilo", publicado em 1937, a personagem Mrs. Allerton refere-se a um grupo de crianças, que a estava a incomodar como: "Eles voltam e ficam a olhar, a olhar, e os seus olhos são simplesmente nojentos, e também os seus narizes, e não me parece que goste de crianças". Com esta reedição, pode ler-se agora: "Eles voltam e ficam a olhar, a olhar. E não me parece que goste de crianças".


Esta não é a primeira obra a ser reeditada. Também o livro "Charlie e a Fábrica de Chocolate", de Roald Dahl, foi alterado para serem retiradas palavras ofensivas e para conter uma linguagem mais inclusiva. E os livros do 007, que foram escritos entre 1951 e 1966, também foram revistos e alterados para se eliminar palavras consideradas racistas e ofensivas.


Este é um fenómeno que tem vindo a ganhar cada vez mais destaque. Há quem os chame de leitores de sensibilidade, segundo o The Guardian, e têm como missão melhorar a diversidade na indústria editorial. Para isso, avaliam publicações recentes e antigas para detetar linguagem ou descrições potencialmente ofensivas.


Inclusão ou censura? Há quem se divida entre estes dois termos no que toca a este fenómeno.


Depois de ter sido publicada esta notícia sobre a reedição dos livros de Agatha Christie foram algumas as pessoas conhecidas do público que se manifestaram.


Diogo Infante, por exemplo, descreve estas mudanças como um "caminho perigoso". "A cultura e as expressões artísticas têm um contexto histórico e político, e devem ser vistas dessa perspetiva. Não podemos rescrever a História mas podemos e devemos aprender com ela." O ator considera estas alterações uma "censura" e termina o texto apelando para que não se compactue com isto.



A apresentadora da SIC Ana Marques foi curta, mas impactante nas palavras: "Se a liberdade e a inclusão é isto, não sei se quero!".