A RFM apresenta...


"Era uma vez a história mais inesperada do mundo"


A RFM está a escrever uma história para ti e este enredo incrível pode mesmo até dar em livro!

Resolvemos pôr mãos à obra e escrever para ti para leres uma coisa "completamente diferente".

Sabemos como começa este "livro" mas não fazemos ideia como é que acaba, porque todos os dias é aumentado pela imaginação de cada um dos elementos da equipa da RFM.

Também te desafiamos a enviares sugestões para a RFM sobre o rumo que gostarias que a história tomasse.

Em cada dia, um elemento da equipa da RFM escreve um parágrafo ou dois ou três, acrescentando ao colega anterior um bocado da história que não sabemos onde vai parar. Na verdade, é uma das histórias mais inesperadas de sempre, onde tudo pode acontecer. É uma história em série, escrita a várias mãos!

Podes acompanhar esta história a 60 mãos, todos os dias, no site, na APP e no Instagram da RFM


“Era uma vez a história mais inesperada do mundo” começa assim… pelas mãos do António Mendes.



EPISÓDIO 1 - António Mendes

Jorge entrou em casa, como fazia todos os dias. Abriu a porta com a ponta do pé, ao mesmo tempo que lançou o molho de chaves para a mesa da entrada. Debaixo do braço esquerdo trazia o pacote de pão Eric Kaiser que comprava, também diariamente, assim que saía do trabalho. Era uma mania. Era a sua principal mania. Tirando a mania de empurrar a porta com a ponta do pé. Na verdade, o Jorge tinha mais algumas.

Vivia com as duas irmãs num apartamento a meio da Infante Santo com uma boa vista para o rio. Boa vista é como quem diz. Tinha de pôr a cabeça de fora da janela, girá-la para a direita e, aí sim, o rio aparecia lá ao fundo no enfiamento da avenida. Aquela casa fora uma oferta dos pais, que se retiraram para uma pequena quinta, nos arrabaldes de Santarém, depois da reforma.

A mais nova das duas irmãs, Luísa, era educadora infantil. Maria, a mais velha dos três, estudara arquitetura, como o pai, mas gostava era de escrever e dedicava muito do seu tempo a esta paixão que não assumia verdadeiramente e que intrigava Jorge, dadas as longas horas que passava, fechada, a escrever.

Ele era o irmão do meio. Trabalhava com cães e gatos e com todos os animais que apareciam na clínica. De entre todos, era Jacob que não lhe saía da cabeça. Um lindo papagaio com uma bela e farta plumagem de cores vivas e intensas.

Na verdade, e embora o psitacídeo o impressionasse bastante, era a sua dona que insistia em colar-se a todos os seus pensamentos.


Porquê? Quem será a enigmática dona do lindo e colorido papagaio? E porque é que não sai da cabeça de Jorge...?

Quem escreve o próximo capítulo é a Mariana Alvim.



EPISÓDIO 2 - Mariana Alvim

Madalena... A Madalena era a dona do papagaio que dizia asneiras. Tentava mostrar-se chocada, mas ambos se riam com o vocabulário do bicho. E Jorge, encantado com o riso dela…

Como voltar a vê-la?

Certamente não poderia recorrer aos dados de cliente da clínica para lhe ligar. O papagaio estava curado da sua constipação, nada de mais, pelo que não voltaria tão cedo.

Jorge pensou pedir conselhos à Luísa, sua irmã mais nova, mas ela era especialista em crianças e este assunto era para adultos. Estávamos perante uma matéria sensível e... espera, sensibilidade era com a Maria, a sua irmã-escritora-às-escondidas.

Jorge respirou fundo e ganhou coragem. Estava na altura de fazer algo por si, de sair da sua zona de conforto e... arriscar.

Interrompeu as escritas secretas da sua mana mais velha e abriu o seu coração. A Maria sorriu. O Jorge não costumava desabafar e, pelo menos segundo o que ela sabia, nunca se tinha apaixonado. Tinha de o ajudar. Quem sabe a história dele não a iria inspirar no seu eterno romance que não conseguia acabar? E então a Maria teve a melhor ideia de sempre.

- Jorge? A tua mana é espetacular. Senta-te. Tenho um plano. Já me sinto cunhada da Madalena – disse, de sorriso triunfante.


Que plano…? Como vai Maria ajudar o irmão Jorge apaixonado por Madalena, a dona do papagaio de bela e farta plumagem com cores intensas?

Está aqui o próximo capítulo pelas mãos do José Coimbra .


EPISÓDIO 3 - José Coimbra

Na cabeça de Maria, e de todos, estava ainda a grande pandemia de 2020. A vida mudara irremediavelmente desde então. As pessoas circulavam agora com restrições.

Maria, que todas as semanas ia ver os pais à pequena quinta de Santarém e trazia sempre pampilhos para os irmãos, recebia agora uma caixa de 9 pampilhos enviados pela mãe, todas as terças-feiras.

Jorge, Luísa e Maria comiam um pampilho e congelavam os restantes. Havia sempre pampilhos na casa da Infante Santo. Era uma forma de os pais estarem sempre presentes. Santarém era agora uma viagem longa para a qual precisavam de declarações para se poderem deslocar.

Maria trazia sempre com ela álcool gel desinfetante e evitava o contacto físico, o que lhe tinha valido alguns dissabores amorosos, nos últimos dois anos. Mas, Maria ainda se lembrava do poder do toque, emocionava-se quando ouvia Sérgio Godinho cantar “toquei-te no ombro e a marca ficou lá”. “A Noite Passada” era a música preferida da mãe e Maria tinha passado a vida a ouvi-la.

O plano de Maria envolvia risco e bolas.

Depois da grande pandemia, o bowling tinha sido proibido em todo o país. Por questões de segurança, praticava-se agora apenas em pequenas salas clandestinas dos subúrbios. Maria baixou o volume do rádio do quarto, virou-se para o irmão e disse-lhe, de olhos bem abertos:

- Jorge, se queres surpreender a Madalena, convida-a para ir jogar bowling!! Tenho um contacto na Bobadela.

Jorge ficou em pânico.


Maria tinha um plano para o irmão… Mas como é que uma arquiteta que, na verdade, gostava de escrever, fechada longas horas no seu quarto, tinha contactos na Bobadela e podia, através destes, ajudar Jorge a conquistar Madalena, a dona do papagaio colorido?

O próximo capítulo é da autoria do Paulo Fragoso.


EPISÓDIO 4 - Paulo Fragoso

Bowling??? A sério que a mana mais velha sugeriu ir jogar bowling?

- Até parece que não me conheces, Maria!!! Sabes bem que nunca me dei bem com tudo o que mete bolas, seja no desporto, seja em qualquer diversão. Já não te lembras da figura que fazia sempre que a mãe me pedia para atirar as bolas às latas para ganhar um urso de peluche maior do que nós os dois encavalitados, sempre que íamos à Feira de Santarém? Que tortura! Mas a mãe insistia e tu ainda mais. Quem levava com as bolas? O senhor da barraca que, esse sim, é que parecia ter na testa um alvo! Cada vez que me lembro...

- Oh, mas agora já és um homenzinho, não me venhas com tretas! É divertido, vais ver. Quanto mais não seja para a Madalena ver o quão desajeitado tu eras... ou és.

E soltou uma gargalhada que se ouviu, seguramente, no Jardim da Estrela onde a esta hora ainda devem estar a pensar que coisa do Além terá sido o que ouviram.

Jorge não estava a gostar da ideia e não estava a perceber a ligação de Maria à Bobadela. Mas por que raio é que a mana mais velha tinha conhecimentos na vila que ganhou alma com a longínqua Expo 98?

Mas de repente: “Eureka!” Fez-se luz na sua cabeça!

Jorge lembrou-se que Maria fez um dos estágios num atelier lá mesmo, e foi aí que deu uma mãozinha no projeto do Pavilhão de Portugal, arquitetado por Siza Vieira. Jorge lembra-se da excitação da irmã quando lhe contou o que ia fazer e também se lembrava que ficou alguns dias seguidos em casa... de uma amiga? Terá sido mesmo uma amiga? E terá sido mesmo por trabalho?

O que parecia certo era que na cabeça da sua irmã aparentavam brotar boas recordações e isso deixava-o feliz.

E Jorge bem sabe que estas coisas da memória são como uma arca do tesouro, onde podemos rebuscar tanto peças únicas como tão somente uma moeda que se poderá avaliar como soberba ou flor de cunho. Que cunho se poderia dar a esta inesperada memória de sua irmã?

A cabeça de Jorge andava num rodopio. Até porque também achava que jogar bowling num primeiro encontro, ainda para mais ilegalmente, era pouco convencional e até mesmo uma cena completamente fora. Ele que era todo certinho, tinha imaginado um jantar com algum requinte e boa comida. Tinha-se lembrado d’ “O Asiático”, do Chef Kiko. Já tinha ouvido maravilhas e no The Fork até tem excelente avaliação. E depois levá-la a passear a pé, pela Baixa, espreitando o Castelo e a Sé iluminadas, com passagem pelo Rossio. Quem sabe até beber uma ginjinha. Se calhar não, Jorge odeia ginjinhas e muito menos com elas e, ainda para mais, permaneciam as restrições à circulação.

Jorge divagava sobre o que lhe poderia estar para acontecer mas também não conseguia perceber o mistério da sua mana mais velha que parecia estar a querer abrir algumas gavetas da sua intrigante e recôndita memória.


Será que Maria quer desvendar algo do seu passado, na Bobadela… ou será Jorge, dado a algumas manias, a evitar conquistar Madalena, por falta de coragem. E Madalena? Desconfiará ela que Jorge quer vê-la de novo, agora que o papagaio está curado?

Pois, vais saber… pelas mãos da Catarina Figueiredo!


EPISÓDIO 5 - Catarina Figueiredo

Maria decidiu que não havia mais tempo a perder, ia vencer a timidez, tinha que voltar a falar com o João, namorico de juventude, com quem já não estava há mais de vinte anos. Quer dizer cruzaram-se uma ou duas vezes, trocaram olhares mas como estavam acompanhados, e ainda a uma grande distância um do outro, não trocaram uma palavra.

A primeira foi à saída da “praia da morena” na costa de Caparica e a última delas, no concerto dos U2 na Altice Arena. Só que estes dois encontros foram suficientes para abrir o baú das boas recordações e Maria andava com vontade de saber o que era feito de João. Se tinha filhos? Se era casado? O que é que fazia da vida? Esta era a oportunidade perfeita!

O pai do João tinha um espaço de bowling na Bobadela, sempre super cheio na altura, e assim juntava o útil ao agradável. Ajudava o irmão, Jorge, e voltava a estar com o João. Quando foi à procura do contacto numa agenda velhinha de 1998, não percebeu a sua letra da altura, mas também era um número de casa. Seria pouco provável que o João ainda lá vivesse.

Decidiu, então, ir à procura dele no instagram. Escreveu João Ribeiro da Silva Matos e lá estava ele! Continuava giro e cheio de pinta. Começou a conversa timidamente, com um simples “olá, sou a Maria, da Infante Santo, que estagiou num atelier ao pé do bowling do teu pai. Lembras-te de mim?”

A resposta do João chegou em minutos. “Claro que me lembro. Está tudo bem contigo?”

A partir daí foram trocando mensagens o resto da noite. Maria aproveitou para cuscar as fotos de perfil do João e percebeu que não tinha filhos e que também já não havia espaço de bowling do pai na Bobadela. João era, agora, personal trainer e tinha aberto um espaço de crossfit em Sacavém, com um café simpático que servia papas de aveia e chás de curcuma, com tostas de abacate e ovo escalfado, em frente ao rio.

Ter voltado a falar com o João fez com que Maria ficasse cheia de atitude. Não ia deixar escapar esta oportunidade! Afinal estava sozinha há tanto tempo. Mudança de planos, não há bowling, mas o irmão Jorge poderia sempre convidar Madalena para um café em frente ao rio, e quem sabe para um treino em conjunto de crossfit, quando já se pudesse circular livremente por Lisboa. Maria ficou com vontade de experimentar também, claro. Era o pretexto perfeito para voltar a estar com João, que entretanto ainda não lhe tinha respondido se era casado ou não.


A coisa não está fácil! A propósito de ajudar o irmão Jorge a encontrar-se com Madalena, a dona do papagaio, Maria descobre uma paixão de juventude e está empenhada em recuperar o amor!

Jorge vai ficar para trás? E João…? Estará interessado em Maria? Certo é que não lhe voltou a responder!

O Daniel Fontoura vai desvendar o mistério!


EPISÓDIO 6 - Daniel Fontoura

Será que o João era casado foi uma pergunta que nunca passou pela cabeça da Luísa, a irmã mais nova. Primeiro porque nunca conheceu o João, segundo porque nem sequer sabia que a sua irmã mais velha tinha uma paixão antiga, daquelas que volta e meia aparece num dia de nevoeiro tipo D. Sebastião. O que a Luísa sabia era que os seus irmãos tinham estado fechadinhos no quarto a falar de amores secretos e que ela tinha ouvido tudo. Vantagens de ter bons ouvidos e de ter irmãos que falam um pouco alto. Ela nem estava interessada na conversa, mas foi impossível não ouvir.

Luísa gostava muitos dos irmãos, mas também sabia que tanto o Jorge como a Maria eram um pouco “atadinhos” nestas coisas dos relacionamentos. Por isso, e apesar do seu irmão não lhe ter contado nada e eventualmente ter achado que ela não era capaz de o ajudar, Luisa já tinha feito a sua própria investigação privada nas redes sociais e mesmo no google. É claro que recorreu a uma colega de trabalho do irmão para conseguir saber qual o último nome da misteriosa Madalena. Eventualmente à luz da lei de proteção de dados foi cometido um crime neste processo todo, mas se esse crime levasse o seu irmão a encontrar o amor, ela estava preparada para cumprir a sentença. Ainda para mais porque só ela e a Jéssica, a colega de trabalho do Jorge, é que sabiam deste pormenor.

O último nome da Madalena era importante para conseguir encontrar o seu “rasto digital”, e mesmo assim não seria fácil, porque Madalenas Sousa há muitas! Felizmente depois de algumas horas de pesquisa em tudo o que é redes sociais e internet em geral, a Luísa descobriu a Madalena. Ou pelo menos ela achava que sim. Madalena Sousa, morava em Lisboa, foto com um papagaio, não devia haver muitas. Ou será que havia? Huuumm. Luísa estava na dúvida, mas reparou que tinham uma amiga em comum …


Quem é a amiga em comum? Alguém que a Luísa detesta? Ou uma amiga verdadeira que pode até ajudar a realizar o tão esperado encontro entre Jorge e Madalena? Será que Madalena também quer ou não está nem aí?

A Joana Cruz vai seguir com a história e desvendar o mistério… ou não!


EPISÓDIO 7 - Joana Cruz

A amiga em comum era a Marta. Uma miúda que tinha emigrado para Los Angeles à procura do sonho americano no mundo da representação. Luísa ligou a Marta para lhe contar tudo e pedir aquele “caldo” à antiga para o irmão Jorge.

Marta tinha continuado a viver fora mas, por acaso, encontrava-se em Portugal a passar uns dias de verão.

- Ó Luísa isso é fácil. Vou marcar uma jantarada aqui em casa e pufff, por magia trazes o teu mano que se vai cruzar com a Madalena. – Reagiu Marta, ao telefone.

Boa, agora era só convencer o irmão a ir ao jantar fazendo a surpresa. Não podia denunciar que tinha andado a escutar às portas… pensou Luísa. Marta ainda lhe confidenciou:

- A Madalena está mortinha por arranjar um marido portanto isto vai ser mel e ainda vamos ser as madrinhas.

Jorge, que não gostava de não conhecer os grupos onde se metia, lá acedeu ao pedido da irmã caçula para a acompanhar a um jantar de amigos. No sábado seguinte estavam numa casa, em pleno Bairro Alto, com vista rio e uma varanda apetecível em noites de verão. O grupo não era muito grande porque ainda vigoravam algumas restrições quanto ao número de pessoas que podiam juntar-se.

Chegam, com o vinho na mão, à porta da casa de Marta e, no meio da barulheira animada que se ouvia dentro, alguém veio atender e adivinha... calhou à Madalena a tarefa de receber o casal de irmãos.

- Olá... Jorge!? Por aqui? Que surpresa....! Entrem! – Disse Madalena surpreendida por ver o veterinário do seu papagaio ali à sua frente.


Será que Jorge vai ter sorte logo naquela noite? Será que Madalena está livre para amar mesmo, como pensa a amiga Marta? Será que tem outros planos que ainda não partilhou com os amigos?

O RodrigoGomes continua a história!


EPISÓDIO 8 - Rodrigo Gomes

Quando Jorge deu de caras com Madalena, a surpresa e os nervos somados à inaptidão natural para saber lidar com as suas emoções no que diz respeito às mulheres, criaram um cocktail de tragédia que fizeram com que o Jorge tivesse a pior reação possível. Jorge olhou para Madalena, que o recebera tão efusivamente, franziu um olho, apontou para ela e disse:

- Eu conheço-a… já lá esteve na clínica veterinária, não foi?

Madalena, tratando-o por tu, retorquiu:

- Sim! Estive lá na tua clínica com o Jacob, o papagaio mal educado.

Jorge, escavando ainda mais o buraco onde se estava a meter, disse:

- Ah pois foi! É que passa por lá tanta gente que uma pessoa às vezes nem sabe de onde conhece as pessoas…

Madalena, que tinha ficado com as risadas que deu no veterinário, em loop, na cabeça e sentia que talvez Jorge lhe tivesse achado graça, gelou por dentro. Afinal, ela teria sido só mais uma das clientes a quem o veterinário lançou charme.

A irmã Luísa percebeu imediatamente que o seu irmão estava a ser um idiota e tentou desembaraçar o novelo de arame farpado em que se tinha tornado aquele momento. Rapidamente, puxou do saco do pão Eric Kaiser, que o Jorge trazia debaixo do braço e que tinha comprado para levar de propósito para o jantar, e disse:

- Anda, vamos dar o pão à Marta e ajudar a servir as entradas.

A verdade é que Madalena achara mesmo graça a Jorge e ela própria andara a fazer a sua pesquisa na internet para saber mais sobre o veterinário do seu papagaio. Encontrá-lo ali em casa de Marta de surpresa foi, num segundo, um sinal cósmico do universo e, no outro segundo, um balde de água fria por causa da reação infantil de Jorge.

Quando já estavam servidos os copos de vinho e enquanto todos ouviam e riam com as novidades da amiga recém chegada de Los Angeles, Madalena ia deitando um olho a Jorge e percebia que este nunca olhava para ela.

Na cabeça de Madalena, Jorge estava-se nas tintas e pura e simplesmente ignorava a sua existência. Na cabeça de Jorge, tratava-se de evitar o olhar para não se mostrar demasiado interessado. Ele queria, mas o medo e a vergonha não o deixavam. Foi neste momento que Madalena sentiu que não queria continuar a ser ignorada e, quase inconscientemente, começou a querer chamar a atenção de Jorge. Como é que a Madalena chamou a atenção de Jorge? Como qualquer ser adulto maduro e lúcido faz. Tentou usar a arma do ciúme. Interrompeu a amiga Marta e perguntou-lhe:

- E daquela vez que eu fui ter contigo a Los Angeles… e fomos sair e quando demos por nós estávamos na piscina dos teus vizinhos às 4 horas da manhã?

- Se me lembro? – Respondeu Marta. - Claro que me lembro… só não me lembro onde deixámos a roupa. Acho que os vizinhos a esconderam porque não queriam que nos voltássemos a vestir. - Disse Marta em gargalhadas altas que deixaram o Jorge desconfortável. E Madalena continuou ao ataque:

- O Jacob era o mais porreiro e o mais giro deles! Mandou-me mensagem no Instagram, esta semana, a dizer que mal pudesse viajar para fora dos Estados Unidos vinha a Lisboa conhecer a cidade e matar saudades…

«Jacob!?!?!?» Pensou Jorge. «Queres ver que a Madalena deu o nome ao papagaio inspirando-se no vizinho-giro-com-piscina da Marta, em Los Angeles?»

O Jantar ainda nem tinha começado e Jorge já estava de rastos.


Como vai o tímido Jorge lidar com os ciúmes e conseguir mostrar a Madalena que está interessado nela? E Luísa, a destemida irmã, vai ajudar ou só estragar tudo? Porque terá Jorge desistido da ajuda a sua outra irmã Maria que, entretanto, ainda espera pela atenção de João, o dono do antigo bowling da Bobadela?

A Ana Colaço continua a escrever este livro!



EPISÓDIO 9 - Ana Colaço

Olhou para o copo de vinho tinto, que tinha na mão, levantou-o até à altura dos olhos e reparou que estava quase vazio. «Quase vazio? Mas eu nem bebo?» pensou o Jorge que se lembrou, entretanto, que já não comia há várias horas.

Com a conversa sobre o que se passou em Los Angeles e a raiva que sentia por não conseguir sequer olhar para Madalena, Jorge não reparou que Luísa lhe tinha servido, generosamente, um copo de um bom vinho tinto alentejano.

- Só me apetece fugir daqui! - Disse Jorge um pouco mais alto do que queria e já com as mãos a suar de nervos.

Foi salvo por Marta que, quase por milagre, conseguiu agarrar no copo que já lhe tinha fugido da mão e se preparava para marcar, para sempre, a carpete branca e preta às riscas de que tanto gostava.

- És sempre assim tão desastrado ou só quando vais a jantares que são feitos a pensar em ti? – Perguntou Marta.

- Sou sempre assim. É muito mais fácil lidar com os animais do que com as pessoas mas… espera! Que história é essa do jantar a pensar em mim?

Marta já lhe tinha virado as costas e seguia, agora, a passos largos para a cozinha para tirar o arroz de pato do forno e para cortar às fatias o pão que tinha feito durante a tarde e ainda estava morno. Com o estado de emergência, e a tentativa de partilhar uma boa fotografia de um pão acabado de sair do forno, as pessoas tinham aprendido a fazer massa e a usá-la de modo a terem sempre pão fresco em casa.

Jorge ficou como que paralisado a pensar no que a Marta lhe tinha dito e, quando veio a si, olhou para a mesa e só já havia um lugar vazio, ao lado de Madalena, que estava a fazer precisamente o que ele faz, assim que se senta a uma mesa: mudar os talheres de lugar, porque é canhoto, e a limpar o prato com o guardanapo – uma das suas piores manias.


Jorge tem de se sentar ao lado de Madalena, à mesa. Pelo menos têm uma coisa em comum: são ambos canhotos. Será que isto chega para começar uma relação? O que é que se pode esperar de um veterinário que limpa o prato antes de comer…? 😊 Pode ser uma desilusão para Madalena ou o amor é mais forte do que esta esquisita e indelicada mania?

O Pedro Fernandes está preparadíssimo para continuar o enredo, na segunda-feira!



EPISÓDIO 10 - Pedro Fernandes

Jorge respirou fundo, bebeu de uma vez só o resto de vinho tinto que tinha no copo e avançou em direção à mesa.

- Guardaste este lugar para mim?

- Não. Era para o Jacob. – Respondeu Madalena com um sorriso. Deve ter-se atrasado o voo.

- Ah... sim... o famoso amigo de Los Angeles. – Disse Jorge, enquanto se sentava.

- Não. O famoso papagaio da Estrela.

Jorge tinha ficado tão perturbado pelos ciúmes que o seu primeiro pensamento, quando ouviu o nome Jacob, foi logo parar a Los Angeles.

- É famoso porque toda a gente, que passa na rua, acaba por ouvir um impropério ou outro.

- Os papagaios só repetem o que ouvem. Se calhar devias ter mais cuidado com a língua. – Retorquiu Jorge.

- Obrigado pelo conselho. Tinha dado muito jeito ao antigo dono, seja lá ele quem for. Fui buscar o Jacob à SOS Animal. Fugiu ou foi abandonado, não sei. Encontraram-no com uma asa partida e eu decidi adotá-lo.

- Peço desculpa... não sabia. – Respondeu o Jorge meio atrapalhado. Tinha metido a “pata na poça” outra vez.

- Eu não costumo dizer tantas asneiras. Mas estou a tentar ensinar-lhe umas palavras novas para aumentar o seu léxico.

- Por exemplo?

- Tótó! – Interrompeu a Luísa. - Para cada vez que vir passar o Jorge na Rua.

Risada geral à mesa. Jorge era “cada tiro, cada melro”. Já toda a gente tinha percebido que ali havia faísca mas a Jorge estava a sair-lhe tudo mal.

As gargalhadas ainda não tinham entrado na curva decrescente, quando Madalena interrompeu falando por cima, mais alto.

- NÃO! É Jorge! Agora começou a dizer JORGE! – Disse Madalena, enquanto fazia um olhar sedutor na sua direção.

- Jorge?! – Tentou confirmar Jorge, enquanto engoliu em seco.

- Sim. Jorge. Os papagaios repetem o que ouvem...

Jorge ficou paralisado com esta insinuação descarada de Madalena mas que, subitamente, muda de tom.

- É o gato da vizinha. Ela está sempre a chamá-lo e o Jacob aprendeu o nome.

Nova risada geral à mesa. Madalena estava a gozar o prato com Jorge e toda a gente estava a adorar. Incluindo o próprio Jorge.

Jorge trocou os talheres de lado e limpou o prato com o guardanapo, ao mesmo tempo que olhou para a Madalena e lhe perguntou:

- O que é o jantar hoje?

- O que é que te apetece?

O sorriso cúmplice dos dois é interrompido pela campainha da porta e pelo grito efusivo de Marta:

- JACOB!!


Será que é mesmo Jacob que chegou inesperadamente de Los Angeles? Ou será apenas uma partida da Marta e afinal é só mais uma encomenda que chegou?

A Carolina Camargo é a próxima autora.


EPISÓDIO 11 - Carolina Camargo

Naquele momento, o coração de Jorge parou! Seria mesmo Jacob quem estava à porta?! O mesmo pensava Madalena! E a própria Luísa!

Teria Marta convidado o tal Jacob, sabendo que a ideia daquele jantar era fazer um “caldinho” entre o irmão e Madalena? Marta foi a correr abrir a porta! Parecia ansiosa, mas ao mesmo tempo feliz!

De repente, ali estava ele!

Era Jacob… com um lindo ramo de flores nas mãos. Jorge agarrou no copo de vinho e bebeu o que faltava, apesar de nunca beber vinho. Tal era o seu estado! Madalena, que há instantes tinha falado dele (mais em tom de brincadeira do que outra coisa), ficou incrivelmente aflita com o que Jorge estaria a pensar naquele momento! E, subitamente, o improvável aconteceu!

- Meu amor... finalmente estás aqui! Tive tanta saudades tuas. - Disse Marta!

Enquanto falava, abraçou-o com tanta força que quase esborrachou o ramos de flores que ele trazia!

- Eu também estava cheio de saudades tuas, querida! Não foi fácil conseguir este voo para Lisboa! Mas... aqui estou eu! - Disse Jacob, enquanto lhe dava um leve beijo nos lábios.

- Obrigada pelas flores. - Disse Marta - Ainda bem que chegaste a tempo do jantar! Anda... quero apresentar-te uns amigos! Quer dizer… a Madalena já conheces...

Madalena estava completamente corada com aquela situação! Tudo o que tinha dito sobre Jacob tinha sido para provocar Jorge! Nem lhe passara pela cabeça que ele e a amiga fossem namorados! Então, Marta ao perceber o constrangimento de todos disse:

- Bom, deixem-me explicar! Há pouco, quando falámos no Jacob, achei que poderia ser engraçado fazer esta surpresa!! A verdade é que, depois daquele dia na piscina, saímos mais uma ou duas vezes e estamos juntos desde então! Digamos que foi amor ao primeiro mergulho!

Finalmente uma piada para aliviar a tensão. Todos se riram e Marta começou a servir o arroz de pato!

O jantar acabou por ser divertido!

Jorge, que nunca bebia, estava já com vários copos a mais. Perdeu, naturalmente, a sua habitual timidez e, nas despedidas, encheu-se de coragem e pediu a Madalena o seu número de telefone:

- Espero que me ligues mesmo. - Disse Madalena.

- Ligarei! - Respondeu Jorge com a confiança em alta.

Enquanto isso, na Infante Santo, Maria ouviu o telemóvel apitar! Era uma mensagem do João!


Será que Jorge vai mesmo ligar a Madalena? Hum… é possível que não se lembre de nada no dia seguinte. E, na Infante Santo, em casa, o que dirá a mensagem de João que Maria acabou de receber?

O autor que se segue é o Duarte Pita Negrão!


Episódio 12 - Duarte Pita Negrão

“Extra, extra! Fuga de gás explode com apartamento no bairro alto! Extra, Extra! Não há sobreviventes! Extra, Extra!” Gritou o Ardina, que meti aqui a martelo só para poder dizer que já estavam personagens a mais nesta história e então resolvi matá-las todas.

Agora sim, podemos concentrar-nos no herói da história!

O Ardina é o verdadeiro herói desta história, não és?

“Sou sim senhora!” Respondeu o Ardina, confundindo o autor deste texto com uma mulher, por causa das suas ternas feições e belíssimas pernas.

“Ah, peço desculpa!” Emendou à mão o Ardina. Sorte dele ter sido rápido e humilde na correção de género, esteve quase a bater as botas… este autor é volátil e não está para brincadeiras… mas bom, o autor do texto sente-se magnânimo e então vai promover o Ardina a NINJA!!!

“YES!” Celebrou o Ardina… quer dizer, o ninja!

“Então? Em que é que ficamos?” Perguntou o indefinido.

“Olha, se calhar vais continuar a ser ardina…”

“Hey?! Mas eu quero ser ninja!” Protestou.

“Certo… então és os dois… Ninjardina!”

… portanto… bem-vindos às aventuras do Ninjardina!

FIM!!!

Jorge sorriu, ao acabar de ler o antigo texto por si escrito. Via-se como uma pessoa tão séria, agora, e já se tinha esquecido que, em adolescente, fora bastante disparatado.

Estava de tal modo absorto na leitura que nem não deu por Maria entrar em casa.

- Alguém acordou bem disposto. - Atirou-lhe alegremente.

O tom estridente agrediu-lhe o cérebro.

- Eishhh, é preciso gritar???” – Retorquiu Jorge.

Maria riu e sussurrou:

- Falei normalmente. O teu mal é a ressaca…

E era, mas por algum motivo Jorge sentiu-se ofendido. Na verdade, chamar "ressaca" ao que afligia Jorge parecia muito leve… O pobre Dr. parecia ter levado com uma bigorna na cabeça.

Por si só, o ato de acordar tinha sido bastante doloroso.

Abrira os olhos de sobressalto, desnorteado e sem saber onde estava… Tinha a garganta e a língua tão secas que parecia ter estado a comer areia. Ao olhar à volta, viu as roupas e o sapatos espalhados pelo chão… Ao fundo da cama, um monte de cobertores parecia um ninho para alguma coisa dormir.

As chaves dele, descontraídas, descansavam no parapeito da janela do quarto. Se precisava de uma prova de que tinha chegado a casa com o “xarope máximo", que não precisava, era aquela: as chaves não terem sido deixadas à entrada, como ditavam as manias dele.

- Nunca mais bebo. - Disse com uma voz que nem parecia ser a sua. Para o leitor mais desinformado, “nunca mais bebo” é o enganador slogan de todas as ressacas. Devia trazer uma nota de rodapé a dizer “Só é válido até a ressaca passar.”

Jorge levantou-se a custo e foi à casa de banho beber água, com os olhos raiados, verificou que, no espelho, estava um cavalheiro com péssimo aspeto…

“Cum caraças Jorge, o que é que andaste a fazer ontem, meu velho?” Disse apenas para si. Com o corpo dorido e uma cabeça que parecia ter três vezes o tamanho original, Jorge optou por tomar qualquer coisa para mitigar as dores latejantes.

Ao remexer na gaveta da secretária, à procura de um comprimido, encontrou uma velha pasta onde guardava coisas da adolescência.

Textos que escrevera, desenhos que fizera… uma folha amarelada com o título escrito à mão, “O Ninja Ardina” saltou-lhe à vista. Encheu uma grande caneca com água e sentou-se na mesa de pequeno almoço a ler o texto, foi aí que a irmã Maria o encontrou.

- Não estou de ressaca! - Mentiu com todos os dentes vivos que tinha e também com o dente que tinha sido desvitalizado.

A irmã riu novamente:

- Pois, não senhor! Deve ter sido outro veterinário qualquer que ontem entrou em casa ao tombos e a cantar.

Jorge lembrava-se vagamente disso, mas era tudo muito difuso. Subitamente, de trás das pernas da irmã, espreitou um cão preto e branco, cego de um olho, que, ao ver Jorge, começou a abanar a cauda freneticamente.

- Quem é esse? - Perguntou mais ou menos a adivinhar a resposta…

- Quem é este????? - Ecoou a irmã… - Estavas bonito, estavas… então apanhaste um cão abandonado na rua e trouxeste-o para casa! Só dizias que não fazia sentido seres veterinário e não teres um animal de estimação! Fiz-te o favor de ir dar uma volta com o cão, hoje de manhã, para poderes dormir um bocado…

Jorge ficou em silêncio… ele queria dizer que era mentira, mas lá no fundo, no fundo, ele sabia que tudo aquilo era verdade.

- E agora? – Murmurou Jorge.

- Agora?… Agora parabéns, tens um cão!! Que nome lhe vais dar?

- Ardina. – Respondeu o veterinário.


Jorge tem, agora, um cão e de nada se lembra… E de Madalena, lembrar-se-á? E Maria… que, com grande paciência tratou do irmão ressacado e do cão apanhado na rua, terá notícias do João?

A Teresa Lage é a próxima autora!


Episódio 13 - Teresa Lage

Depois da mensagem que recebeu de João, na noite anterior, Maria acordou outra. Sentia-se como aquelas pessoas que se levantam radiantes, com uma overdose de energia, a abrir as janelas e a dizer “Bom dia, dia!”

Estava tão bem disposta que até se riu quando tropeçou no cão abandonado e meio cego que o irmão, quase em coma alcoólico, trouxera para casa, na noite anterior.

- Anda daí, Ardina. Vou levar-te à rua. Vamos apanhar ar, enquanto o Jorge ressuscita para a vida. Como é que ele ficou neste estado!? Será que a noite correu assim tão mal… ou tão bem?

Na noite anterior, enquanto os irmãos jantavam em casa de Marta, Maria tinha recebido finalmente uma mensagem de João, a sua velha paixão de juventude.

«Olá Maria, estás bem? Gostei muito de falar contigo no Instagram, no outro dia, e tenho uma proposta para te fazer!»

Maria bloqueou ao olhar para a mensagem! Mas, depois, ele continuou a escrever:

«Lembrei-me que és arquiteta e que tinhas ideias super originais, quando estavas naquele atelier, na expo, perto do bowling do meu pai… Será que arranjavas um tempo para mim? Gostava de te pedir ajuda.»

Maria, já recuperada do primeiro choque, só respondeu:

«Claro que arranjo. Diz!»

As mensagens continuaram.

«Estou um bocado à toa porque tinha um espaço de crossfit que, com isto da pandemia (como crossfit não dá para funcionar com take away ahaha) tive de fechar. Apesar de tudo, como tenho um café, neste espaço, decidi apostar nisso e explorar mais a esplanada, em frente ao rio, agora que já podemos sair de casa e toda a gente anda louca para apanhar sol. Gostava muito de te mostrar o meu espaço e de saber a tua opinião sobre o que podia fazer para aquilo ficar mais giro e diferente.»

João não fazia ideia se Maria tem marido ou namorado… mas, depois daquelas mensagens no Instagram, tinha ficado a pensar na miúda com quem, há 20, anos ia à Caparica. Será que ela continuava gira? Nunca mais se tinham visto. Ela tinha ido para o Porto trabalhar, num projeto com o Siza Vieira, e ele tinha ficado a ajudar o pai no bowling… até o espaço fechar. Mas a verdade é que se lembrava ainda daquele namorico de juventude, quando ouvia aquela música dos Silence 4 “I’m so in love with you, I’ll be forever blue” que, na altura, tocava quase em loop na rádio. E se ela ainda gostasse dele? Pensou, durante vários dias, se havia de lhe mandar uma mensagem… E, de repente, arranjou o pretexto do seu café precisar de se renovar.

«Gostas de chá, com tostas de abacate e ovo escalfado?» Continuou a escrever. «Se quiseres eu posso passar, amanhã às 11h, na Infante Santo e tomamos um brunch no meu Fit & Sweet, conversamos um bocadinho e dizes-me se tenho hipótese… se o meu café tem futuro?»

“Fit & Sweet?” Maria pensou que a primeira sugestão que lhe daria seria mudar o nome do Café… Mas se ele lhe estava a pedir a opinião era porque achava que ela lhe podia dar ideias melhores.

Nem queria acreditar que ia voltar a ver a sua paixão de juventude. Ele parecia continuar tão giro… ou estaria a usar algum filtro do instagram? Será que não tinha ninguém? Era demasiado bom para ser verdade….

Queria muito aceitar o convite, mas sem dar muita “bandeira” por isso respondeu:

«Por acaso, este fim de semana, não vou a Santarém ver os meus pais. E sim, se o brunch valer a pena aceito dar o meu parecer sobre o restyling do teu Café.»

«Espero, então, por ti às 11h. Dás-me um toque, como dantes, e eu desço. Ok?»

Em casa, pouco antes das 11h, Jorge, já mais recuperado, saiu finalmente da casa de banho:

- Acho que hoje não vou conseguir almoçar!

- Ainda bem! - Respondeu Maria. - Porque a Luísa está a dormir e eu vou sair.

Jorge, ainda preocupado com a figura que tinha feito na noite anterior à frente de Madalena, nem reparou que a irmã se tinha produzido mais do que o habitual para sair àquela hora.

Maria, que também não queria revelar muito sobre o seu encontro lá em casa, para não criar falsas expectativas, aproveitando o estado ainda meio anestesiado do irmão, saiu sorrateiramente e decidiu esperar por João, à porta do prédio.

Foi então que, assim que abriu a porta, começou a ver filas de ambulâncias a descerem a rua em direção ao hospital da Cuf e perguntou ao senhor Carlos do Café:

- O que é isto, senhor Carlos?

- Então a menina não sabe? Anda aí outra vez o Covid!


Será que João vai aparecer, às 11h, como combinado, à porta do prédio de Maria? E Jorge, todo confuso, terá coragem para ligar a Madalena? E Luísa, Marta e Jacob onde andam? E o “autor secundário” que se está a meter na história com a explosão no apartamento do Bairro Alto…?

O Paulo Pereira é o próximo autor!




Episódio 14 - Paulo Pereira

Ambulâncias a descer a rua era tudo o que Jorge não precisava nesta altura...

A disposição variava entre o estado vegetativo e o extremamente indisposto e Jorge lembrou-se da altura em que escreveu "As Grandes Aventuras do Ninjardina". Tinha 18 anos e sentido de humor. Outra característica que ele tinha era uma grande capacidade para recuperar de ressacas. Tudo coisas que se tinham evaporado aos 32.

"Estás velho e precisas de comer alguma coisa, se queres chegar aos 33..." pensou.

"Um pampilho" foi a resposta que ecoou na sua cabeça. Embora ele tivesse preferido que a resposta optasse por surgir de forma mais meiga. Como um sussurro, por exemplo.

A caminho do frigorífico, Jorge fez força para se recordar da noite anterior. Ele tinha visto "A Ressaca". Ele sabia tudo o que podia correr mal. Até agora, em vez de um tigre só tinha adotado um cão. E os dentes também estavam todos (incluindo o desvitalizado). Por isso, Jorge queria acreditar que não tinha pedido Madalena em casamento, num bar do Cais do Sodré.

"Agora o que é que eu te dou de comer?" Pensou Jorge, enquanto olhava para o seu novo melhor amigo, o Ardina. "Gostas de Eric Kayser?" Sorriu para dentro.

Estes pensamentos foram interrompidos por um tocar de campainha. O Ardina ladrou. Jorge olhou para o relógio. 11h30.

"Quem será?" Interrogou-se.

Ainda de pijama, Jorge arrastou-se até à porta e espreitou pelo olho mágico, vulgo buraquinho. O que viu fê-lo suster a respiração. Era Madalena.

Nervoso e agitado, Jorge interrogava-se como é que Madalena conseguiu a sua morada. A noite teria corrido assim tão bem?

Depois de passar as mãos pelo cabelo, um clássico da literatura que não resolve nada, Jorge abriu a porta e soltou um tímido:

- Tudo bem?

Madalena baixou-se, furou Jorge com o olhar, focou toda a sua atenção no Ardina e exclamou:

- "Viking!"

O pensamento de Jorge foi "Ok, se calhar, fomos mesmo ao Cais do Sodré..."

Era meio-dia e Maria continuava à espera de João. As mensagens sucederam-se, sempre com a mesma resposta: silêncio.

De repente, o telefone de Maria tocou. Era o João! Maria atendeu.

- "Estou?"

Mas a voz que ouviu não correspondeu àquela que tinha na sua memória.

- Boa tarde. O meu nome é Ana. Eu sou a namorada do João.


Como é que Ana liga a Maria, através do telefone do seu namorado João, se entre Maria e João só houve troca de mensagens pelo Instagram? Como é que João… ou Ana… conseguiram o número de Maria?

E, afinal, o que se terá passado, naquela noite, entre Jorge e Madalena? Jorge de nada se lembra, mas a noite parece ter sido memorável… de uma maneira ou de outra!

A próxima autora é a Susana Palma.


Episódio 15 - Susana Palma

O inesperado acontecia e Maria gelou, ao ouvir aquela voz desconhecida e feminina que lhe confirmava o receio de que João, o seu distanciado amor de juventude, fosse agora, passados vinte anos, casado ou comprometido. Faltou-lhe o ar e o chão. Não sabia o que dizer, por falta de tempo para pensar.

No entanto, a sobrevivência do tão desejado encontro com João sobrepunha-se ao choque inicial e, habituada a tomar decisões rápidas, apesar de tímida, respondeu, de um só fôlego, à voz que se lhe apresentava, do outro lado:

- Muito bem, Ana, “caiu-me a sopa no mel”, porque, neste enredo, faltava uma personagem e tu vens mesmo a calhar. Passas-me o João, por favor? Temos muito que falar.

- Gostava de o poder fazer, Maria, mas não, não posso. É esse o motivo pelo qual estou com o telefone dele. O João encontra-se no Hospital da Cuf. Passou mal a noite e a febre atacou-o, abruptamente, de madrugada. Encontro-me à porta do hospital, na esperança de receber boas notícias, quanto a uma hipotética estabilização do seu estado. Afinal, existem percentagens animadoras em relação à recuperação deste maldito vírus, sobretudo de gente nova.

(“Ora bolas, esta não estava no programa! E agora, há volta a dar à história? Que fazer, neste impasse?!...” - desabafou o narrador consigo próprio. –“Temos de salvar o João! Esta importante personagem não pode desaparecer, até porque estamos a menos de metade da narrativa e há grandes planos para ele concretizar.)

João acordou, abriu levemente os olhos, ainda assombrado por tudo o que se estava a passar, mas permaneceu quieto e em silêncio, apreciando o diálogo sussurrado entre Ana e… Maria?! Que faria Maria no hospital, junto à sua cama??

Se alguma vez tinha imaginado o momento em que voltaria a vê-la, jamais seria este o cenário desejado. Ainda assim, não podia deixar de apreciar. Maria continuava linda, tal como ainda a imaginava com o seu ar tímido e encantador que, em tempos, o tinha feito apaixonar-se por ela. E foi assim, embebido por esse sentimento, que ali ficou, deliciado… e vaidoso!

Ana tentava explicar de que forma tinham chegado ao seu número de telefone. Por seu lado, Maria ainda tentava perceber como teria tudo acontecido! Num momento, vivia uma espera ansiosa e inquietante, à porta de sua casa, no outro estava ali, a conversar com a namorada de João, vinda do nada… Ana.

A conversa de ambas foi interrompida quando, desenfreadamente, entrou no quarto a irmã de João, num choro descontrolado, acompanhada pelo seu namorado. Acercaram-se da cama para tentar saber o seu estado…

- Marta! Tem calma… ele ainda está a dormir – Disse Ana.

- Olá Ana, viemos a correr assim que soubemos… a Marta está em pânico – disse, calmamente, Jacob.


Portanto, Marta (a amiga comum entre Madalena e Luísa) é irmã de João. Marta e o namorado Jacob chegam ao hospital para ver João que tem, junto de si, a namorada Ana e também Maria, a paixão de juventude (a arquiteta, irmã de Jorge e de Luísa).

Quem vai desatar este novelo é o Pedro Simões, o próximo autor.


Episódio 16 - Pedro Simões

Mas como todos sabemos, em época de restrições pós-covid nada disto fazia sentido. De certeza que o leitor já percebeu do que estamos a falar.

Como é que subitamente se juntaram tantas pessoas num hospital, para ver João, numa altura em que os hospitais só estavam a permitir uma visita por pessoa (desde que usasse máscara modelo FFP2)?

Marta, Ana, Jacob e Maria precisavam de uma boa desculpa para se justificarem.

A temível enfermeira Josefa entrou no quarto (com a sua máscara FFP2) para algaliar João e deparou-se com estes quatro visitantes que não estavam previstos.

Josefa gabava-se dos seus 36 anos de experiência na área da saúde e, para ela, todas as regras tinham de ser cumpridas à risca. A única exceção fora o romance com o neurocirurgião Doutor Feliciano, quando se encontravam no mesmo turno e o quarto de recobro estava livre.

- Sou a Enfermeira Josefa e venho algaliar o João! Porque estão 4 pessoas neste quarto? Como chegaram até aqui?

- Como facilmente se percebe somos estudantes de enfermagem e hoje temos a aula prática de algaliação. Passe-me o bisturi! – Retorquiu Ana.

- Ahá! A algaliação não se faz com bisturi! É óbvio que vocês não deviam estar aqui. Vou ter de chamar o segurança para vos retirar. Têm muito que explicar…!

Maria, paixão de juventude de João, teve uma ideia: começou a tossir freneticamente e queixou-se de dores musculares repentinas.

Foi imediatamente internada no quarto ao lado de João, enquanto Marta, Ana e Jacob foram retirados do edifício por quatro seguranças.

Maria e João estavam, agora, paredes-meias, no mesmo hospital…


Marta, Ana e Jacob foram retirados do hospital. Resta saber como conseguiram entrar… João está hospitalizado e Maria foi internada no quarto ao lado… só que não está doente… ou está?

O que vai acontecer a seguir? A próxima autora é a Amélia Silva!


Episódio 17 - Amélia Silva

A verdade é que não sabemos se, por esta altura, Maria, Marta, Jacob e Ana não estariam já infetados. A avaliar pela elevada taxa de contágio do vírus, o simples facto de terem estado em contacto com João, elevava a probabilidade dos mesmos já estarem contagiados.

Entretanto, enquanto toda esta agitação se passava no hospital da CUF, no apartamento da Infante Santo, Jorge olhava, boquiaberto, para Madalena. Estava a ser uma manhã difícil. Lembrava-se, vagamente, de Madalena lhe ter dado o número de telefone, no fim do jantar da véspera. Achava que o tinha memorizado no seu telemóvel, mas atendendo a que já não fazia ideia de como a noite tinha terminado, não era certo. Ainda assim, quase que podia garantir que não lhe tinha dado a morada. Como é que a Madalena tinha descoberto onde ele vivia?

«E Viking? Então acabaram mesmo no bar do Cais do Sodré??? Mas porque é que Madalena estaria a olhar para o Ardina, enquanto falava do bar?» Pensou Jorge.

Consciente do seu ar deplorável, a propósito do qual nada havia a fazer, no momento, Jorge muniu-se do seu sentido prático e fez as apresentações:

- Madalena, apresento-te o Ardina. - Já o Ardina tinha lançado as patas da frente a Madalena enquanto, equilibrado nas de trás, lhe lambia a cara, ao mesmo tempo que abanava, entusiasticamente, a cauda. - E porque é que estás a falar com o Ardina da nossa passagem pelo Cais do Sodré? - Perguntou Jorge.

- Ardina??? – Admirou-se Madalena. – Ainda ontem, à noite, o batizaste de Viking… Falavas das muitas aventuras que escrevias na tua adolescência, algumas em torno destes nórdicos aventureiros, a propósito de estarmos à porta do Viking, no Cais do Sodré, quando apareceu este cão, a deambular, precisamente, à porta do bar. Batizaste-o logo de Viking. Afinal foi à porta do Viking que ele apareceu e ainda disseste que um cão de rua guardava, certamente, muitas histórias de vida e de coragem, à semelhança dos bons selvagens Vikings. E decidiste adotá-lo. Mudaste de ideias quanto ao nome? – Indagou Madalena.

Jorge, cheio de medo que a noite tivesse descambado para coisas piores, disse, timidamente e sem grande convicção, que não e que esquecesse o nome Ardina.

- Não… – Disse. – O cão chama-se Viking.

Aos poucos, e com a dor de cabeça a passar lentamente, graças ao comprimido que tinha descoberto na gaveta onde guardava os seus textos de adolescente, antes de Madalena chegar, percebeu que começava a deslindar-se alguma parte da noite anterior que, ainda assim, continuava muito obscura. A parte do cão estava esclarecida, mas e o resto da noite? Ganhou coragem e perguntou:

- Mas… como é que nós fomos parar a um bar no Cais do Sodré, com tantas medidas de restrições sociais, em público? Nós não nos despedimos no apartamento da Marta?

Madalena fitou-o e comentou:

- Ficaste bem pior do que eu imaginava. Sim, Jorge, nós despedimo-nos no apartamento da Marta mas, embora o jantar tenha sido preparado para ti, pouco ou nada comeste. Mas deste forte na bebida…

«Outra vez a conversa do jantar ter sido preparado para ele. Mas a que propósito?» Cogitou Jorge, sem nunca desconfiar do caldinho preparado pela sua irmã mais nova, Luísa. Mas Madalena não lhe deu tempo para matutar muito no assunto.

- Assim que prometeste que me ligarias, depois de te ter dado o meu telefone, lembras-te disso, não te lembras, Jorge?

- Sim. - Disse ele, de pronto, sem querer que ela divagasse na história. Afinal, o que ele mais queria, para já, era deslindar o enredo da noite anterior.

- Durante as despedidas em que te demoraste com a Marta e com o Jacob, a quem deste um abraço caloroso, como se fosse o teu melhor amigo de infância. – Continuou Madalena. – Começaste a insistir que tínhamos que dar um salto ao Viking, um bar que conhecias no Cais do Sodré. E por mais que te disséssemos que seria altamente improvável conseguirmos entrar, devido às medidas de distanciamento social em vigor, não havia maneira de te demover. Foi então que tomei uma decisão. Olhei para a tua irmã Luísa e disse-lhe que ia contigo.

- Então, fomos os dois juntos para o Cais do Sodré? - Perguntou Jorge, assustado, só de pensar no que viria a seguir.

- Sim. E, embora não tenhamos conseguido entrar, serviram-nos bebidas, à porta, a que tu deste vazão, generosamente. A tua conversa estava muito esquisita, não fazia sentido, até que desataste a rir e a chorar ao mesmo tempo. Estava na hora de te levar para a casa. Foi quando apareceu o Viking e tu o batizaste e adotaste, na hora.

Jorge sentiu o chão fugir-lhe debaixo dos pés. O veterinário de boa reputação, educado no trato com os clientes e cuidadoso no trato com os animais, embebedou-se numa noite que começou num jantar, pelos vistos arranjado para si, à frente duma cliente por quem, ainda por cima, nutria sentimentos especiais e com quem terminou a noite, num bar do Cais do Sodré, a rir e a chorar, com uma conversa que, felizmente, ela não percebeu, e a adotar um cão. Estava tudo perdido! Engoliu em seco (a garganta embora ainda arranhasse, doía-lhe menos). E pensou «sempre houve Cais do Sodré, mas pelo menos não a pedi em casamento… só adotei um cão.»

- Ah… - Disse Jorge, com um ar meio aparvalhado. - Mas como é que me trouxeste a casa? Quer dizer, eu dei-te a morada? - Perguntou.

Ela riu-se e respondeu:

- Qual quê! Tu não dizias coisa com coisa. Lá consegui que desbloqueasses o teu telemóvel e procurei o nome da tua irmã. Vá lá que estava memorizado como Luísa Mana. Foi ela que me deu a morada, para poder chamar um UBER. E foi ela quem abriu a porta, quando te deixei em casa, e ao Viking, já altas horas da noite! - Concluiu Madalena.

Jorge só sabia que, se tivesse um buraco, ali mesmo, se tinha enfiado lá dentro. Mas, como não podia dar parte de fraco e como se não tivessem bastado as atitudes com que se foi enterrando durante o jantar da véspera, perante Madalena, ainda lhe perguntou, no seu ar mais impassível:

- E o que é que estás aqui a fazer? Não fui eu que fiquei de te ligar?

Madalena gelou. Ela que se deu ao trabalho de levá-lo a casa, mal dormiu a pensar nele, levantou-se cedo para ir ver como é que ele estava e eis que, mais uma vez, ele lhe dá um tratamento frio. Mais um murro no estômago. Decididamente, sentiu-se uma idiota. «A perder tempo com um tipo destes…» Pensou, acima de tudo, irritada consigo mesma, por se ter deixado envolver, desta forma, com alguém que não valia a pena.

- Estava preocupada com o Viking. - Respondeu seca e friamente. – O estado em que ficaste ontem não me deu garantias de que o Viking estaria a receber os cuidados necessários… embora acredite que a Luísa saiba cuidar dele. - Emendou a tempo.

Não queria parecer deselegante com a irmã de Jorge, que nada tinha a ver com as indelicadezas dele. – O estado em que te deixei ontem… - Continuou Madalena. - E em que te encontro hoje, deixa muito a desejar, mesmo reconhecendo a tua dedicação a animais. A manhã já vai longa e estou a ver que nem um exame te dignaste a fazer ao Viking. Melhor do que eu, saberás a importância de fazer um exame detalhado a um animal que se recebe em casa, vindo da rua. - Acrescentou.

Jorge ruborizou. De vergonha? De raiva? Provavelmente, das duas. E foi neste ambiente, cada vez mais tenso entre os dois que Luísa, a irmã mais nova de Jorge, que estava por dentro de tudo o que tinha acontecido na noite anterior, os foi encontrar quando, finalmente, saiu do quarto, já pronta para sair, nessa manhã.

Perspicaz e dona dum sexto sentido apuradíssimo compreendeu, de imediato, que o ambiente estava pesado. Como se não bastasse, a figura em que o irmão estava, não ajudava. Luísa percebeu que tinha que fazer alguma coisa e rápido!

Apressou-se a cumprimentar Madalena, à distância, com o cuidado necessário e, a pretexto de ter de sair para ir comprar comida e uns brinquedos para o Viking, convidou-a a descer com ela.

Entretanto, Jorge aproveitava para ir tomar um banho e juntar-se-ia a elas, para um café, quando regressassem da loja de animais.

Quando fez esta sugestão, Luísa ainda não sabia da confusão de ambulâncias que passavam, na rua, a caminho da CUF Infante Santo. Nem tão pouco sabia que, a essa hora, a sua irmã mais velha, Maria, acabara de ser internada, no quarto ao lado do de João, o seu namorado de juventude e que, à conta disso, tinha conseguido afastar a namorada deste, Ana, pelo menos, por agora.

Quanto a Madalena, que ainda tremia de raiva, por dentro, nem se lembrou da confusão que tinha encontrado na rua, quando chegou a casa de Jorge.

Antes de colocar a máscara, para sair, Luísa virou-se para Jorge e, com ar determinado, sussurrou-lhe:

- Vai tomar um banho e mudar de roupa. Eu vou tentar compor a trapalhada que já vi que fizeste. E tenta não piorar a situação quando voltarmos. – Advertiu Luísa.

Madalena voltou a ajeitar a máscara, na cara, que tinha aliviado quando entrou em casa de Jorge, antes de acompanhar Luísa na sua deslocação a uma loja de animais.

E assim, as duas deixaram Jorge a sentir-se o último homem à face da terra, enquanto desabafava com Viking, que abanava a cauda, só de ver o seu novo dono a olhar para ele:

- Pois é, companheiro… – Desabafou Jorge. – Acho que me entendo melhor com bicharada do que com mulheres. O melhor é esquecer a Madalena e as Madalenas que por aí vierem… – E dirigiu-se à casa de banho, sempre com Viking no seu encalço.



O ambiente entre Jorge e Madalena não está famoso… Madalena e Luísa saem à rua para ir comprar comida para o cão Ardina/Viking sem fazerem ideia de que, mesmo ali ao lado, Maria, a irmã mais velha de Jorge e de Luísa, está internada no hospital.

Quem vai deslindar esta bela confusão é o próximo autor, o João Porto!



Episódio 18 - João Porto

Aquele duche quente estava a saber-lhe mesmo bem, pensou Jorge com os seus botões, perdão, com o seu umbigo. Sim, Jorge era de facto um homem muito senhor do seu umbigo e, talvez até, demasiado virado para o seu umbigo. Habituara-se demasiado ao papel de príncipe que as irmãs o haviam feito sentir ao longo de anos. Mas a sensação bem agradável daquele duche, que ele prolongava inadvertidamente, fê-lo sentir-se muito melhor. Já nem lhe doía a cabeça!

Eis que de repente, como que acordando de um sonho, tomou consciência efetiva do que teria andado a fazer na noite anterior. Desde logo, bebeu demais e, também isso, teria a sua leitura, pensou para si mesmo.

E enquanto repetia mais uma chuveirada, continuava mergulhado nos seus pensamentos, tentando perceber aquela estranha sensação de desconforto, e até de alguma agressividade, que sentia quando estava perto de Madalena. Seria por ela lhe fazer sentir aquele arrepio nas costas, fragilizando-o? Ou seria o efeito do magnetismo dela, reforçado pelo sorriso que nunca mais esqueceu desde a primeira vez que a viu?

Entretanto, o Ardina (que, afinal, também era Viking) lá continuava sentado no quadril traseiro, aguardando uma refeição ou, mais que não fosse, umas entradas.

E foi ao sair do chuveiro, perante o olhar fixo do Ardina, que Jorge, de repente, se apercebeu de uma gaffe tremenda: o cão que trouxe para casa, na noite anterior, podia muito bem ter um dono que, provavelmente já estaria aflito à sua procura.

Tinha de passar no consultório para conferir o ‘chip’ do Ardina e consultar o registo nacional de animais domésticos.

No meio de tudo isto, Maria, a irmã mais velha de Jorge, continuava no hospital da CUF-Infante Santo, que nem era longe de sua casa, a aguardar os resultados dos testes e análises feitos. A equipa de serviço no hospital atribuíra-lhe baixa probabilidade no processo em que é suspeita de ter a infeção COVID-19. Mas Jorge ainda não sabia de nada!

Por agora, preocupava-o a sua relação, ou pretensa relação, com Madalena que deveria estar quase a regressar com Luísa a sua irmã mais nova. Porque será que demoravam tanto?

E como reagirá Madalena se o Ardina-Viking tiver um dono e não for um cão abandonado?


Depois daquela turbulenta noite, Jorge tem agora ideias mais claras sobre o que se passou. O que mais lhe importa é perceber se quer mesmo avançar na relação com Madalena. Precisa de voltar a falar a sós com Luísa, a sua irmã conselheira. Mas onde estarão elas que demoram tanto? E o quatro patas? Terá dono? A próxima autora desta história é a Diana Antunes!



Episódio 19 – Diana Antunes

Maria continuava internada no Hospital, no quarto ao lado de João.

Como é que, num curto espaço de tempo, em vez de estar a comer uma tosta de abacate e ovo escalfado, no “Fit & Sweet”, se meteu nesta situação tão amarga!

«Só posso estar tolinha da cabeça!» Pensou.

Claramente, o lugar de Maria não era no quarto ao lado do de João, mas sim na ala psiquiátrica porque só podia estar a sofrer um surto psicótico.

«Afinal, o que é que eu estou a querer com isto?» Questionava-se Maria. «Roubar o namorado acamado e febril de Ana que nem tem forças para falar, saltar 20 anos na nossa relação completamente imaginária e ir diretamente para o “juntos na saúde e na doença…”? O que é que eu estou a fazer num hospital, em plena pandemia?!» Perguntava a si própria.

A temível enfermeira Josefa voltou a entrar no quarto de Ana. Interrompeu os pensamentos e as inquietações de Maria e deu-lhe as novidades:

- Menina Maria, não está infetada pelo vírus. Pode ir para casa e ficar lá. Por favor, nada de sair de casa porque esta situação vai piorar.

Maria sentia-se no lodo, super envergonhada consigo mesma, duvidava que, para si, esta situação fosse piorar ainda mais. Mal ela sabia…


A fazer um profundo exame de consciência, Maria sente-se “no lodo” e mal sabe ela que…

É o António Antunes o próximo autor a desfazer este grumo!


Episódio 20 – António Antunes

Abril passou rápido, à velocidade da luz, entre relâmpagos e raios de sol, leves brisas e cargas de água.

Trinta dias tinham passado e “passado” estava Jorge, pois esta semana ainda não tinha conseguido jantar uma única vez com Madalena.

Já viviam juntos e estavam completamente “in love”. Só que apesar de Jorge chegar a casa cedo, fazer o jantar, em que tentava pôr todo o seu esmero e requinte, e sonhar em namorar até de manhã, Madalena chegava invariavelmente tarde e cansada. Passava o dia a falar e ficava tão esgotada que nem podia com os braços, nem conseguia mexer as mãos.

Madalena era das pessoas mais expressivas que Jorge conhecera. Jorge e toda a gente. A sua expressão facial era impressionante. Ao Jorge dava-lhe vontade de a beijar ininterruptamente, a fazer lembrar as tias que lhe beijavam o rosto desde menino, à média de três a quatro beijinhos por segundo. Tias essas que agora, em tempo de desconfinamento, passavam o serão a fazer máscaras de crochet. Isso, de crochet! Lindas, mas que não serviam para nada.

Madalena andava cheia de trabalho. Era intérprete de língua gestual e ultimamente entre as aulas, as conferências de imprensa da Direção-Geral da Saúde e os telejornais, sentia-se exausta.

Hoje, chegara a casa atónita, com o coração aos saltos e, logo ao entrar em casa, disparou:

- Viste o telejornal?

- Sim vi, estiveste muito bem, não consegui tirar os olhos daquele quadradinho no canto inferior direito.

- Não é nada disso Jorge… a notícia da Mossad. – Lançou Madalena, inquieta.

- Como assim… a Mossad?

- Já vi que estiveste super atento! – Disse Madalena, pegando no comando da televisão. - Vou puxar para trás, senão não vais acreditar em mim!

José Rodrigues dos Santos dava um ênfase absurdo à notícia… também ele era muito expressivo.

«Foi detido um cidadão com passaporte Americano, pertencente à Mossad, os serviços secretos israelitas, de nome JAKOB STERN LEVI, um judeu que se encontrava em Portugal a pretexto de procurar as suas origens, que o próprio diz serem sefarditas da zona de Marvão e Castelo de Vide.

O indivíduo foi abordado pelo SEF, quando se preparava para embarcar de regresso a casa, levando consigo objetos que se julga terem sido desviados no caminho entre o museu judaico de Belmonte e o museu judaico de Lisboa, em Alfama, a abrir brevemente. As peças, de valor incalculável, já estão à guarda do Estado e o sujeito será presente a tribunal ainda esta semana. Jakob Levi contava com a cumplicidade de uma cidadã nacional de nome Marta com quem mantinha um relacionamento amoroso, há já alguns anos.»


Jorge estava boquiaberto com o que acabava de ouvir na televisão!! Então, Jacob, que viera de surpresa de Los Angeles ter com Marta, durante o célebre jantar organizado para aproximar Jorge de Madalena, era da Mossad… e acabara de ser detido por roubo…? E Marta, amiga de Madalena e de Luísa, era cúmplice…?

Que embrulhada que a próxima autora Inês Bento tem de desfazer…



Episódio 21 – Inês Bento

Vamos lá responder à questão que ficou na cabeça do leitor.

Como é que Jorge, um homem tímido, com pouco à vontade para lidar com mulheres, depois daquele desastroso encontro, conseguiu conquistar Madalena?
Simples, não conquistou!

A moderna e perspicaz Madalena rapidamente percebeu o que fazer. Sem problemas em assumir o controlo das situações, sem estar tão pouco à espera que o príncipe encantado chegue um dia, montado num cavalo branco, correndo atrás até ela se render, bastou passar o resto daquele dia (de ressaca) com Jorge para ter compreendido que ele também estava caidinho por ela.

Pensou que se não fosse ela a avançar, nem outra constipação do papagaio Jacob salvaria aquela relação que ainda nem se tinha iniciado.
Contudo, nada fazia prever que, após um mês, estariam a viver juntos.

Só que, também inesperadamente, Luísa, a mais nova, começou a fazer reações alérgicas ao pêlo do Ardina-Viking. Madalena, que tanto já se tinha afeiçoado ao animal, sugeriu a Jorge:
- Sei que podes achar precipitado, mas podem mudar-se, tu e o cão, lá para casa.

E assim foi. O apartamento de Madalena acolheu, a partir daquele dia, o Ardina-Viking e Jorge.

Estavam os três, agora, em frente à televisão e Madalena só pensava como seria possível Marta ter-se deixado envolver em tal situação, ou se teria sido um plano elaborado por ela...
Jorge sentia-se apavorado e questionava-se se Madalena nunca se apercebera de nada. Afinal, Madalena parecia saber e intuir sempre o que se passava na cabeça das pessoas, mesmo antes de elas o verbalizarem.
Estaria Jorge a iniciar uma discussão sem sentido? E Madalena conheceria assim tão bem a amiga?


A desconfiança instalou-se. Serão Marta e Jacob meliantes ou não passa tudo de um mal-entendido? E Madalena saberia algo sobre a amiga Marta? O próximo autor é o Miguel Santos.



Episódio 22 – Miguel Santos

No estabelecimento prisional de Monsanto, em Lisboa, Marta foi visitar Jakob, pela primeira vez.
Depois da habitual revista, feita pelo guarda de serviço, Marta estava, agora, frente a frente com o namorado de longa data.
- Como foste capaz de me esconder o teu passado? – Questionou Marta, desolada. - Porquê eu?
- Estou inocente... Estava no local errado à hora errada... - Respondeu Jacob, de olhos pregados no chão. - A minha mala tinhas cassetes antigas de celebrações da Mossad, em VHS, para eu levar para Los Angeles e converter em DVD e ainda máscaras de proteção anti-covid de última geração, produzidas em Silves no Algarve, não tinha nada de ilegal... já me deixei dessas coisas... – Continuou Jacob. - Aquela não era a minha mala!!! Alguém a trocou!!! – Reagiu, veemente. - Mas o meu amor por ti é verdadeiro! – Disse a Marta, olhando-a olhos nos olhos... Tudo se vai resolver. Esperas por mim ?
- Se não contares tudo… - Exaltou-se Marta. - E entregares os teus companheiros, podes ficar aqui até... até sempre. – Disse ainda, baixando o rosto.
Entretanto em tempos de pós covid, e ainda com restrições de movimentação, Madalena, a amiga de Marta, não fazia visitas ao namorado da amiga mas procurava-a com frequência para dar lhe algum conforto, na casa no Bairro Alto.
Numa dessas visitas, olhou para um cálice de cortiça que se encontrava em cima da lareira.
- Que bonito!!! – Reparou Madalena.
- Foi um presente que ele me deu há dias. – Retorquiu Marta. - Vem, vou arrumar a cozinha. Vem, vamos continuando a falar...
Mas Madalena sentia-se atraída pela peça. Levantou o cálice e notou que se desenroscava do pé. Rodou, rodou mais um pouco e lá de dentro, soltou-se um papel enrolado...
- Marta! Marta! Já viste isto? – Perguntou Madalena, ligeiramente alterada.
- Sim! Foi um presente que o Jakob me deu.
- Não é isso! - Insistia Madalena. - Tem um papel enrolado... e diz “Fábrica da Cortiça - Silves”.
- Podemos entregar isto à polícia… Afinal, ele é inocente. Comprou este presente quanto foi comprar as máscaras. Pode provar a sua inocência.
Num filme americano, o caso estaria resolvido mas, em Portugal, até estar provado que a ida ao Algarve comprar máscaras e um presente de cortiça estão relacionados ainda demora e demora.
Consideremos, então, que Jakob Stern Levi é inocente.
Marta, naquela noite, tinha ainda uma novidade para contar.
- Madalena… estou grávida! - Afirmou Marta. - Ainda não disse ao Jakob... com isto tudo.

Que embrulhada! Um cálice de cortiça da fábrica de Silves, Jacob preso e alegadamente inocente e Marta com uma grande novidade.
A próxima autora a desembrulhar a história é a Jéssica Santos.



Episódio 23 - Jéssica Santos

Com um filho a caminho, o namorado preso e a sua cara e nome estampados nas capas dos jornais e revistas, Marta desesperava. Não era este o cenário que tinha idealizado para a sua vida.

Sabia que iria enfrentar alguns desafios, quando começou a namorar com Jacob. O que poucos sabiam – salvo Marta - era que Jacob tinha antecedentes criminais que não o vinham ajudar agora. Nem o cálice de cortiça o poderia salvar.

Jacob continuava a dizer que era inocente, mas por mais que Marta quisesse acreditar nele, o seu passado criminoso não a deixava. Com a cabeça e o coração a gritarem coisas diferentes, Marta sentia-se perdida. A única certeza que tinha, agora, era que devia contar a Jacob que estava grávida.

Dirigiu-se à prisão, e quando viu o namorado a entrar na sala das visitas, sentiu o corpo a tremer. Não se lembrava de alguma vez ter estado assim tão nervosa. Jacob sentou-se à sua frente e ficou em silêncio. Estiveram assim, a olhar um para o outro, sem trocarem uma única palavra, durante alguns minutos.

- Estou grávida. - Disse Marta, com os olhos a tentarem conter as lágrimas que insistiam em cair. Jacob não teve tempo para reagir. De repente, entraram pela sala de visitas dois polícias:

- Senhora Marta, lamento, mas vai ter de nos acompanhar! - Ordenou um dos agentes, enquanto o outro levava Jacob de volta para a cela.

- A polícia esteve a investigar o seu passado e descobriu que esteve envolvida num esquema de corrupção liderado pelo seu namorado Jacob. Por esta razão, ficará presa preventivamente enquanto estiverem a decorrer as investigações. - Informou o polícia.

Marta não queria acreditar. O passado voltara para assombrá-la. Tudo o que fez foi por amor, mas valerá isso de algo perante a lei? Como é que ia provar que desta vez estava inocente?


Tudo na prisão! A que passado se refere Marta? Então e o resto das personagens da nossa história? Por onde andam? Jorge, Madalena, Luísa, Maria, o cão Ardina-Viking e o papagaio Jacob?

O Sérgio Montinho é o próximo autor e vai contar-nos tudo!



Episódio 24 – Sérgio Montinho

- Pode ir para casa.

Nunca estas palavras soaram tão bem aos ouvidos de João.

- Continue a medicação e todos os cuidados de que falámos. Cuide de si e proteja os outros. - Rematou Dr. Gilberto, o médico que o acompanhou na sua difícil recuperação. Um senhor na ordem dos 60 anos, de voz imponente, porém tranquilizadora, de olhar profundo e visivelmente cansado pelas tantas horas de serviço que o novo surto lhe impunha.

João finalmente teve alta. Nem acreditava que terminara aquela luta sufocante contra o vírus malvado que continuava a assombrar a vida humana.

- Pára. – Disse ele, tocando no braço de Ana, ao passar a porta do hospital. - Sente.

- O quê? – Perguntou Ana.

- A vida… O vento na cara…. Já não me lembrava como era bom. – Respondeu João, olhando em redor, apreciando a vista da cidade como se fosse a sua primeira vez naquela já algo movimentada Av. Infante Santo.

Ana deixou-o desfrutar o momento mas rapidamente o trouxe à razão.

– Não podes estar aqui a apanhar esta corrente de ar. Anda, vamos para o carro.

Mal acabara a frase quando, ao primeiro passo, deram de caras com Maria, que caminhava esbaforida e meio desnorteada. Teve uma manhã complicada no trabalho e, para ajudar, o seu carro avariou ali a menos de um quilómetro de casa! Ninguém merece.

– João?! – Disse numa voz que não disfarçava o contentamento. Num dia que se parecia reger pela 2ª lei de Murphy, aquele encontro inesperado até foi um lufada de ar fresco… pelo menos naqueles dois segundos antes de se aperceber que Ana também estava ali.

- Estás bem? – Disse meio sem jeito.

- Sim, mas ele está muito cansado, temos de ir já para casa. – Respondeu Ana num tom incisivo, como que a marcar posição.

- Já me sinto melhor, obrigado. E tu, como estás? – Respondeu João, deixando Ana nervosa com tanta simpatia.

Maria, sem desviar o olhar que cruzou com João, esboçou um sorriso tímido quando, mal abriu a boca para responder, tocou o seu telefone. Meio atrapalhada, entre desinfetar as mãos e encontrar o telemóvel na mala, lá conseguiu atender. Era Jorge a perguntar se ela tinha comprado o seu tão precioso pão Eric Keiser que não pudera comprar, devido a uma emergência na quinta de um amigo, ali para os lados de Canha.

«O Universo sabe o que faz.» Pensou Maria. Afinal a chamada de Jorge fê-la “voltar à terra”, atenuou aquela magia incontrolável que a ofuscava, ali naquele momento potencialmente confrangedor.

- Gostei de te ver. As melhoras e tudo de bom para vocês. – Disse, assim que desligou o telefone. E imediatamente seguiu o seu caminho, envergonhada e irritada por perceber que o seu coração ainda batia por João. E ainda para mais tinha de tratar do carro avariado e ir buscar o raio do pão para o irmão.

Já no carro, João ligou o rádio, na RFM, como habitualmente, e a música que saía dos altifalantes agarrou-se de imediato a sua mente:

“It’s times like this you learn to live again… It’s times like this you learn to love again”

Nunca estes versos o tinham tocado tanto.

Depois da experiência da Covid, João sentia que a vida lhe tinha dado uma segunda oportunidade e ele queria aproveitá-la. Queria viver. Não queria deixar nada por fazer.

Ana já não agitava o seu coração como antes e, agora, a sua mente não parava de pensar naquele encontro inesperado à saída do hospital.

«Seria um sinal, esta casualidade?» Pensou ele.

Já a chegar a casa, João sentiu-se feliz, sentiu que o mundo estava a favor dele. Finalmente ia para casa, podia matar saudades do seu Faraó, um Jack Russel que adorava apanhar banhos de sol à janela numa posição que lhe valeu o nome, podia dormir na sua cama, podia voltar à sua vida... Mal sabia ele…

- O Senhor pode acompanhar-nos por favor? Está detido. – Ouviu ao colocar o pé fora do carro.

Levantou a cabeça e viu três homens, de aparência vulgar, destacando-se apenas o distintivo de um deles.

- Polícia Judiciária. Terá direito a contactar o seu advogado, quando chegarmos à Central.

João não queria acreditar. Dizia-se inocente, mas até Ana estranhou a hesitação dele ao dizê-lo…

João fora denunciado no caso do futuro cunhado Jacob. Segundo a acusação, este liderara uma espécie de empresa ilegal de cobranças difíceis que fazia alguns serviços para os “clientes” de Jacob.


Será que João e Jacob são mesmo parceiros de crime ou bodes expiatórios de alguém mais poderoso do que eles? Será que Maria e João vão voltar a encontrar-se ou é desta que cada um segue o seu caminho?

Veremos o que tem a dizer a próxima autora Madalena Costa.



Episódio 25 - Madalena Costa

O caos estava instalado, com Jacob, Marta e João a serem detidos por alegados crimes que cometeram.

Depois de se ter livrado daquele maldito vírus, João nunca pensara que estaria, neste momento, a ser levado num carro de polícia para a esquadra mais próxima. Estava longe de imaginar que a empresa ilegal que efetivamente presidia estava a ser indiciada nos negócios de Jacob, uma vez que não fazia ideia de que Jacob se escondia atrás de outro nome.

(Nem o próprio narrador sabia como é que João ia descalçar esta bota, nem como Maria e até Ana iriam reagir quando soubessem...)

Na sua cabeça, João tentava reconstruir tudo aquilo que falou com “Gaspar”, naquela noite. Recuando no tempo, João lembra-se de que tinha acordado com o “Gaspar”, sem sonhar de que estaria a falar com o futuro cunhado Jacob, um ajuste de contas de um dos clientes dele.

O plano passava por cobrar uma dívida que tinha sido feita num contexto de um jogo de poker ilegal. “Gaspar” forneceu as informações importantes e o possível paradeiro do devedor a João, que posteriormente as transmitiu a dois dos seus funcionários. Ao que tudo indicava, a pessoa que um dos clientes de “Gaspar” quereria apanhar encontrava-se dentro de um barco no cais do rio Douro.

À chegada ao local, os “capangas” de João repararam que o barco tinha luz e, por isso, não hesitaram em entrar para encurralar o tal devedor. Ao abrir a porta corrida do barco, que estava tapada com um pano preto, nem eles queriam acreditar no que estava à sua frente: ali, estava montado um autêntico casino ilegal flutuante.

Os funcionários de João tentaram perceber se estavam sozinhos e como não ouviram vozes ou passos começaram a revistar o barco. Dentro de um cofre, escondido atrás de um móvel da cozinha, que conseguiram arrombar graças ao aspeto musculado que tinham e à força que quase era inata, encontraram uns belos maços de nota que rapidamente colocaram numa mala que traziam com eles.

A dívida estaria saldada em breve e aquele “trabalhinho” estaria concluído dali a umas horas.

Aquilo que eles não sonhavam era que o barco estava a ser vigiado por várias câmaras e por uma pessoa, que lá estava dentro escondida.

Apesar de não saber o que iria dizer aos agentes que o interrogassem, João só pensava em Maria, e naquele encontro à saída do hospital. Sinceramente, dava tudo para naquele momento poder contar-lhe tudo sobre o seu passado, esquecer Ana e começar uma vida a dois com Maria, mas a história era muito menos cor de rosa daquilo que ele pintava.


O enredo adensa-se… Jacob também é Gaspar e João, afinal, está metido em “teias” esquisitas. A próxima autora Marta Vales vai desenvolver a trama.