É Dia da Criança e é um dia bonito e importante que celebra as crianças. E todos sabemos que as crianças são o melhor do mundo. Na verdade, já aqui falámos sobre esta falácia das “crianças serem o melhor do mundo”, e acho que podemos concordar que, vá… NÃO sendo o melhor do mundo, são uma coisa que está no mundo e com a qual teremos que lidar. Portanto, proponho que se diga “As crianças são coisas que estão no mundo.” E fica assim.
Eu acho que quando és criança… todos os dias são Dia da Criança…
Não estás a fazer o IRS. Quando muito, estás a ver qual dos teus amigos é que corre mais rápido ou a treinar pontapés no ar e é super fixe.
Por isso, a minha proposta é que o Dia da Criança seja um dia em que os adultos podem comportar-se como crianças!
O que, agora que penso nisso, é péssima ideia. É que já acontece, basta sairmos à noite. Vamos ignorar a proposta.
Crianças são fixes. Cansativas para cachimba, verdade, mas ao mesmo tempo muito engraçadas.
As crianças, por não terem filtros, nem estrutura social organizada, fazem e dizem as melhores e mais aleatórias coisas.
O meu filho mais pequenino no outro dia estava a chorar e veio pedir-me para lhe limpar as lágrimas, mas o que ele disse foi “Limpa-me a tristeza!”
Não é incrivelmente poético?
Ao mesmo tempo, são tão aleatórios, acabámos de jantar há uma semana… quer dizer, já jantámos outra vez desde então…
O que eu quero dizer é que não acabámos de jantar há uma semana e depois nunca mais jantámos! Estávamos a acabar de jantar, assim é que está certo… e o meu filho saiu da mesa e, do nada, disse: “Atenção, Radar Adiante!”
Completamente ao calhas! Estávamos em casa… e em casa não há radares. Mas ao mesmo tempo não era incrível que os miúdos tivessem utilidades extra? “Yep, o meu filho tem waze” (sinto que há aqui um mercado, metam o de departamento de R&D a trabalhar nisto).
No outro dia, estava a deitá-los e há sempre ali um bocadinho reforço positivo que faço.
Digo que gosto muito deles. Algo do género de “O pai gosta muito de ti! E gosta muito do mano… e gosta muito da mãe”, e ele vira-se para mim e diz: “E de ti gostas?”
E aquilo apanhou-me em contrapé, e eu fiquei calado uns segundos a processar, e antes de eu responder ele vira-se para o outro lado e diz… “Pois…”
Fiquei como uma crise existencial! Será que eu não gosto de mim. O que é que há para gostar em mim? Uiiii Duarte, afasta-te desse abismo.
Regressando ao tema, outra coisa maravilhosa das crianças é que não percebem bem as idades das pessoas. Os meus filhos achavam que a minha cunhada, pouco mais nova do que eu (tenho 39 anos), não os podia levar à escola, porque só um adulto é que os podia levar à escola e a minha cunhada não era um adulto, obviamente.
Eu perguntei-lhe “Dude… que idade é que achas que a Tia Meg tem?” e ele respondeu “3 anos”. Achei hilariante, mas insisti “E que idade é que achas que o pai tem?” E ele respondeu “8”.
As crianças são incríveis, mas não percebem o tempo.
Que nunca tenham que perceber e possam curtir o Dia da Criança durante muito tempo, mesmo depois de serem crianças.
- Duarte Pita Negrão, 8 Anos -