Vamos falar sobre Manuel Castro Almeida, Ministro Adjunto e da Coesão Territorial de Portugal, e um dos homens do governo no tema dos incêndios, que tem o propósito de resolver problemas pós-incêndios. Perceber o que pode ser feito e como pode ser feito.


Ora bem, o Ministro está, por motivos óbvios na berlinda, mas também está por motivos menos óbvios.

Mais especificamente por isto que aconteceu numa entrevista:


 


O que é que este senhor foi dizer “A mulher fez-lhe a mala para 3 dias?”

Primeiro o Twitter ou o X caiu em cima deste senhor, e as restantes redes seguiram-se, porque, sejamos sinceros, o que a internet mais adora é uma boa frase para encontrar um saco de pancada novo.

“Eishhhh é ministro e foi a mulher que lhe fez a mala?”

“Ui 2024 e tem que ser a mulher a tratar dele”

“Ministro de 66 anos e parece do século passado”

“Não devo ter visto bem… é a mulher que lhe faz a mala?”

Eu confesso que acho uma frase meio descabida tendo em conta o contexto, mas ao mesmo tempo não acho assim tão dramático. No meio de tudo é nisto que nos vamos focar?... Se calhar é. Se calhar temos espaço para tudo.

A minha questão com a crítica a esta frase é: eu não sei qual é a dinâmica.

Numa lógica de boneco de palha (falácia), é bastante risível.

Mas há cenários, e nós não sabemos.

Por exemplo, imagino um cenário em que este senhor, que não deve parar um segundo, especialmente nesta altura, ligue para a mulher e pergunte se o pode ajudar, que ele tem de sair rápido, para ir para Aveiro.

“Pessoa igual com que divido, de forma igualitária, todos as tarefas, podeis ajudar-me e fazer uma mala, pois estou bastante atrapalhado” (ou então só, “Querida estou atrapalhado, consegues ajudar-me e preparar-me uma mala?”)

Claro que também imagino vários outros cenários.

Se calhar ele nunca fez a mala em 66 anos. Fazia a mãe dele e agora faz a mulher… é a combinação entre eles.

Também imagino um cenário em que ele fez a mala e ela chegou lá e achou que estava toda mal feita e a mudou.

“Mas porque é que puseste 10 boxers, Manuel? Tu só vais 3 dias, Manuel!”

“Planeias descuidar-te 3 vezes por dia, Manuel?”

Outro cenário, este talvez mais pessoal, é que o Ministro é um ávido praticante de incompetência selectiva.

Para quem não sabe o que é “incompetência selectiva”, é uma característica muito comum nos homens em que nós, homens, somos talvez propositadamente maus, maus, maus a fazer algumas coisas para não fazermos mais vezes…

“Ahhhh querida, sou mesmo mau a fazer a mala” E então ela faz.

“Ohhhh sou tão mau a cozinhar!”

(“isto também se usa no trabalho, mas pode correr bastante mal”, diz a pessoa que pediu para não ser identificada, mas que vai no quarto emprego em dois anos.)

Por exemplo, no cenário de mala conjunta, eu compreendo que se uma das pessoas for mais picuinhas, seja essa pessoa a fazer a mala, não é?

Ahhh não queres que leve as escovas de dentes dentro dos ténis de corrida?? Então, faz tu a mala!!

A questão fulcral é que, neste caso, não sabemos nada. Quem costuma fazer a mala? Porque é que faz? Faz sempre? Nunca faz? Não sabemos… E temos de saber! Porque é da maior importância para o nosso país. O Povo português merece saber. Esqueçam as medidas tomadas no pós-incendio, foquemos no que interessa.

Falar sobre a dinâmica de casal é sempre interessante, especialmente na esperança que as coisas estejam a evoluir no que achamos ser o sentido da igualdade.

Contudo, transformar “Quem é que faz a mala lá em casa?” num statement de poder, especialmente tendo em conta o quadro geral e o motivo das declarações, fará sentido?

Não sei, vou perguntar à minha mulher.