Halloween vem de "All Hallow Eve", que significa “Véspera de Todos os Santos” - o dia em que a tradição cristã convida a celebrar os santos e mártires, conhecidos ou não.
A esta festa segue-se, a 2 de novembro, o dia dos Fiéis Defuntos ou dia de Finados.
Por volta do século V, a Igreja decidiu dedicar um dia do ano para rezar por todos os mortos, mesmo aqueles que não tinham quem os lembrasse.
Inicialmente assinalado a 1 de novembro, alguns séculos mais tarde, esse dia passou a ser comemorado a 2 de novembro, para não se confundir com a Festa de Todos os Santos.
Mesmo entre os cristãos, as tradições ligadas à véspera e ao dia de Todos os Santos e de Finados são diferentes, embora com semelhanças, de povo para povo.
Por exemplo, os bretões acreditavam que na "noite dos mortos", e durante 48 horas, as almas do purgatório eram libertadas para visitarem as suas antigas casas.
A vigília pelas almas do purgatório tinha de ser feita nesta noite, antes das festas de Todos os Santos e de Finados. Assim, nalguns lares cristãos, na véspera de Todos os Santos, antes de se deitar, a família rezava o salmo De Profundis, deixava a mesa posta com uma toalha lavada e comida e bebida para receber as almas dos familiares já falecidos.
Entretanto, pelas ruas, alguém tocava sinos a recolher para que ninguém se cruzasse com as almas de regresso à terra.
Nesta noite, por exemplo, em Inglaterra e na Irlanda, na Idade Média, havia também o costume de pedir "Soul Cake" (bolo de alma), uma espécie de bolacha de manteiga, para partilhar com as almas dos mortos que, na véspera do dia de Todos os Santos, "erravam pelo mundo”.
Nessa noite, crianças e adultos batiam às portas para pedir o “Soul Cake”, em troca de orações pelos mortos dessa casa.
Acreditava-se que, por cada bolo oferecido, Deus libertava uma alma do purgatório.
Esta tradição manteve-se até ao século passado. Em 2009, Sting recuperou-a incluindo a canção tradicional "Soul Cake", no seu álbum "If on a Winter's Night".
Em Portugal, este “Soul Cake” apareceu também, por exemplo, com o nome de "Pão por Deus".
Em várias regiões do nosso país, no dia de Todos os Santos, era costume as crianças saírem bem cedo à rua, em pequenos grupos, para pedir o “Pão por Deus” de porta em porta, recitando versos e recebendo, em troca, pão, broas, bolos, romãs e frutos secos, nozes, amêndoas, castanhas, ou dinheiro.
Ao fim da manhã, depois de voltarem, com os seus sacos de pano cheios, almoçava-se e ia-se ao cemitério pôr flores nas campas dos familiares já falecidos.
Diz-se que esta tradição ganhou nova força em Lisboa, em 1756, um ano depois do terramoto que destruiu Lisboa, matando milhares de pessoas e deixando a população da cidade ainda mais pobre.
Como a data do terramoto coincidiu com o feriado religioso de 1 de novembro, em que as famílias se reuniam, em Lisboa, o “Pão por Deus” passou a ser também uma ajuda para a refeição das famílias neste dia de festa.
Perpetuando-se no tempo, noutros sítios do país esta tradição ganhou outros nomes.
Na zona de Coimbra, em vez de “Pão por Deus”, na véspera de 1 de novembro, as crianças, com uma caixa de cartão ou uma abóbora vazia, com dois buracos, no lugar dos olhos, pediam "Bolinhos, Bolinhós" (ou Bolinhinhos e Bolinhós) : “Bolinhos, bolinhós, para mim e para vós, para dar aos finados, que estão mortos e enterrados."
Nas décadas de 60 e 70 do séc. XX, estes peditórios da véspera do dia de Todos os Santos foram assumindo formas mais lúdicas, mas com regras importantes: só podiam andar, de porta em porta, a pedir as crianças até aos 10 anos e até ao meio dia. Depois das 12h, em vez de “doçuras” recebiam um raspanete.