Esta é uma história de luta, esperança, coragem, união e esforço. Não só por parte da família do bebé Neves, mas também dos profissionais de saúde do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, que acompanharam todos os altos e baixos deste caso. Tudo está bem, quando acaba bem e esta história teve um final feliz.
Elisângela e Adalberto souberam que iam ser pais pela segunda vez em abril, quando o país já se encontrava confinado por causa da pandemia. O casal estava longe de imaginar que iam viver de tão perto a realidade do coronavírus.
Adalberto recebeu uma chamada de um amigo, que se encontrava doente há alguns dias, a pedir-lhe se podia ir à farmácia comprar medicamentos, segundo conta ao Observador. E assim foi. Entrou em casa do amigo para os entregar e não colocou a máscara.
Elisângela pressentiu de imediato que isso não tinha sido uma boa ideia, porque o amigo de Adalberto já andava com febre – um dos sintomas da Covid-19 - há alguns dias.
Passados três dias, Adalberto começou a ter febre e pediu ao amigo para ir fazer um teste, que acabou por dar positivo. A partir daqui, aconteceu o esperado.
Adalberto estava infetado e a sua companheira também. Apesar de Elisângela ter apenas 31 anos, ser saudável e sem fatores de risco, a sua situação agravou-se num curto espaço tempo. Começou por ter febre, dores no corpo e, uns dias depois, uma tosse persistente e dores no peito.
Chegou ao hospital Beatriz Ângelo, em Loures, com o nível de oxigénio no sangue muito baixo. Lá, por falta de vagas, transferiram-na para o Santa Maria, onde deu entrada ligada a um ventilador. Ficou em coma nos Cuidados Intensivos.
Passados uns dias, o ventilador não chegou e teve de ser ligada a um aparelho de ECMO, que faz circular quatro a seis litros de sangue por minuto fora do corpo, substituindo assim a tarefa dos pulmões danificados.
Adalberto não podia visitar a mulher e tudo o que sabia era através de chamadas que fazia para o hospital. Agarrou-se à fé para continuar a cuidar do filho mais velho e acreditar que a mulher e o bebé iam ficar bem.
Toda a equipa do hospital estava preparada para o pior. Cada dia era um dia diferente. Todos os enfermeiros e médicos se desdobravam em cuidados e iam acompanhando o estado da mãe e do bebé até que chegou o dia em que não podiam deixar evoluir mais a gravidez.
Dia da Cesariana
Contra todas as expetativas, a cesariana correu bem. Elisângela chegou a ter uma hemorragia, aquela que os médicos mais temiam, mas conseguiram estancá-la.
No primeiro minuto de vida, o bebé foi entubado e ligado a um ventilador. Depois de estabilizado, as enfermeiras enviaram as primeiras fotografias do bebé a Adalberto por WhatsApp. A mãe continuava em coma.
O bebé era tratado, pela equipa, por “bebé Neves”, a pedido do pai, que quis esperar que a mulher acordasse do coma – ainda que isso nem sempre fosse certo de acontecer – para escolherem um nome para o filho, que preferiram não revelar ao Observador.
O estado de Elisângela foi evoluindo e a pouco e pouco foi despertando. Dois meses e um dia depois de dar entrada no Santa Maria, ligada a um ventilador, saiu, pelo próprio pé, do hospital com o marido e o filho.
A história do bebé Neves tinha tudo para correr mal.
Quis a vida, a fé de Adalberto, o trabalho dos profissionais de saúde e a luta de Elisângela que o bebé Neves mostrasse aos portugueses que a esperança é a última a morrer.