A Marta Vitorino é uma jovem mulher incrível que tem como mote de vida: Não existe um caminho novo, mas sim uma nova forma de caminhar.

É a própria Marta que deixa aqui a sua história, na 1ª pessoa.



Hoje é dia mundial do rim.

Para muitos é apenas mais um dia igual a tantos outros. Não para mim, e para tantos que aprenderam que um rim pode mudar as nossas vidas mais depressa do que alguma vez imaginamos.

O meu nome é Marta Vitorino e tenho insuficiência renal crónica há quase 4 anos e meio.

Embora tenha nascido cega, isso é algo que não deixo que condicione a minha vida.

Por isso, quando chegou o momento de estudar Ciências da Comunicação em Lisboa, mudei-me para a capital, comecei a viver numa residência, aprendi a andar de transportes públicos, como nunca tinha feito antes, e comecei um curso ainda melhor do que esperava.

Um ano passou, e nada parecia estar a correr mal, até que chegou agosto e, de um momento para o outro, comecei a ficar sem fome, decidi ir ao médico que me disse apenas que estava com excesso de stress devido a todos os projetos em que estava envolvida. Então tomei medicação para comer e segui a minha vida agitada como sempre.

Mas não era tão simples assim. A fome não voltou e eu sentia um cansaço cada vez maior, decidi ignorar e não contar a ninguém o que se passava, dei desculpas para esconder o cansaço, justificações para os quilos que perdia e bebia muitos cafés para me manter acordada, mas eu não estava bem e 3 meses depois não dava mais para esconder.

Fiz análises e foi então que descobri que tinha insuficiência renal crónica.

Os meus rins estavam praticamente parados e a única solução seria a realização de um transplante renal, mas até lá teria que fazer hemodiálise 4 horas, 3 vezes por semana.

Esperei 3 anos e meio até encontrar um rim compatível, 3 anos em que aprendi muito, conheci pessoas muitos diferentes de mim, e tive medo de não conseguir voltar à minha vida de antes.

E a verdade é que não voltei. Passei meses sem ir às aulas, à espera do transplante que não chegou e com medo de não conseguir conciliar tudo.

Até que um dia decidi tentar e voltei para Lisboa. Não vou dizer que foi fácil. Cheguei a ter que fazer hemodiálise de noite para ter tempo de ir às aulas, durante o dia. Mas a vida é feita de escolhas e esta foi talvez das melhores escolhas que fiz na minha vida. Aprendi que a diálise é só parte da nossa vida e não a nossa vida inteira.

Na noite em que me ligaram a dizer que tinham um rim para mim, não hesitei em dizer que sim. Foi um sentimento inexplicável e hoje sei que tive muita sorte. A chamada aconteceu dias depois da pandemia ter chegado ao nosso país, se não fosse naquele momento talvez ainda estivesse à espera.

Hoje, mais do que o meu testemunho gostaria de vos deixar uma mensagem:

Sociedade, não olhem para nós como pessoas incapacitadas quando temos tanto para dar;

Família e amigos, estejam sempre lá, vocês são parte fundamental na nossa caminhada;

Por fim, nós, insuficientes renais, lembremo-nos que a doença é apenas parte da nossa vida e não a nossa vida inteira.

Não desistam, sejam sempre positivos, perseverantes, determinados e acima de tudo felizes.


Marta Vitorino