O aperto de mão tem milhões de anos e há antropólogos que dizem que faz mesmo parte do nosso ADN. Em 2020, foi abruptamente proibido por causa da uma pandemia, que ainda permanece. Agora surge a dúvida: terá este gesto os dias contados?
A antropóloga Ella Al-Shamahi explica, ao
The Guardian, que, através do toque, o ser humano consegue construir uma conexão. E é também por isso que
o aperto de mão simboliza tantas coisas positivas como um acordo, boas-vindas, aceitação, igualdade, afeto.
O aperto de mão é um gesto universal e que está enraizado na sociedade há milhões de anos. Ella Al-Shamahi dá o exemplo de uma história que aconteceu com David Attenborough.
O naturalista britânico foi para a Nova Guiné, em 1957, em busca de uma espécie de pássaros. Durante a sua passagem por aquela ilha foi interpelado por uma tribo e a situação poderia ter tido um final menos feliz.
A tribo enfrentou-o com lanças e facas e David Attenborough conseguiu acalmar os ânimos da forma mais simples possível: estendeu-lhes a mão e disse-lhes “boa tarde”. Um aperto de mão entre o naturalista e aquela tribo foi o suficiente para evitar o pior.
O que nos leva a crer que se uma tribo isolada, que não está a par dos costumes da sociedade, conhece este tipo de gestos, então trata-se de algo antigo. Para provar essa premissa, o antropólogo Irenäus Eibl-Eibesfeldt esteve em contacto com duas tribos - Kukukuku e Woitapmin – que lhe confirmaram que sempre praticaram o aperto de mão.
Mais, a primatologista Cat Hobaiter foi capaz de mostrar que os chimpanzés apertam as mãos e que este gesto está associado a interações sociais positivas.
Hobaiter também descreve uma situação que observou: dois chimpazés a lutar e no fim uniram-se e apertaram as mãos como forma de conciliação. Esta investigação da primatologista permitiu evidenciar a antiguidade deste gesto.
Com base nestas pesquisas, Ella Al-Shamahi acredita que não estamos perante o fim de um gesto tão antigo como o aperto de mão. A interrupção deste gesto trata-se, para a antropóloga, disso mesmo: apenas uma interrupção.
E, segundo diz, se a Covid-19 nos ensinou alguma coisa, é que o toque realmente importa e o nosso impulso para o fazer provavelmente vem das profundezas do nosso DNA.