Fica na antiga Glória do Ribatejo, em Salvaterra de Magos, e hoje é um grande complexo abandonado e devoluto.

Em tempos, a Raret (RAdio RETransmissão) foi um antigo centro retransmissor, instalado em Portugal pelos americanos, e que colocava no ar a rádio Free Europe (Europa Livre), que tinha como objetivo combater o comunismo. Raret funcionou durante quase 50 anos neste local, entre 1951 e 1996, e colocou esta região na rota da Guerra Fria.


A Raret difundiu muitas notícias, programas e músicas que estavam proibidas na Europa do Leste e revolucionou a vida da população de Glória do Ribatejo. E é essa realidade que vai ser transmitida em “Glória”, a primeira série portuguesa da Netflix.

“Glória” é um thriller de espionagem histórico centrado na Raret, em pleno Portugal nos anos 60. A série mostra como Glória, uma pequena aldeia do Ribatejo, se tornou um improvável palco da Guerra Fria, onde as forças americanas e soviéticas lutaram através de perigosas manobras de sabotagem para obter o controlo da Europa.
No centro desta história está João Vidal, um jovem de família com ligações ao Regime Fascista Português, que é recrutado pelo KGB depois de se politizar na Guerra Colonial. João ver-se-á envolvido nas intrincadas teias do jogo da espionagem e, no final de contas, compreenderá que, seja qual for o lado em que esteja, o mundo, principalmente o da espionagem, nunca é a preto e branco.



A Raret chegou a Portugal na década de 50, com um acordo entre os governos de Portugal e dos Estados Unidos para construir uma estação de rádio para emitir propaganda anti-soviética para os países do bloco comunista. De estação de rádio, depressa passou a uma comunidade. Lá, foi construída uma escola, complexo desportivo, piscina, área residencial para funcionários deslocados e até uma maternidade.


A maioria dos portugueses que trabalhava lá não sabia qual era a finalidade do centro transmissor. Eram apenas técnicos e não tinham qualquer ligação política. Os primeiros anos de vida da rádio não foram fáceis. A Raret apanhava com muita facilidade as ondas russas, uma vez que tinham uma enorme potência, e graças a um dos funcionários, o italiano Pasqualino, que conseguia facilmente distinguir a língua russa, o erro era resolvido de imediato.

Na rádio, ouvia-se como era maravilhosa a vida no mundo ocidental, notícias censuradas e leituras proibidas pelos regimes comunistas e a música mais popular era a de Amália Rodrigues.

O objetivo dos americanos era difundir mensagens anti-comunistas para que os países para lá da cortina de ferro se revoltassem, em busca de liberdade. Em 1960, a Raret passou a transmitir programas em 18 línguas para todos os países sob influência da URSS.


Em maio de 1985, a Raret foi alvo de um atentado terrorista reinvidicado por um grupo autodenominado grupo anti-capitalista e antimilitarista. Não houve vítimas, apenas danos materiais, o que levou a que, nesse ano, houvesse um grande investimento na modernização da Rádio Europa Livre.


A rádio estava de vento em popa até que, em 1989, se dá a queda do Muro de Berlim, estabelecendo uma ponte entre os países comunistas e o ocidente.
Assim, a Raret deixou de fazer sentido e, em 1995, passaria a ser totalmente inútil. Em 1996, as instalações da Raret fecharam oficialmente e, dois anos depois, estavam completamente abandonadas, permanecendo assim até hoje.


(Imagens: Instagram)