“Dudas! Temos um pardal dentro de casa!” gritou a minha mulher irrompendo pela casa de banho, enquanto eu estava a dar banho aos meus filhos.

Confesso, que inicialmente achei que era um código, tipo “os abutres estão a sobrevoar a carcaça”. Eu não sei o que isso significa, querida. Eu não falo gangster!

Mas era mesmo um pardal que tinha entrado em nossa casa e não conseguia sair.


Para explicar, eu tenho aquelas redes nas janelas, porque vivo num andar alto e tenho crianças.

Inicialmente achava que era para elas não caírem da janela. Agora, com o passar das birras, já percebi que é para eu não os atirar… ou pelo menos quando os atiro eles voltarem rápido para dentro. Vão só apanhar ar, até lhes faz bem. (Pelo sim, pelo não, vou dizer que isto é um exagero e que eu não faço mesmo isto.)

Estas redes têm entradas pequenas e o pardal deve ter conseguido entrar, mas depois não conseguia sair.

Pus mãos há obra para resolver a situação.

Fechei a porta da cozinha, onde ele estava, e tentei uma muy ancestral técnica com resultados provados. Técnica esta que vi num episódios de Friends e envolvia um panelão e uma tampa para tentar encurralá-lo lá dentro e depois libertá-lo.

Por motivos de eu ser incrivelmente trapalhão (e por isto ser um péssimo plano) não só não resultou como ainda o assustei mais e ele escondeu-se por baixo de um armário, junto ao frigorifico.

Nisto, os meus filhos perceberam que havia um passarinho lá em casa e ficaram felicíssimos, claro.

Perguntaram logo porque é que ele não vinha brincar, e nós explicámos que estava assustado.

Não perceberam porquê, mas tomaram medidas para tornar mais confortável a estadia do pardalito. Preparam água e pão para ele comer.

Uma das formas como as crianças se relacionam com as pessoas à volta deles é mostrando-lhes coisas de que gostam, independentemente de as pessoas as quererem ver, ou não!

Do nada, o Joaquim (3 anos) gritou “Já sei o que o vai fazer feliz!!” E foi buscar um dinossauro gigante que faz imenso barulho.

Na mesma linha de pensamento, o Lourenço (4 anos) foi buscar um carro do lixo da Patrulha Pata que toca a música da Patrulha Pata bastante alto.

Pobre pardal, a cada segundo que passava mais traumatizado ficava.

Seguiu-se o seguinte diálogo:

Joaquim: Ele não gosta da Patrulha Pata?

Lourenço: Provavelmente não conhece.

Naturalmente, o pardal escondeu-se mais e foi para trás do frigorifico.

Depois das crianças irem dormir, decidi fazer nova investida para tentar capturar o passarinho.

Pus uma luva de forno, afastei o frigorifico e lá fui eu, munido de coragem e um espírito de ferro.

Com muito cuidado, consegui agarrá-lo. Ele piou um bocadinho, mas nada de especial, e foi, calmamente, na minha mão. Não vou mentir, estávamos os dois bastante assustados.

Num momento de clareza, decidi não o largar da janela, pois temi que não conseguisse voar e caísse só a pique mesmo de bico no passeio. Portanto, desci no elevador e pousei-o na relva.

Ficou inerte.

Passaram-se segundos que pareceram horas e ele, nada.

Subitamente, abriu um olho, mexeu uma asa, depois a outra…

E, num ápice, começou a voar!

Voou para uma árvore, e depois para outra e depois lá foi ele!

Rumo à Liberdade!

VOA, VOA, VOA!

Foi um momento de grande triunfo e felicidade.

Menos para os meus filhos, porque no dia seguinte quando acordaram, a choradeira por não estar lá o passarinho.

“Mas eu queria ser amigo dele!”

“Ele comeu o pão que deixámos para ele?”

“Foi com quem?”

“Vai voltar?”

Não sei filhote, quem sabe?