Num verão em que a pandemia proibiu ajuntamentos e nos afastou de eventos culturais, dezenas de concertos e festivais de música foram cancelados ou adiados e o setor do entretenimento e cultura foi o que mais sofreu.

A propósito destes tempos difíceis, a RFM falou com Luís Montez, Director da Produtora “Música no Coração” que, apesar de ter visto 5 dos seus festivais serem adiados e a sua faturação reduzida em 80%, não desiste de “voltar à estrada”.



"Quando em Março cancelaram o meu querido festival SXSW (Texas) percebi que vinha aí uma grande tempestade"

- Quantos eventos já tiveste de cancelar ou adiar este ano?

5 Festivais adiados (Galp Beach Party, Sumol Summer fest, Jardins do Marquês, Super Bock Super Rock e Meo Sudoeste ) e 2 concertos adiados de Michael Kiwanuka.

- Qual achas que foi efetivamente o impacto que teve na economia o cancelamento de todos estes festivais e concertos?

Segundo o relatório da APORFEST o impacto na economia foi de cerca de 1,6 Mil Milhões de euros

- No teu caso consegues já avaliar o impacto do prejuízo na tua empresa e nas empresas com que trabalhas?

A faturação reduziu em cerca de 80% ( bilhetes , patrocínios, bebidas e merchandising).

- Como é que se reajusta uma empresa como a Música no Coração a tudo isto?

Estamos já a trabalhar na edições do próximo ano. Começamos por reconfirmar os artistas já anunciados e começamos como normalmente nesta altura a tentar saber que artistas vão estar em tour em 2021 para os trazer no próximo verão aos festivais. Neste momento estamos a preparar o melhor Festival de Fado do Mundo, o Santa Casa ALFAMA ( 2 e 3 de Outubro) e queremos fazer um grande evento na Altice Arena ( 18 e 19 de Dezembro), só com artistas Portugueses da nova geração para darmos trabalho a dezenas de músicos e técnicos que infelizmente nesta altura estão praticamente parados. Temos que seguir em frente.

- Quando é que começaste a perceber que tinhas mesmo de cancelar e adiar os festivais?

Quando em Março cancelaram o meu querido festival SXSW (South by Southwest, Texas) percebi que vinha aí uma grande tempestade que começou logo a cancelar varias tournées pelos EUA e Europa.



"A festa do Avante teve o mérito de provar que é possível assistir a espetáculos em segurança e dessa forma combater o nosso comum inimigo: o medo."

- Teria sido possível fazer algum dos teus festivais como o Avante…. “com lugar marcado, respeitando a lotação definida pela DGS em função das regras de distanciamento físico” etc? e com o público a respeitar as medidas de segurança?

Penso que sim. Tenho duvidas é que fosse rentável. Para aumentar o prejuízo já basta assim. No que diz respeito às regras de lotação da DGS, considero exageradas. Eu ficava no meio termo, entre as regras para as viagens de avião e as atuais regras. Obrigar sempre o uso da máscara (podemos ver e ouvir) e deixar o intervalo de uma cadeira penso que seria mais sensato.

-Seria uma hipótese realizar algum dos teus festivais apenas com músicos portugueses, por exemplo?

Sim. Sinto que os artistas portugueses atraem cada vez mais publico e os meus festivais com campismo vivem muito da experiência e do convívio para além da música.

- Achas que a polémica em torno da realização da festa do Avante (com artigos como o da Associated Press no New York Times) pode ser prejudicial para a imagem de Portugal lá fora?

Portugal tem uma excelente imagem lá fora no que diz respeito à organização de Festivais, e a prova disso são os milhares de estrangeiros que adoram visitar os nossos Festivais de Verão. Não vi esse artigo. A festa do Avante teve o mérito de provar que é possível assistir a espetáculos em segurança e dessa forma combater o nosso comum inimigo: o medo.



"Houve logo problemas com as companhias aéreas e o problema das quarentenas… e houve uns que agradeceram porque os pais não os iam deixar ir"

- Parte do público dos teus festivais também vem do estrangeiro? Como é que reagiu aos adiamentos?

Ninguém ficou feliz, mas compreenderam. Houve logo problemas com as companhias aéreas e o problemas das quarentenas… e houve uns que agradeceram porque os pais não os iam deixar ir.

- E por cá, como é que o público tem reagido?

Têm compreendido e estão ansiosos por saber os cartazes do próximo ano, para voltarem a celebrar a vida e a amizade. As vendas de bilhetes ainda estão muito lentas. Estão todos atentos à evolução da pandemia para decidirem a compra. A expetativa agora está centrada nas vendas/prendas de Natal.

- Lá fora os festivais também foram cancelados e adiados e as digressões dos músicos canceladas. Está a ser complicado reagendar espetáculos para 2021?

A dificuldade tem a ver com as diferentes regras de cada país para a realização de espetáculos. Assim é difícil fazer uma tour. Em 2021 vai haver mais artistas disponíveis. Os que previam fazer tour em 2021 mais os que tiveram que adiar este ano. Espero que os cachets baixem

-Há notícias de músicos como Elton John que declararam falência. Há algum caso complicado relacionado com alguém que tencionavas trazer cá?

Não tive conhecimento de mais nenhum caso, mas é natural que aconteça.

-Os bilhetes adquiridos para este ano funcionam como voucher para 2021. Além disso há vendas novas de bilhetes para espetáculos?

Sim. Mas as vendas novas ainda são reduzidas. Está tudo ainda com medo. Vamos ver…

- Caso as coisas melhorem vamos ter um ano de 2021 com concertos em duplicado. Achas que isso é exequível?

Artistas disponíveis não vão faltar. E a vontade de voltar a festejar com os amigos num concerto ao vivo, é cada vez maior!

-Que espetáculos é que conseguiste "levar avante" desde o início da pandemia?

O concerto do centenário de Amália Rodrigues na sua casa no Brejão e o Festival Santa Casa Alfama.

-Quais são os próximos eventos da Música no Coração a que vamos poder assistir?

Dias 2 e 3 de Outubro o melhor festival de fado do Mundo - o Santa Casa Alfama e dias 18 e 19 de Dezembro na Altice Arena um evento só com dezenas de aristas da Nova musica Portuguesa!