Para Celeste Caeiro, o dia 25 de abril de 1974 seria mais uma quinta-feira de trabalho. Na altura, tinha 40 anos e era empregada de mesa no restaurante Sir, no edifício Franjinhas, na rua Braancamp, junto ao Marquês de Pombal.


Naquele dia, o restaurante comemorava o seu primeiro aniversário e, por isso, tinham sido comprados molhos de cravos para oferecer aos clientes.


Só que Celeste Caeiro nem entrou ao serviço, nessa manhã. Quando chegou ao restaurante, encontrou a porta fechada e recebeu ordens do patrão para ir para casa, pois estava em marcha uma revolução e que podia levar as flores para casa para que não murchassem.


E assim foi.


Celeste Caeiro pegou no molho de cravos e foi para casa. Depois de uma viagem de metro, desceu no Rossio e caminhou até ao Chiado, onde morava.


Na rua do Carmo, cruzou-se com um grupo de soldados em cima de um tanque.
Um dos soldados pediu-lhe um cigarro, mas Celeste Caeiro não tinha, porque não fumava. A única coisa que lhe poderia oferecer era uma das flores do ramo que levava nos braços.

O soldado aceitou a oferta e colocou esse cravo no cano da sua espingarda.

Os colegas replicaram o gesto e, horas mais tarde, as floristas da Baixa empenhavam-se na tarefa de distribuir cravos por todos os soldados, longe de imaginarem que estavam a contribuir com um gesto que ia ficar para sempre na história.




Os cravos são hoje o símbolo do dia 25 de abril, o dia da liberdade, e de uma revolução que ficou também conhecida pela ausência de sangue na sua operação: a revolução dos cravos.


O que seria mais uma quinta-feira na vida de Celeste Caeiro transformou-se num dia de revolução, para a qual contribuiu sem quase se dar conta.

E se o patrão não lhe tivesse dito que podia levar as flores, hoje a história seria outra.


Foi assim há 49 anos.