No Dia Internacional da Mulher, o Café da Manhã da RFM foi dedicado às mulheres. Recebeu mensagens, pensamentos, mimos, parabéns e também recebeu um poema de uma jovem professora.
Leonor Moreira tem 24 anos e dá aulas ao primeiro ano, no Colégio do Sardão, em Vila Nova de Gaia.
O poema é da autoria da própria Leonor e foi declamado pela própria, no Café da Manhã.
As suas palavras, postas e interpretadas pela própria, desencadearam centenas de reações recebidas no WhatsApp da RFM. Foram ainda muitos os pedidos do áudio do seu poema.
É este o poema e também a forma como a Leonor Moreira o interpretou, no Café da Manhã da RFM.
Ser mulher é
Sofrer em silêncio no dia-a-dia
É a caminhada sombria por entre um mundo de… homens,
É ter medo do futuro,
É o sorrir e acenar sempre a concordar
E de preferência, manter o pensamento mudo
Ser mulher é
Não andar de saia curta,
Não usar o decote decotado,
Quer dizer, usa, se queres ouvir um recado,
É não usar o salto demasiado alto,
não ter o cabelo curto e também não o usar amarrado.
Ser mulher é
Ter o corpo perfeito,
Andar sempre a direito,
Não ter a banha de fora
E não penses sequer em mostrar magreza,
Tens de ter curvas, mas poucas, senão não tens beleza,
É andares por esquinas e ruas longas,
Com sorriso posto no rosto
A ouvir o piropo,
É acenar com a cabeça e sentir que aquilo é elogio,
Porque afinal num mundo de homens,
Quem somos nós sem o assobio do homem burro, quer dizer, maduro, que passa numa carrinha branca.
Ser mulher é
Sair à noite sempre acompanhada,
Porque nunca sabes quando podes ser apanhada,
É assumires a tua liberdade,
Mas sempre com limites,
Não pisar a risca,
Porque senão quem se arrisca és tu, mulher.
Ser mulher é
Ser dirigente, ser presidente,
Ser empresária, ser idealista,
Mas nunca estar na lista da igualdade,
Porque afinal trabalhas,
Mas não nasceste com H no género,
Nasceste com fraquezas,
Nasceste com menstruação,
Com transformação
De um corpo, ou de um objeto,
Que um dia será útil para gerar um feto.
Ser mulher é
Ser o que eu quiser,
É mandar calar as vozes dos demais
Sem ter medo dos anormais
Que me fizeram escrever estes versos,
É andar de forma desvairada,
É Fazer dedo do meio
Para todo o piropo que acha que o meu corpo pode ser um recreio,
É ser chamada de louca, deslocada e feia,
Mas num mundo tão duro,
Já basta o anseio com cresci
Para ainda ter de ligar a opiniões que eu não pedi.
Ser mulher é
Ser poeta se eu quiser ser,
Ser médica se for o que me for satisfazer,
Ser bombeira, ser pilota, ser bailarina, ser professora,
Ser mulher é ser o que eu quiser quando eu quiser,
Sem razão e sem justificação.
Ser mulher é ser.