Às vezes, a vida prega-nos uma partida.

Uma pessoa tenta educar bem os filhos. Tenta dar-lhes amor, valores, segurança, ensinar o que é certo e o que é errado.

Depois, um dia, do nada, não sabemos como, não sabemos quando, de repente, as coisas mudam. Um dia acordamos e o nosso pequenino que sempre foi incrível, afinal é… UM CLEPTOMANÍACO de 3 anos.


Tudo começou com pequenas coisas, conta o pai da criança, eu.

“Às vezes, vínhamos da casa de amigos ou familiares e vinha uma peça de lego perdida nos bolsos. Nós não atribuíamos valor. Às vezes tirava-nos a carteira e fugia, rindo selvaticamente, mas, como é uma criança, não atribuíamos valor.

Infelizmente, pouco a pouco, as coisas foram escalando. Começaram a desaparecer moedas, e não sabíamos quem tinha sido.

Quer dizer, se calhar sabíamos, mas não queríamos ver. Chegámos a culpar alguns peluches, “ah foi o urso, ou o panda…” dizia a criança, com os olhos carregados de inocência, e nós, cegos pelo amor, acreditávamos.


“Não fui eu. Foi o teto.” Era uma desculpa comum que nós aceitávamos porque uma pessoa quando gosta por amor, é estúpida que nem uma porta.

A gota de água foi num sábado de manhã - mais precisamente às 10:37, de uma manhã de sábado. O suspeito, chamemos-lhe Ruaquim, para protegermos a identidade dele, foi avistado a fugir de uma farmácia a correr, do alto dos seus 3 anos.

O pai, eu, estava sentado no café ao lado da farmácia, e tudo lhe pareceu em câmara lenta. O Roaquim a correr, a mãe dele em perseguição disparada gritando para o pai, “DUDAS APANHA-O!! ELE ROUBOU UMA ESCOVA DE DENTES!”

E lá vinha ele na minha direção, claramente sem plano, de escova de dentes na mão, rindo como um vilão maléfico. Aqui percebemos que talvez houvesse um problema.

Mas, não acabou aqui. Recentemente, fomos à natação (o Roaquim e eu) e quando estávamos a voltar para casa, olhei pelo retrovisor e o meu filho tinha, na mão dele, um crocodilo encarnado de esponja que não lhe pertencia.

“Isso é da natação?”, perguntei.

“Sim!”, ripostou despreocupado.

“Mas roubaste?”, pressionei sem grande força.

“Sim”, admitiu sem vergonha. Isto deu azo a uma conversa.

Na semana seguinte, levámos o crocodilo de volta, e devolvemos. O Professor Rui foi muito tranquilo e até trocou aquele crocodilo por outro, com melhor aspeto, para o Ruaquim, brincar durante a aula.

Tudo correu bem, e ele estava tão feliz que até deu o nome do professor ao crocodilo emprestado, ficou o Crocodilo Rui.

Final Feliz.

Ou será que foi??

Nesse mesmo dia, quando estávamos a voltar para casa, eu estava a tirar o Roaquim do carro e, na posse dele, estava… o Crocodilo Rui.

UM DRAMA.

O futuro é agora incerto e, à data do fecho desta edição, Ruaquim encontrava-se a cumprir 2 a 3 minutos de castigo.

Atrevemo-nos a acreditar na reabilitação dele? Ou sabemos, no fundo, que seguramente haverá uma próxima vítima.


Ouve aqui todos os episódios no Podcast Dudas de un Hombre.