O mesmo povo que inventou os pastéis de nata, que faz as melhores sardinhas assadas do mundo, que tem o galo de Barcelos, entre tantas outras coisas boas e só nossas, chega atrasado normalmente e estaciona em 2.ª fila.


Também não se pode ter tudo! Somos assim e, embora digamos com alguma facilidade mal de nós próprios, temos um grande orgulho em ser portugueses.


Povo navegador e afoito, dado a coisas simples mas intensas, adora comer bem, ser banhado pelo sol e estar plantado à beira mar.


Isto somos nós, os portugueses!


E há coisas que não encontramos noutros povos.


Em Portugal, acontecem-nos quase sem darmos conta! Fazem parte do nosso ADN e são, na maioria dos casos, difíceis de contrariar, apesar de genuinamente nos esforçarmos bastante nesse sentido.


Aqui ficam alguns dos nossos tiques, tão portugueses!


1. Pontualidade

Não somos pontuais, de uma forma geral. Não conseguimos! É simplesmente superior às nossas forças! O trânsito, a chuva, a VCI e a 2.ª circular, "um assunto que se meteu..." roubam-nos a pontualidade.


2. Estacionar

Não resistimos a não estacionar em 2.ª fila. Pois se não há mais nenhum lugar vago, na 2.ª fila fica bem… é só um bocadinho… também não nos demoramos nada!!


3. Não visitamos os monumentos da nossa própria terra

É pouco habitual visitarmos os monumentos e os museus da nossa terra e da nossa cidade. Temos falta de tempo e dizemos sempre “Tenho de ir… Temos de ir… Depois no Natal, vamos… Deixa lá passar as férias e vamos…” Mais facilmente subimos ao Corcovado, no Rio de Janeiro, do que ao Cristo Rei, em Almada... mas havemos de lá ir!


4. Filas

É comum, nas filas dos self services e take away, irmos ter com alguém que conhecemos e que está um pouco mais à frente... «Podes pedir-me só um café... e um pastel de nata... e uma tosta mista... e já agora um sumo de laranja...?»


5. Piadinhas

É que arranjamos logo, imediatamente, uma sucessão de piadas sobre qualquer coisa da atualidade. Impossível não pôr a criatividade portuguesa ao serviço do “escárnio e maldizer”. Vem-nos da Idade Média e não há nada a fazer. Um chorrilho de piadas e sarcasmo invadem as redes sociais quando há uma gaffe, um deslize, uma fraude, um desfalque, dinheiros mal usados, cenas do futebol e dos políticos!


7. Beijos

Tirando o período da pandemia, em que houve distância, cumprimentamo-nos todos, conhecidos ou não conhecidos, com um beijinho na cara ou mesmo dois. Estender a mão para um “passou-bem” é demasiado "estrangeiro".
Gostamos de dar é beijinhos, à chegada e à partida!

Também dizemos "beijinhos" à despedida, por vezes até repetimos "beijinhos, beijinhos".


8. Então vá...

Dizemos e abusamos do “então vá” antes de dizermos adeus, seguido de uma repetição em contínuo da palavra beijinhos “então vá… beijinhos, beijinhos, beijinhos, beijinhos….”


9. Ao volante, somos "outros"...

Nada a fazer! É assim mesmo! Os condutores enchem-se de uma boa dose de mau feitio ao volante. Antes de entrar no carro e depois de sair dele, são pessoas até bastante tranquilas e zen, em muitos casos. O volante e os pedais “transferem” aquela porção de “vigor” que se impõe ao conduzir! É superior a nós!


10. Mais ou menos…

Nem damos conta, mas é possível que uma boa fatia de portugueses diga a expressão “temos de…” de 15 em 15 minutos. Serve para quase tudo! Temos de nos encontrar… temos de combinar um almoço… temos de ir jantar… temos de cumprir o prazo… temos de entregar o trabalho… Gostamos também muito do “mais ou menos”… Estás bom? Mais ou menos… Gostaste do filme? Mais ou menos... Comeste bem? Mais ou menos... Os teus pais estão bem? Mais ou menos...



11. E temos os Pastéis de Belém

Tudo começou, em Belém, na época em que os mosteiros e os conventos foram fechados, a seguir à revolução liberal de 1820. Nesta altura os monges, as freiras e os trabalhadores das instituições religiosas foram expulsos. Grande parte dos seus rendimentos vinham justamente da venda de doces conventuais.

Então, a grande maioria passou a fazer os doces fora dos mosteiros e dos conventos e a vendê-los particularmente. O mesmo sucedeu com os monges do Mosteiro dos Jerónimos.

Para completar o contexto, convém recordar que, perto deste mosteiro, funcionara, no início do século XIX, uma refinação de cana-de-açúcar e havia um lugar de venda de vários produtos.

Na tentativa de sobreviver, no pós-revolução liberal, alguém do mosteiro dos Jerónimos, entretanto encerrado, terá posto à venda uns pastéis doces nesse lugar de comércio e, depressa, começou a chamar-se ao dito sítio “Pastéis de Belém”.

Na altura, Belém era considerado longe de Lisboa ao ponto de ser por barco que os lisboetas se deslocavam até este local para apreciar o mosteiro e o palácio de Belém e, um pouco mais acima, o Palácio da Ajuda. Rapidamente, se tornou hábito vir de vapor, ao longo da margem do Tejo, até Belém para ver as vistas e comer os pastéis já famosos.

O fabrico dos Pastéis de Belém começou, então, em 1837, com uma receita secreta que se mantém até aos dias de hoje, com origem na mesma receita que veio do mosteiro, trazida por “alguém”. Apenas conhecida pelos mestres pasteleiros, a receita é um segredo bem guardado e os pastéis são confecionados na “Oficina do Segredo”.

Depois, vários pasteleiros e pastelarias tentaram reproduzir a receita e surgiu o pastel de nata ou a nata, um doce tipicamente português que já corre mundo e que quase todos adoramos!



Posto tudo isto, é um viva a Portugal e aos portugueses, neste dia 10 de junho!