Mais de 50 anos depois do fim dos Beatles, há ainda quem diga que a culpa foi da Yoko, a segunda mulher de John Lennon que completa dia 18 de Fevereiro, 90 anos.
Passados 53 anos da separação de John, Paul, George e Ringo, muitos fãs acreditam ainda que foi a artista plástica japonesa com quem John Lennon se casou em março de 1969, a culpada, um ano depois, pelo fim da maior banda da história da música popular. Há até quem lhe chame "a viúva negra"!
Mas será que a culpa foi da Yoko?
Na verdade, ao fim de 8 intensíssimos anos de uma exposição sem precedentes, 13 inovadores álbum de estúdio, de loucas digressões, os Beatles começavam a avançar para caminhos diferentes. George apaixonara-se pela música e religião oriental, Paul apaixonara-se pela norte-americana Linda Eastman, John pela japonesa por Yoko Ono e os novos interesses e novos amores de cada um tinham passado a fazer parte das suas vidas, da sua música e até da suas estéticas.
Claro que o facto de John Lennon começar a trazer a sua nova paixão para as gravações dos discos Beatles e por Yoko não ter problema em opinar sobre assuntos que até então diziam apenas respeito aos 4 músicos, também não ajudou.
A presença da nova mulher de John em estúdio era só mais uma achega para o desgaste que o grupo começava a sentir.
Este último periodo da vida dos Beatles aparece documentado no filme "Let it Be" que Peter Jackson recuperou para o novo documentário "The Beatles:Get Back", uma série de 3 episódios transmitida pelo Disney+ em Novembro de 2021.
No entanto se ajudou a acabar com os Beatles, Yoko Ono ajudou também a salvar a vida de John Lennon e contribuiu, através dele, nos últimos anos de vida do grupo, para a sempre inovadora estética dos Beatles
Quando conheceu John Lennon, em Londres, dia 9 de novembro de 1966, na Indica Gallery, onde preparava uma exposição de arte conceptual, Yoko Ono, 7 anos mais velha do que John, já era uma artista relevante, que teria lugar de destaque na história da arte de vanguarda do século 20 mesmo que nunca tivesse casado com um Beatle.
Claro que não teria sido reconhecida da mesma maneira mas quando
o músico e a artista se cruzaram pela primeira vez, Yoko já tinha trabalhado
com os mais importantes artistas da vanguarda japonesa, conhecia bem John
Cage, Nam June Park, Merce Cunningham e Allan Kaprow e tinha desenvolvido
trabalhos pioneiros da arte conceptual como a performance "Cut
Piece" , o livro "Grapefruit" (onde John e Yoko se inspirariam
para a letra de "Imagine") e realizado vários filmes experimentais.
Foi também graças à influência de Yoko que John Lennon, além de grande compositor, se manteve, mesmo a solo, como um dos artistas mais importantes e revolucionários do século XX.
Foi com o seu apoio e incentivo que Lennon tornou a sua música cada vez mais autobiográfica e se assumiu como militante pela paz. Juntos realizaram happenings de protesto contra a guerra no Vietnam como o "Bed-In for Peace" (Na cama pela paz,) em que ambos permaneceram, durante uma semana, na cama e receberam a comunicação social em pijama, primeiro num quarto de hotel em Amsterdão e depois em Montreal, no Canadá, onde gravaram o hino "Give Peace a Chance".
Foi também com Yoko que John se estreou a solo com uma trilogia de discos experimentais e formou a Plastic Ono Band, banda com que ganharia coragem para voltar aos palcos depois dos Beatles.
Sem Yoko teria sido para John mais difícil lidar com o sucesso, com as drogas. Foi ao seu lado que John Lennon permaneceu… até à sua morte em Nova Iorque, a 8 de Dezembro de 1980 e é a sua segunda mulher quem continua a zelar pela obra do ex Beatle.
Apesar da popularidade (boa e má) que lhe trouxe o facto de ser mulher de um Beatle, Yoko Ono nunca se apagou na sombra de John Lennon e continua ativa até hoje, aos 89 anos, com um trabalho vigoroso e desafiador.
Entre 30 de Maio e 15 de novembro de 2020, o Museu de Serralves exibiu algumas das suas obras mais importantes na magnifica exposição - "Yoko Ono: O Jardim da Aprendizagem da Liberdade"- Uma exposição em que é bem patente a influência estética que a artista japonesa teve na obra de John Lennon e na dos Beatles.