Beijo entre príncipe e Branca de Neve é alvo de críticas por não ter sido consensual

DUAS NORTE-AMERICANAS CRITICAM A CENA DO BEIJO PRESENTE NA HISTÓRIA DA BRANCA DE NEVE

Jéssica Santos
Jéssica Santos
Ana Margarida Oliveira
Ana Margarida Oliveira


A história da Branca de Neve - no original alemão “Schneewittchen” - é um conto de tradição oral que os irmãos Grimm compilaram entre os anos 1817 e 1822 num livro com outros contos de fadas e fábulas chamado "Kinder-und Hausmärchen" ("Contos de Fada para Crianças e Adultos").

A história da Branca de Neve popularizou-se em 1937 na versão filme pelas produções Walt Disney e faz parte da infância de muitas pessoas.
É um conto de fadas, com regras e características próprias da estrutura de um conto e ainda da estrutura de um conto de fadas, onde se evidencia a separação entre o bem e o mal e outras questões ligadas às personagens, ao espaço e ao tempo e ao fim moral, muito próprios, como sabemos, deste tipo de narrativa.

Lembremo-nos também que é um conto muito antigo de tradição oral, compilado apenas mais tarde, no século XIX, que reflete naturalmente as vivências, as experiências e as caraterísticas medievais daquela zona da Europa, recuperado - como outros - na época do Romantismo (movimento literário e artístico com muita expressão na Alemanha, ocupada pelos franceses)

Ler - ou ver em versão filme - um conto destes, aos olhos dos dias de hoje, descontextualizado histórica e literariamente, pode trazer, eventualmente, interpretações e ângulos que não farão sentido.


Foi o que sucedeu com a cena, neste conto de fadas, do beijo que "salva" a Branca de Neve do feitiço da bruxa. Só um verdadeiro beijo de amor tiraria Branca de Neve do seu sono profundo.


Duas norte-americanas, Julie Tremaine e Katie Dowd, criticam esta cena, dizendo que está baseada em ideias antiquadas e que o beijo aconteceu sem o consentimento da Branca de Neve, uma vez que ela estava a dormir.
Por isso, apelam para que o final da atração da Branca de Neve, na Disneyland da Califórnia, em que decorre o dito beijo, e que foi recentemente inaugurada depois de um ano em obras, seja repensado e adaptado ao século XXI.



Julie Tremaine e Katie Dowd referem ainda que não é correta a mensagem que esta cena do beijo passa às crianças: um beijo sem o consentimento de ambas as partes.


As opiniões destas duas norte-americanas fizeram eco e Jim Shull, diretor criativo da Walt Disney, pronunciou-se.


Shull frisa que, apesar de todas as mudanças culturais que ocorrerem ao longo das décadas, a atração é baseada num filme com mais de 80 anos. “É claro que as pessoas podem não gostar da história, mas a equipa criativa fez um trabalho espetacular!”, escreveu no Twitter.


Este tipo de debate está na ordem do dia e a linha que separa este questionar sobre a cultura de cancelamento é muito ténue. Não se deve descontextualizar o que foi feito no passado, mas há quem o queira adaptar ao presente. E isso aplica-se não só a histórias da Disney, como a outros filmes ou até livros. Por exemplo, há quem acuse o livro “Os Maias” de ter uma linguagem racista e de o filme “Grease” ser sexista, racista e homofóbico.




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