A história de Luís Martelo é verdadeiramente inspiradora e traz um grande sentido de esperança.

Quando as circunstâncias da vida o atiraram para a rua, durante três anos, Luís estava longe de imaginar que dali a uns anos estaria a viver em Inglaterra, que seria o terceiro melhor trompetista do mundo e que ainda ia receber uma distinção da rainha Isabel II. Felizmente, a vida deu muitas voltas.


Originário de um lar humilde em Barcoço, na Mealhada, Luís encontrou na melodia do trompete a sua voz, a sua paixão aos 11 anos. Estudou no conservatório, mas não o terminou, e fez parte de bandas militares e filarmónicas.


Foi na banda militar de Queluz que Luís encontrou não apenas música, mas também um mentor notável, Fernando Vidal, que o guiou no mundo da música. No entanto, não era por aí o caminho de Luís. Depois de ter sido recusado em Queluz por falta de vaga, Luís foi para Évora, onde as sombras da noite e os excessos obscureceram a sua vida. Abusos e desvios marcaram esta fase tumultuosa.

O regresso a casa trouxe consigo não apenas memórias dolorosas, mas uma dura realidade: a separação dos pais e a falta de um lar. Luís viu-se nas ruas de Vila Nova de Milfontes, onde a fome e o medo se tornaram os seus companheiros constantes. Vender o trompete foi um duro golpe, mas o último recurso para sobreviver.



Felizmente, Luís Martelo teve a ajuda fundamental dos seus amigos. Graças a eles, conseguiu ir para Inglaterra, onde após uma semana de trabalho conseguiu comprar um novo trompete. O sonho renasceu e foi durante a pandemia da COVID-19 que a verdadeira mudança aconteceu. Luís, movido por um impulso de solidariedade, levou a sua música para as portas dos hospitais e lares, para dar ânimo e conforto, através da sua música, às pessoas que lá estivessem.


O seu grande gesto não passou despercebido e, na altura, a Rainha Isabel II distinguiu Luís Martelo com uma honra incomparável pelo serviço que estava a prestar à comunidade. De sem-abrigo a trompetista de renome mundial, a jornada de Luís é um testemunho de resiliência e mostra como a vida pode começar do zero, seja em que idade for. Nunca nada está perdido, quando já se perdeu tudo.


(Imagens: Youtube)