Vender a íris por criptomoedas, o fenómeno que tem movido milhares de pessoas

De certeza que, numa ida a um centro comercial, já te cruzaste com um fila enorme de pessoas, pronta para vender a íris por criptomoedas

Jéssica Santos
Jéssica Santos


A última vez que foste a um centro comercial reparaste numa fila enorme de pessoas para serem atendidas numa pequena banca, com duas esferas grandes para onde as pessoas olham, como se estivessem a espreitar uma paisagem através de uns binóculos?


Trata-se da Worldcoin, um novo fenómeno que está a mover milhares de pessoas, sobretudo jovens. Em que consiste? A venda de dados biométricos, mais precisamente a leitura da íris, em troca de criptomoedas. Do criador do ChatGPT, a Worldcoin tem atraído a atenção de muitos, mas não está isenta de riscos.


A Worldcoin oferece 10 tokens WLD, equivalentes a cerca de 70 euros, pela leitura da íris, um processo que a empresa afirma ser rápido e sem complicações. As histórias de quem passou pelo processo revelam um retorno surpreendente, com alguns a receberem mais do que o prometido inicialmente.


Clientes relatam uma experiência descomplicada, apenas fornecendo o número de telefone na aplicação, sem a necessidade de um registo extenso. A rapidez da transação, aliada ao aumento de valor da criptomoeda Worldcoin, que subiu mais de 200% no último mês, explica a crescente procura entre os jovens, que agora fazem fila nos centros comerciais para participar nesta fonte de "dinheiro fácil".
Muitos não sabem bem do que se trata, apenas se mostram interessados no dinheiro fácil. "Não faço ideia, mas uns amigos disseram-me que se instalasse uma aplicação e viesse aqui podia receber muitas moedas. É uma ajuda, porque tenho uma bebé e não estou a trabalhar", diz uma jovem guineense, de 22 anos, ao Expresso.



A empresa assegura que a leitura da íris é feita na hora e no local, utilizando uma tecnologia chamada Orb para criar um "passaporte digital". Porém, há preocupações crescentes sobre a segurança e privacidade dos dados. O processo envolve a conversão da íris num código numérico cifrado conhecido como "WorldID", que, segundo a Worldcoin, visa garantir a singularidade de cada utilizador.


Antigos locais pouco movimentados agora são pontos de encontro para jovens em busca de "dinheiro fácil" oferecido pela empresa. Espalhada por 16 pontos em Portugal, a loja original, no Ubbo, Amadora, afirma receber entre duas e três mil pessoas por dia, totalizando 300 mil inscritos em todo o país, revela a gerente do espaço ao Jornal de Negócios. A atração, especialmente para jovens sem rendimento próprio, levanta questões sobre a proteção de dados, especialmente no caso de menores de 13 anos, que requerem consentimento dos representantes legais.


Apesar das garantias da Worldcoin de segurança e privacidade, há quem se mostre muito cético quanto a este novo fenómeno. Isto porque a íris possui muitos dados que permitem distinguir um ser humano entre mil milhões. A possibilidade de roubo de identidade torna-se uma preocupação significativa, especialmente se a autenticação por íris se tornar mais comum no futuro, equiparando-se ao ADN e às impressões digitais na biometria.


A Comissão Nacional de Proteção de Dados já iniciou uma "averiguação" sobre a prática da Worldcoin, enquanto órgãos reguladores, em França e no Reino Unido, estão a investigar a iniciativa. A falta de segurança e privacidade dos dados biométricos continua a ser uma preocupação central, e especialistas alertam que os participantes podem não compreender totalmente os riscos envolvidos.

A venda da íris por criptomoedas pode representar uma oportunidade para alguns, mas as incertezas sobre o futuro e a segurança dos dados requerem a necessidade de uma reflexão cuidadosa antes de embarcar neste fenómeno aparentemente lucrativo.




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